Roubo de armas de Tancos. Governo diz que esclarecimentos só podem ser dados por Ministério Público
O Ministério da Defesa afirmou hoje que cabe ao Ministério Público dar esclarecimentos sobre a investigação a Tancos, concordando com o Presidente da República de que esta não pode ser prejudicada por qualquer questão entre as entidades policiais envolvidas.
"Relativamente à informação vinda a público sobre alegadas discrepâncias entre entidades policiais que investigam o furto de material militar em Tancos, recorda-se, mais uma vez, que o processo de investigação, em segredo de justiça, é dirigido pelo Ministério Público", refere um comunicado de três pontos emitido hoje pelo Ministério da Defesa.
"Os esclarecimentos sobre o andamento da investigação, que todos aguardamos, só podem, portanto, ser prestados pelo Ministério Público", acrescenta esta nota de imprensa.
O comunicado não confirma ou nega essas discrepâncias noticiadas pelo semanário Expresso, segundo o qual o material que foi furtado do quartel de Tancos, Santarém, em 2017, ainda não foi todo recuperado, existindo granadas e explosivos por devolver.
Por outro lado, a nota do Ministério da Defesa faz questão de referir que, "como afirmado pelo senhor Presidente da República em nota sobre este assunto, `nenhuma questão envolvendo a conduta de entidades policiais encarregadas da investigação criminal, sob a direção do Ministério Público, poderá prejudicar o conhecimento, pelos Portugueses, dessa investigação`".
O Expresso fala de um clima de desconfiança entre a Polícia Judiciária e a Polícia Judiciária Militar, órgãos de polícia criminal envolvidos no inquérito-crime aberto a 04 de julho para investigar o furto de Tancos, coordenado pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP).
Na sequência da notícia do Expresso, divulgada 'online' na sexta-feira à noite, PSD, CDS-PP e PCP exigiram no sábado esclarecimentos urgentes ao Governo, com sociais-democratas e democratas-cristãos a não fecharem a porta à realização de uma comissão parlamentar de inquérito.
Na sexta-feira à noite, a notícia do Expresso levou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a fazer um novo comunicado sobre esta matéria, na página oficial da Presidência, reafirmando a exigência de esclarecimentos cabais de modo "ainda mais incisivo e preocupado".
"E tem a certeza de que nenhuma questão envolvendo a conduta de entidades policiais encarregadas da investigação criminal, sob a direção do Ministério Público, poderá prejudicar o conhecimento, pelos portugueses, dos resultados dessa investigação. Que o mesmo é dizer o apuramento dos factos e a eventual decorrente responsabilização", acrescentou ainda o chefe de Estado, ponto agora repetido pelo Governo.
O furto de material militar dos paióis de Tancos -- instalação entretanto desativada -- foi detetado a 28 de junho durante uma ronda móvel, pelas 16:30, por um sargento e um praça ao serviço do Regimento de Engenharia 1.
Entre o material furtado estavam granadas, incluindo antitanque, explosivos de plástico e grande quantidade de munições.
A 18 de outubro passado, a Polícia Judiciária Militar recuperou, na zona da Chamusca, quase todo o material militar que tinha sido furtado da base de Tancos no final de junho, à exceção das munições de 9 milímetros.
Contudo, entre o material encontrado, num campo aberto na Chamusca, num local a 21 quilómetros da base de Tancos, havia uma caixa com cem explosivos pequenos, de 200 gramas, que não constava da relação inicial do que tinha sido roubado, o que foi desvalorizado pelo Exército e atribuído a falhas no inventário.