Apenas uma em cada 20 mil pessoas que têm armazenadas células estaminais do cordão umbilical é que poderá utilizá-las para o tratamento de doenças, revelou hoje o presidente da Sociedade Portuguesa de Células Estaminais e Terapia Celular (SPCE- TC).
A Sociedade tomou recentemente uma posição sobre os bancos de células estaminais do cordão umbilical, na qual refere que a utilização deste material genético tem, "à luz dos conhecimentos científicos actuais, uma utilidade restrita a um conjunto de patologias altamente específico".
Em Portugal existem pelo menos três empresas que recolhem e armazenam sangue do cordão umbilical que é recolhido durante o parto:
Crioestaminal, Bebévida e Biovida.
Além destas três empresas privadas, há a intenção de organizar em Portugal um banco público de células estaminais do cordão umbilical.
Estas células têm a capacidade de se transformarem em diferentes tipos celulares, daí a grande aposta na sua utilização para tratamento de doenças hematológicas (sangue), diabetes, doença de Parkinson, enfarte do miocárdio e outras patologias.
No entanto, a utilização destas células na própria pessoa é muito menor do que em outras.
Perante o crescimento em Portugal de empresas dedicadas à recolha e armazenamento destas células, a SPCE tomou uma posição, indicando que "futuros desenvolvimentos do conhecimento científico, particularmente na área da regeneração de tecidos e da expansão de células estaminais, poderão condicionar uma mudança desta taxa", que se situa em um em cada 20 mil indivíduos que poderão beneficiar do sangue recolhido durante o parto.
A SPCE considera que o armazenamento do sangue do cordão umbilical "só deverá ocorrer em locais e instituições licenciadas para o efeito" e defende "uma legislação clara neste domínio", uma vez que Portugal é um dos cinco países da União Europeia que não tem leis sobre a matéria.
A Bioteca cobra 115 euros pelo "kit" de recolha e transporte do sangue e 965 euros pela sua conservação durante 20 anos ou 1.235 euros se o prazo for de 25 anos.
O custo total cobrado pela Crioestaminal pelo serviço de isolamento e criopreservação das células estaminais do sangue do cordão umbilical por 20 anos é de 985 euros.
A Bebévida disponibiliza a conservação de células estaminais do bebé durante 25 anos com a finalidade da sua utilização "na terapia de diversas doenças" e cobra 1.465 euros por este serviço.
O Grupo Europeu de Ética alertou recentemente para o "engano" que é congelar células do cordão umbilical para a utilização futura do dador, já que são raríssimos os casos em que servem para tratar doenças.
Este órgão consultivo da Comissão Europeia especifica que "a probabilidade de se precisar de um transplante autólogo [de tecidos provenientes do próprio dador] está estimada em aproximadamente um em cada 20 mil casos, durante os primeiros 20 anos de vida".
O Grupo Europeu de Ética alerta também que "não foi ainda demonstrado que as células que se destinam a ser utilizadas em transplantes possam ser armazenadas por mais de 15 anos".
Apesar da intensa investigação realizada nas células estaminais, particularmente sobre a sua aplicação em doenças como Parkinson, diabetes ou cancro, "não foi ainda demonstrada nenhuma prova evidente da utilidade das células estaminais".
Assim, é "altamente hipotético que as células do cordão umbilical mantidas para utilização no dador tenham algum valor no futuro", frisa o Grupo Europeu de Ética.
SMM.
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