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Soares aponta caso político ao visitar Sócrates na prisão de Évora

por Sandra Salvado, RTP
Nuno Veiga, Lusa

Mário Soares deslocou-se ao Estabelecimento Prisional de Évora para visitar José Sócrates. Esta quarta-feira não era dia de visitas aos presos preventivos, mas foi aberta uma exceção para o antigo Presidente da República, que apontou o dedo ao que disse ser "uma campanha que é uma infâmia".

À entrada, Soares disse aos jornalistas que acredita na inocência de José Sócrates e que este caso não vai afetar o Partido Socialista.
O antigo Presidente da República esteve com José Sócrates durante cerca de uma hora. Ao deixar o Estabelecimento Prisional de Évora, voltaria a falar aos jornalistas. Em tom exaltado.
"Vim pela simpatia e a amizade profunda que temos um pelo outro", vincou Soares. "Fiquei emocionado por estar aqui e ele (Sócrates) ficou emocionado por me ver", acrescentou.Crítico da forma como os média têm acompanhado o caso, o antigo Chefe de Estado propugnou que José Sócrates "é um homem digno e não pode ser tratado desta maneira". "Afinal o que é que ele fez?", perguntou.

Soares diria ainda que encontrou Sócrates "muito bem".

"Gostei imenso de estar com ele. Está com uma moral fantástica e acho que está com uma dignidade de sempre. É uma grande figura. Falámos de tudo. Somos grandes amigos", sublinhou.

"Têm feito uma campanha contra ele que é uma infâmia. É a comunicação social que faz, mas são os tipos que estão por trás dela", reprovaria Mário Soares.
"Encontro de amigos" no primeiro dia de visitas
O primeiro dia de prisão preventiva de José Sócrates foi também o primeiro dia de visitas. Capoulas Santos, antigo ministro socialista da Agricultura e atual presidente da Federação Distrital do PS de Évora e a ex-mulher de Sócrates foram os primeiros a dar palavras de conforto ao ex-governante.
“Vim trazer uma palavra de conforto porque os amigos devem estar presentes em momentos difíceis”, disse na terça-feira Capoulas Santos. À saída referiu que "foi um encontro de amigos". "Espero que a sua permanência em Évora seja pelo menor tempo possível”, concluiu.
Casa de ex-mulher também foi alvo de buscas
Já a ex-mulher de Sócrates, Sofia Favas, afirmou que Sócrates “está muito bem confiante, muito sereno, com uma postura muito filosófica perante todos os factos e pediu-me para lhe trazer livros”.“À frente da cela que lhe foi destinada, onde também esteve detido o ex-diretor do SEF, Manuel Palos, há um pátio. Em contrapartida, na cela não há banho quente porque o cilindro avariou. Se o ex-primeiro ministro quiser tomar banho quente terá de ir ao balneário coletivo”, escreve o Diário de Notícias.

Segundo avança a edição do DN desta quarta-feira, a herdade da ex-mulher de Sócrates, em Montemor-o-Novo, também foi alvo de buscas na passada quinta-feira.

José Sócrates é o recluso 44. O Estabelecimento Prisional de Évora é uma prisão de alta segurança. Para polícias, magistrados e agora para a mais alta ex-figura do Estado alguma vez presa.

Por ironia do destino, a mesma prisão que agora o acolhe foi remodelada na vigência de um governo em que era primeiro-ministro. José Sócrates está numa cela sozinho, numa zona de admissão, até que esteja pronto o relatório de segurança que decide se pode ficar com outros presos.
Doze metros quadrados para Sócrates
Segundo o mesmo jornal, o espaço onde está José Sócrates tem cerca de 12 metros quadrados, com lavatório e sanita e uma espécie de muro a servir de divisória para o duche.

“É uma das duas celas individuais do sector feminino da cadeia de Évora, o qual nunca chegou a ser ocupado por mulheres das forças de segurança, por militares ou por magistradas”, descreve o DN.

A primeira refeição do ex-primeiro-ministro na prisão foi cozido à portuguesa. “Os guardas foram levar-lhe o tabuleiro com o prato à cela. Às 18h30 jantou, também na cela, esparguete com carne”, revela o diário.
Eventual violação de segredo de justiça
O Ministério Público abriu ontem um inquérito a uma eventual violação do segredo de justiça na investigação a José Sócrates e aos restantes três arguidos.

Numa resposta enviada à comunicação social, a Procuradoria-Geral da República diz que "o ministério público, sempre que tem conhecimento de factos susceptíveis de integrarem o crime de violação do segredo de justiça, age em conformidade".
Defesa tem 30 dias para recorrer
Perigo de perturbação de inquérito, de ordem pública e de fuga foram os fundamentos da prisão preventiva.

Este processo foi declarado em julho de excecional complexidade, o que significa que os prazos para a prisão preventiva são alargados.

É uma decisão sem precedentes na história da democracia portuguesa. A defesa de José Sócrates, agora suspeito de crimes de corrupção, fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais, tem 30 dias para recorrer da decisão. Cabe, depois, ao Tribunal da Relação de Lisboa analisar e pronunciar-se.
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