Sondagem. Portugueses dão nota positiva à task-force e continuam confiantes nas vacinas

por Andreia Martins (texto), Sara Piteira (gráficos) - RTP
Neste inquérito, os portugueses avaliam de forma positiva os principais atores e entidades envolvidos no combate à pandemia. Uma larga maioria de inquiridos está disposta a ser vacinada e admite até que a inoculação possa ser obrigatória em Portugal. Rodrigo Lobo - RTP

A mais recente sondagem da Universidade Católica para a RTP sobre a resposta à pandemia revela que os portugueses continuam a fazer uma avaliação positiva dos principais atores e entidades envolvidos no combate à Covid-19. Neste inquérito, os participantes foram inquiridos pela primeira vez sobre a prestação da task-force de vacinação e do coordenador, vice-almirante Gouveia e Melo, que obtêm os melhores resultados entre os vários protagonistas. Na sondagem revelada por ocasião do debate do Estado da Nação, que se realiza na próxima quarta-feira, destacam-se ainda os elevados níveis de adesão às vacinas, mas também o grande impacto da pandemia na vida social, laboral e educacional dos portugueses.

Pela primeira vez, a sondagem da Universidade Católica inquiriu os portugueses sobre a atuação da task-force de vacinação e do respetivo coordenador, vice-almirante Gouveia e Melo, sendo a avaliação claramente positiva.

O inquérito realizou-se entre os dias 9 e 15 de julho, semana em que o processo de vacinação acelerou de forma significativa e em que se registaram vários percalços e atrasos ao nível da vacinação. Mas nem isso abalou a confiança dos inquiridos: 44 por cento consideram que a atuação da task-force tem sido “Boa” e 32 por cento dão nota máxima, considerando que a atuação tem sido “Muito Boa”.

Ainda mais positiva é a avaliação do vice-almirante Gouveia e Melo, coordenador da task-force: 40 por cento classificam a atuação do responsável como “Muito Boa” e 29 por cento consideram que a prestação do responsável é “Boa”.


Em relação aos restantes atores políticos e entidades, os dados mostram a evolução da perceção dos portugueses ao longo do último ano, desde julho de 2020. Os números permitem identificar um ligeiro desgaste das principais figuras políticas e protagonistas no combate à pandemia em Portugal, ainda que a avaliação continue a ser globalmente favorável.

Por exemplo, o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, continua a merecer avaliação positiva dos portugueses, mas de forma menos expressiva.

Grande parte dos inquiridos classifica como “Boa” ou “Razoável” a atuação do chefe de Estado, algo que se tem mantido nas últimas quatro sondagens. No entanto, são menos os portugueses que atualmente veem a sua atuação como “Muito Boa”.


Já o primeiro-ministro viu piorar a sua avaliação ao longo do último ano, com 43 por cento dos inquiridos a classificarem a atuação de António Costa como “Razoável” no último inquérito.

Das quatro sondagens do último ano, é nesta que menor número de portugueses consideram que o chefe de Governo teve uma “Boa” atuação (30 por cento). Há ainda 15 por cento que classifica como “Má” a atuação do primeiro-ministro.


A avaliação da atuação da ministra da Saúde não tem sido muito diferente em relação às sondagens anteriores realizadas ao longo do último ano. Desde julho de 2020, os números têm-se mantido praticamente os mesmos: 39 por cento diz que a atuação de Marta Temido tem sido "Razoável" e 34 por cento diz que a prestação da governante tem sido “Boa”, muito em linha com os resultados obtidos no último inquérito disponível, realizado em maio.

No entanto, mais portugueses classificam como “Má” ou “Muito Má” a atuação da ministra da Saúde (respetivamente, 12 e seis por cento dos inquiridos).


Finalmente em relação à Direção-Geral da Saúde, os resultados também têm sido bastante constantes. A autoridade de saúde merece uma avaliação “Razoável” por parte de 42 por cento dos inquiridos e “Boa” de outros 32 por cento. Um resultado um pouco menos positivo em relação ao mês de maio ou mesmo a julho de 2020.

Por comparação aos inquéritos anteriores, são mais os portugueses que fazem uma avaliação “Má” ou “Muito Má” da DGS, ainda que as respostas predominantes continuem a ser “Razoável” e “Boa”, tal como acontece nas avaliações em relação ao primeiro-ministro e ministra da Saúde.

Portugueses concordam com utilização de máscara

Se a atuação dos políticos e principais entidades teve um certo nível desgaste na avaliação dos portugueses, a perceção sobre a necessidade de uso de máscara e de cuidados sanitários em contexto pandémico parece continuar a ser amplamente compreendida pela sociedade.

Entre os inquiridos, 94 por cento dos portugueses concorda com a manutenção da obrigatoriedade do uso da máscara em espaços fechados e apenas 5 por cento discorda. Na rua, no entanto, apenas 68 por cento dos portugueses diz concordar com o uso da máscara e 30 por cento discorda.

Portugal continua a ser um dos países europeus com regras mais apertadas em relação ao uso da máscara, quando a grande maioria já não obriga a proteção em espaços ao ar livre.

Mesmo com os avanços na vacinação ao longo das últimas semanas, 80 por cento dos portugueses diz que manteve os cuidados de uso de máscara, distanciamento físico e higienização das mãos em relação ao último mês. Houve mesmo 13 por cento dos inquiridos a responder que aumentou as precauções e apenas sete por cento admitiu ter descurado algum destes cuidados.


De notar que o inquérito foi realizado numa semana em que o número de casos e internamentos continuou a registar máximos em relação a meses mais recentes e em que se ficou a saber que a variante Delta, a mais transmissível detetada até ao momento, já tem uma posição preponderante no país.

Talvez esse contexto também ajude a explicar que, perante uma perceção de perigosidade do vírus cada vez menor (por comparação aos números de abril de 2020, um mês depois de ter sido declarada a pandemia), a perceção do vírus como “Muito Perigoso” continua a ser elevada (51 por cento dos inquiridos). 

Aqui é relevante fazer a distinção entre a perceção de perigosidade para o próprio inquirido e para as pessoas em geral. Se 51 por cento considera que o vírus é perigoso para si, 70 por cento dos inquiridos considera que o vírus é perigoso para a saúde das pessoas em geral.

A sondagem da Universidade Católica mostra ainda que não há uma diferença avassaladora entre os grupos etários: em geral, há uma perceção de elevado risco para a população em todas as idades. Em relação ao risco para o próprio, os inquiridos mais novos têm uma menor perceção de risco.
Atitude favorável à vacinação e acesso a cuidados de saúde

O presente inquérito destaca também que os níveis de adesão à vacinação continuam muito elevados em Portugal, e ainda ligeiramente  mais elevados do que em maio. Dos inquiridos, 83 por cento responde que irá receber a vacina assim que for chamado, e apenas oito por cento responde que não vai querer ser vacinado de todo.

Em maio, 82 por cento dos inquiridos mostrava adesão à vacinação e nove por cento respondia que não pretendia ser inoculado. Em dezembro de 2020, mês em que se iniciou o processo de vacinação, apenas 61 por cento dos portugueses aceitava a inoculação sem reservas. Na altura, 19 por cento admitia que tentaria adiar a inoculação por algum tempo e outros 5 por cento pretendiam adiar a vacinação por “muito tempo”.

Nesta sondagem, a atitude favorável face à vacinação é de tal forma expressiva que uma larga maioria da população (72 por cento dos inquiridos) considera que a toma da vacina deveria ser obrigatória. Outros 24 por cento consideram que a inoculação não deveria ser obrigatória em Portugal.

O inquérito da Católica debruça-se ainda nas questões de saúde ou realização de exames durante os meses de pandemia, desde março de 2020. Conclui-se, com as respostas concedidas, que a grande maioria dos portugueses não deixou de procurar ajuda médica devido à situação sanitária.

Em resposta à questão “durante este período de pandemia (desde março de 2020) deixou de ir a algum Centro de Saúde, Clínica ou Hospital por causa deste vírus?”, 65 por cento dos inquiridos respondeu “Não”. No entanto, 19 por cento admitiu que deixou de aceder a estes serviços de saúde “por iniciativa dos serviços” e outros 16 por cento por “iniciativa própria”.

No mesmo sentido, em resposta à questão “durante o último ano, alguma consulta ou exame que deveria ter feito ficou por fazer?”, 67 por cento dos inquiridos respondeu “Não” e outros 33 por cento responderam “Sim”.
Isolamento, trabalho e escola

Esta sondagem da Católica que hoje começamos a dissecar destapa também, de alguma forma, o impacto psicológico e social que estes longos meses de pandemia têm tido na vida dos portugueses. Questionados sobre a facilidade ou dificuldade de determinadas situações, os inquiridos assumem que a experiência da pandemia trouxe grandes desafios.

É sobretudo no afastamento em relação a amigos e família que os portugueses assumem mais dificuldades. Dos inquiridos, 46 por cento assumem que esse afastamento foi “Difícil” e 22 por cento consideram que foi “Muito Difícil”.


Para quem tem filhos ou crianças a cargo, a experiência do ensino à distância foi “Difícil” para 44 por cento dos inquiridos, “Muito Difícil” para 18 por cento e “Fácil” para outros 18 por cento.

Já em relação ao teletrabalho ou ensino à distância (na ótica do estudante), a adaptação dos portugueses parece ter sido mais acessível. Dos inquiridos, 33 por cento admitem que a experiência foi “Difícil”, mas 28 por cento dizem que foi “Fácil”.

Neste campo, 17 por cento referem que não foi “fácil nem difícil”, 11 por cento assumem que foi “Muito Difícil” e seis por cento dizem ter sido “Muito fácil”.

Esta é a primeira parte da sondagem da Católica publicada por ocasião do debate sobre o Estado da Nação, marcado para a próxima quarta-feira no Parlamento. Outros resultados deste inquérito vão ser divulgados pela RTP nos próximos dias.

Ficha Técnica

Este inquérito foi realizado pelo CESOP – Universidade Católica Portuguesa para a RTP entre os dias 9 e 15 de julho de 2021. O universo alvo é composto pelos eleitores residentes em Portugal. Os inquiridos foram selecionados aleatoriamente a partir duma lista de números de telemóvel, também ela gerada de forma aleatória. Todas as entrevistas foram efetuadas por telefone (CATI). Os inquiridos foram informados do objetivo do estudo e demonstraram vontade de participar. Foram obtidos 1202 inquéritos válidos, sendo 46% dos inquiridos mulheres, 29% da região Norte, 19% do Centro, 37% da A.M. de Lisboa, 8% do Alentejo, 3% do Algarve, 2% da Madeira e 2% dos Açores. Todos os resultados obtidos foram depois ponderados de acordo com a distribuição da população por sexo, escalões etários, escolaridade e região com base no recenseamento eleitoral e nas estimativas do INE. A taxa de resposta foi de 34%. A margem de erro máximo associado a uma amostra aleatória de 1202 inquiridos é de 2,8%, com um nível de confiança de 95%.
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