Coimbra, 01 fev (Lusa) -- A primeira contagem e caracterização de pessoas em situação de sem-abrigo em Coimbra, desenvolvida por iniciativa da Hemisférios Solidários, corresponde a "um cenário mais grave do que se julgava", disse o diretor da instituição.
A operação, que teve início na quarta-feira e termina hoje, envolvendo 40 voluntários e técnicos de diversas instituições, já "identificou perto de 180 casos", revelou à agência Lusa o diretor da Associação Hemisférios Solidários, Eduardo Marques.
A Hemisférios Solidários tinha "a perceção de que o número de pessoas nesta situação é significativo", mas julgava que "não era tão elevado", sublinhou, aquele responsável.
Dos cerca de 180 sem-abrigo da zona urbana de Coimbra já abordados, no âmbito deste "contacto aprofundado com as vítimas da exclusão social na cidade", responderam ao respetivo questionário "entre 160 e 170 pessoas", adianta Eduardo Marques.
A percentagem de respostas obtidas é "muito positiva para se conhecer a verdade" sobre a exclusão social em Coimbra, mas "operação de sucesso seria não encontrar ninguém em condições de responder" ao inquérito, sustenta o diretor da Hemisférios Solidários.
Pontes, casas abandonadas e empresas desativadas são os espaços mais procurados pelos sem-abrigo de Coimbra para pernoitarem, revela a operação, integrada no Plano de Trabalho do Projeto de Intervenção com os Sem-Abrigo do Concelho de Coimbra (PISAC).
O PISAC envolve uma dezena de organizações sociais, a Câmara Municipal de Coimbra, o Centro Distrital de Segurança Social de Coimbra e a Unidade de Patologia Dual do Serviço de Psiquiatria do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.
A primeira contagem e caracterização dos sem-abrigo de Coimbra visa avaliar "dados quantitativos relativos às pessoas sem habitação", mas também e, "fundamentalmente -- sublinha a Hemisférios Solidários --, fazer uma abordagem qualitativa sobre as características e expectativas destes cidadãos, partindo da informação dada pelos próprios" e com recurso a metodologias inovadoras.
A operação está a ser desenvolvida, "pela primeira vez em Coimbra" e em Portugal, com a adoção de "instrumentos científicos que garantem a qualidade técnica da intervenção e já em uso noutros países".
A contagem, destaca Eduardo Marques, está a ser efetuada "em simultâneo com uma caracterização profunda das pessoas em situação de sem-abrigo, para que seja possível construir planos individuais de inserção, eficazes e eficientes".
As equipas de voluntários e técnicos envolvidos na iniciativa estão a percorrer, durante estes três dias, "as ruas da cidade, de dia e de noite, em cinco zonas geográficas definidas para o efeito" e que correspondem essencialmente à área urbana de Coimbra.
A operação também conta com a colaboração de pessoas sem-abrigo que já estão a ser "acompanhadas em respostas sociais, por parte das instituições PISAC".