O Dia do Sol, criado no âmbito do Programa da ONU para o Ambiente, visa alertar para os benefícios da estrela e para a sua importância enquanto fonte de energia.Precisamente com um olhar mais atento para esta riqueza natural, a APREN - Associação de Energias Renováveis promoveu na sexta-feira, "Dia do Sol", um debate na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, com a temática “A Produção Solar PV (PhotoVoltaica) em Portugal”.
A iniciativa mostrou e debateu a atual realidade energética nacional, bem como o que podemos fazer futuramente numa área tão fundamental.
Fontes energéticas renováveis
Desde que o engenho humano foi colocado no terreno, várias foram as formas de aproveitamento de fontes renováveis naturais. Exemplos desta fontes são a geotermia, biomassa, o movimento das marés e das ondas, o vento, o Sol e a água.
Entre estas - as mais comuns - encontramos o vento, que ainda hoje serve como forma de locomoção ou força motriz para ventoinhas eólicas. A água que também serviu vários processos mecânicos é atualmente usada como fonte geradora de energia. Por fim o Sol, que com toda a sua potencialidade térmica e luminosa nos capacita de uma fonte quase ilimitada de produção de energia.
"Os países não OCDE são esfomeados de energia. Esses países vão ser dez vezes a população da OCDE e têm consumos muito abaixo e a necessidade de energia vai explodir", refere António Vallêra, professor de engenheira geofísica da FCUL.
Estas fontes garantem ainda uma diminuição de consumo de combustíveis fósseis, como o carvão e o gás natural para gerar eletricidade, evitam a emissão de gases com efeito de estufa e reduzem o preço da energia elétrica no mercado de eletricidade, contribuindo para uma maior sustentabilidade económica e ambiental do país.
Apesar de as fontes renováveis serem cada vez mais uma realidade a nível mundial e nacional, estas ocupam ainda uma pequena parcela no contexto de produção energética, continuando a ser o petróleo a principal matéria-prima consumida.
Segundo dados do relatório World Energy Resources 2016, do World Energy Council, o recurso a energias renováveis, em 2015, ocupava pouco mais de dez por cento dos restantes produtos usados para produção energética.
Apesar de haver uma sensibilidade crescente no uso deste tipo de fontes para a criação de energia, certo é que a necessidade de energia para o desenvolvimento urbano e mundial não dá mostras de recuo.Segundo a APREN, as nossas fontes de produção de
energia renovável produzem em média mais de metade da eletricidade
consumível, mas longe do compromisso assumido perante a Comissão
Europeia, até 2020.
Exemplo disso são países como a China, Estados Unidos e Índia, que lideram a tabela de principais consumidores de petróleo e carvão para produção de energia.
Um problema crescente, ao qual se junta os países em vias de desenvolvimento.
A questão é sensível e premente; do ponto de vista do professor António Vallêra, da Faculdade de Ciências de Lisboa (FCUL), tem de ser constantemente debatida, com vista a encontrar a melhor solução.
A solução, para o professor da FCUL, não passa pela contínua utilização dos combustíveis fósseis como o petróleo, carvão e derivados, recursos classificados como finitos, indiciados como potenciadores de impactos ambientais e climáticos.
Por outro lado, diz António Vallêra, as fontes renováveis de energia são recursos naturais capazes de se regenerarem em curto espaço de tempo e de um modo sustentável.
Renováveis em Portugal
“Portugal podia estar melhor em termos de aproveitamento de energias renováveis”. Esta é a convicção de António Sá da Costa, presidente da Associação de Energias Renováveis (APREN).
Segundo o dirigente da APREN, as atuais fontes de produção de energia renovável produzem em média mais de metade da eletricidade consumível, mas estão ainda longe do compromisso assumido perante a Comissão Europeia, até 2020, que impunha um consumo de 60 por cento da eletricidade a partir de energias renováveis em 2020.
A associação, que representa cerca de 93 por cento das empresas do setor, refere que Portugal deverá chegar a um máximo de 58 por cento da eletricidade produzida a partir de renováveis, perto da meta mas sem a alcançar.
"Nos últimos anos Portugal perdeu a embalagem que trazia, mas no meio de tudo não é mau e somos apontados como um exemplo", diz Sá da Costa.
Sá da Costa exemplifica: "A quantidade de Sol que atinge o nosso país a sul do Tejo era suficiente, se fossem instalados painéis solares em 90 por cento do território, para alimentar a Europa a 28, Suíça e a Noruega".
Um cenário hipotético que dificilmente ou nunca se confirmará. Mas a implementação de sistemas de captação fotovoltaica está em expansão e tem potencial.
O presidente da APREN antevê que até 2030 este tipo de serviço se multiplique por 20, de forma a ter as centrais renováveis a produzir nove mil megawatts de energia solar.
António Sá da Costa acredita que em 2040 as renováveis vão ser o principal financiador de energia na rede elétrica nacional, com uma taxa de ocupação a rondar os 100 por cento e que em muitos casos exceda o consumo.
No entanto, Sá da Costa acredita no aumento do consumo, não apenas pela maior procura global a nível industrial e doméstico, mas também porque acredita na massificação de produtos que podem ter por base o consumo deste tipo de energia, como é o caso da industria automóvel.
Portugal, terra de Sol
Em 2015 a produção de eletricidade a partir de fontes renováveis em Portugal foi responsável por apenas 48 por cento do total da energia elétrica produzida, com registo de uma ligeira diminuição face ao ano anterior.Portugal tem um número médio anual de horas de Sol que varia entre 2200 e 3000, em contraste com a Alemanha, que apenas regista entre 1200 e 1700 horas.
Dentro deste cenário a energia fotovoltaica (energia solar), segundo dados da Rede Elétrica Nacional (REN), Eletricidade dos Açores (EDA) e Empresa de Eletricidade da Madeira (EMM), registou um aumento da potência instalada, permitindo um crescimento da produção energética em 27 por cento, comparativamente a 2014, contribuindo esta para 1,5 por cento da produção total de energia criada em território nacional.
Uma área onde a aposta já teve maior entusiasmo e que apresenta um ligeiro recuo face às outras fontes.
O professor António Vallêra refere que "se usássemos as coberturas dos edifícios com (painéis solares) estaríamos perto do consumo nacional. A área necessária é muito menos do que a área ocupada pelas estradas."
Para o professor da FCUL, Portugal está bem posicionado para usar estas potencialidades naturais, mas as tecnologias, as necessidades e as políticas que temos de seguir ainda estão um aquém do desejado.
A Península Ibérica apresenta, face ao contexto europeu, a maior taxa de concentração e exposição solar anual.
Contudo, este recurso tem sido mal aproveitado para usos tipicamente energéticos.
O que é afinal a energia solar?
A energia solar é o nome dado à radiação proveniente do Sol e é uma das vertentes mais importantes das energias renováveis. O aproveitamento desta fonte de energia traduz-se na iluminação de espaços interiores de edifícios, aquecimento de águas sanitárias ou produção de eletricidade.
A produção de eletricidade de origem solar é possível através de painéis solares fotovoltaicos ou painéis solares térmicos. "Em média, hoje em dia já se consegue que o cliente autoconsuma do seu sistema fotovoltaico a metade ou menos de metade do preço da energia que em determinados períodos do dia poderia comprar da rede", refere a APESF
No primeiro caso, quando a radiação solar incide nas células fotovoltaicas a luz absorvida é convertida em energia elétrica através do efeito fotovoltaico. No segundo caso, usam-se espelhos que concentram a luz solar para aquecer um fluido, gerando vapor que faz rodar as pás de uma turbina, criando um movimento de rotação do eixo do gerador que produz eletricidade.
Em Portugal a disponibilidade do recurso energético é elevada, assim como o potencial de aproveitamento, não apenas devido à localização geográfica do país, mas também porque a produção ocorre principalmente nas horas diurnas de maior consumo de eletricidade.
Tendo em vista o aproveitamento desta potencialidade, algumas empresas juntaram-se e criaram a Associação Portuguesa das Empresas do sector Fotovoltaico (APESF).
Francisco Pinto é o presidente da APESF e explica que estes empresários decidiram apostar na energia solar porque "é uma tecnologia que tem um potencial enorme de crescimento."
O representante da APESF refere ainda que "este tipo de tecnologia não precisa de depender de subsidiação ou de outros de incentivos para se poder desenvolver e ser instalada, além de ter todos os convenientes para a rede elétrica".
Uma das apostas da APESF é a instalação de sistemas fotovoltaicos nos locais onde a energia é consumida, aproveitando todas as potencialidades da boa exposição solar no nosso território e uma maior democratização neste setor.
O sistema, segundo Francisco Pinto, é vantajoso economicamente, quer sirva pequenos ou grandes consumidores, mas é na área comercial que a associação está a investir.
"Em média, hoje em dia, já se consegue que o cliente autoconsuma do seu sistema fotovoltaico a metade ou menos de metade do preço da energia que em determinados períodos do dia poderia comprar da rede."
Sol, um reator nuclear
Mas efetivamente que astro quente e luminoso é este que é fonte de vida e energia? O Sol, classificado na categoria G2V, é o maior reator nuclear num espaço de biliões de quilómetros celestes.
Tem massa 332.900 vezes maior do que a da Terra e um volume 1,3 milhões de vezes maior que o do nosso planeta.
Segundo os cientistas, a cada segundo, no coração do gigante de fogo, são consumidos 600 milhões de toneladas de hidrogénio, à medida que este é transformado em hélio através da fusão nuclear. Um processo que gera temperaturas a rondar os 15 milhões de graus Celsius e uma enorme fonte de radiação.
Apesar de parecer estar lá longe, sossegado, a cerca de 150 milhões de quilómetros da Terra, o Sol é muito irrequieto e turbulento. Fortes erupções solares emanam gigantescas quantidades de energia, que viajam pelo espaço.
O que mais sentimos é a luz e o calor, mas há outras, designadamente as de espectro eletromagnético, que podem afetar diretamente as nossas comunicações: felizmente a natureza ainda nos fornece o escudo eletromagnético da Terra (VanHallen).
Como uma fonte natural de energia, o Sol também é finito e deve durar mais 6,5 biliões de anos.
A estrela que agora nos dá a vida também a vai retirar. O Sol vai expandir-se e consumir os planetas em redor, arrefecendo e acabando por se transformar numa estrela gigante vermelha.
No final da fase de gigante vermelha, o Sol ficará muito instável e perderá praticamente de uma vez só todas as camadas externas. Camadas estas que acabarão por expandir-se pelo espaço, na forma de um dos objetos mais bonitos que podemos observar: uma nebulosa planetária.
A nebulosa será muito brilhante, porque será iluminada pela parte que restou do interior do Sol - muito quente - quase que testemunhando que "aqui a vida teve lugar".