Diferentes hospitais de norte a sul do país iniciam a semana a braços com fortes constrangimentos, que se traduzem em serviços encerrados ou condicionados. O bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, alerta para “uma situação de catástrofe” nas estruturas do Serviço Nacional de Saúde.
O encerramento decorre da falta de recursos humanos para preencher as escalas de serviço, afetando os concelhos de Boticas, Chaves, Montalegre e Valpaços.Recorde-se que a urgência pediátrica de Chaves esteve já fechada na Páscoa e durante alguns dias em julho, agosto e setembro.
Em Barcelos, está encerrada a urgência de cirurgia, contingência que deverá perdurar pelo mês de outubro.
Neste caso, os constrangimentos atingem igualmente a urgência de medicina interna, que, a partir do próximo dia 7, deixa de estar aberta aos fins de semana. Gonçalo Costa Martins - Antena 1
Em causa está igualmente a recusa, por parte dos médicos, em cumprirem mais de 150 horas de trabalho extraordinário.
Caldas da Rainha e Santarém
Também o Hospital das Caldas da Rainha apresenta constrangimentos em diferentes serviços: até às 8h00 desta segunda-feira estão fechadas ou condicionadas as urgências de ortopedia, cirurgia e pediatria.
A RTP apurou que estavam a ser recebidos apenas os doentes que chegassem ao hospital pelos próprios meios, com as ambulâncias a serem enviadas para os hospitais mais próximos.
Já no Hospital de Santarém apenas são realizadas as cirurgias que estiverem programadas. A unidade deixa de ter capacidade para responder a cirurgias adicionais e também não recebe doentes encaminhados pelo 112.
Mais de 80 por cento dos médicos mostraram-se indisponíveis para trabalhar além das 150 horas extra previstas na lei.
Hospitais “não vão conseguir dar resposta adequada”
Em entrevista à RTP3, no domingo, o bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, alertou para a situação que se vive em vários hospitais do país, considerando mesmo que o Serviço Nacional de Saúde está em ”situação de catástrofe”.
Carlos Cortes assinalou que os 1.500 médicos que se recusam a fazer mais de 150 horas extraordinárias anuais “cumprem integralmente com o seu horário de trabalho”.
A recusa em ultrapassar as 150 horas anuais de trabalho extraordinário é, na ótica do bastonário, “um ato de responsabilidade” que visa proteger os médicos, mas sobretudo a segurança dos próprios doentes. O bastonário avisa que, esta semana, haverá utentes sem acesso a cuidados de saúde e que a “prestação de cuidados de saúde e a segurança dos doentes” está agora “nas mãos do Governo”.
São cerca de 25, segundo Carlos Cortes, os hospitais com dificuldades para dar resposta a especialidades como medicina interna, cirurgia, pediatria, cuidados intensivos, ginecologia-obstetrícia ou cardiologia.
Nas próximas semanas, insiste o responsável, vários hospitais “não vão conseguir dar uma resposta adequada”, a começar pelas urgências.
Em nota enviada à RTP, o Ministério da Saúde reafirmou o empenho em dialogar sobre medidas que garantam o pleno funcionamento do SNS, acrescentando que está agendada para a manhã da próxima quarta-feira uma reunião com o bastonário da Ordem dos Médicos.