Responsável português rejeita que praga de ratos tenha sido introduzida por entidades oficiais
O director regional de Agricultura do Norte, Carlos Guerra, rejeitou hoje a possibilidade avançada por agricultores espanhóis de que terão sido autoridades oficiais a introduzir em Espanha o rato que se transformou numa praga próxima da fronteira.
"É, garantidamente, absolutamente falso", enfatizou aquele responsável, um especialista em questões ambientais.
Antes das actuais funções Carlos Guerra presidiu ao Instituto de Conservação da Natureza (ICN) e dirigiu o Parque Natural de Montesinho, em Bragança, junto à fronteira.
Carlos Guerra garantiu que em "matéria de questões ecológicas nunca se introduzem variedades estranhas para se alimentar outras".
"Desde o século XIX que sabemos disso", afirmou.
Segundo disse, a lição foi aprendida com a Austrália, que desde o século XIX sofre as consequências desta prática.
O responsável contou que os australianos introduziram coelhos nos seus habitats que se transformaram numa praga e deram origem a outras com consequências ainda na actualidade.
"Tiveram de declará-los calamidade pública", disse, explicando que "os australianos introduziram depois gatos para eliminar os coelhos, mas como estes eram muito rápidos os gatos atacaram outras espécies, como os koalas, e acabaram com uma data de animais australianos".
Já há muito tempo que as proporções que o caso australiano tomou servem de exemplo nas questões ecológicos.
"Nunca se introduzem variedades estranhas para alimentar outras porque se cria um desequilíbrio no processo natural. Os espanhóis têm uma óptima experiência nisso", garantiu.
O presidente da União do Pequenos Agricultores (UPA) de Zamora, Aurelio Gonzales, responsabilizou, em declarações à Lusa, as entidades espanholas ligadas ao ambiente pela praga de ratos que assola há semanas a província de Castela e Leão.
Alegou que o rato causador da praga, o "campesino", só pareceu nesta zona há cerca de 15 anos, simultaneamente com a criação de várias reservas de aves.
O dirigente agrícola disse "não ter provas", mas mostrou-se convicto de que forma as autoridades ligadas ao Meio Ambiente que introduziram a espécie para alimento das aves de rapina ou atraída pelos alimentos lançados a outras aves.
Carlos Guerra rejeita tal possibilidade e a explicação que encontra para o aparecimento do rato tipicamente da zona dos Pirinéus, mais a Norte, é o alimento disponível na intensiva agricultura desta região espanhola, sobretudo na zona mais afectada, a de Palencia, nomeadamente Tierra de Campos
"Nesta zona conseguem ter 100 quilómetros contínuos de cereal, o que cria uma ecossistema propício à invasão de animais de outras zonas", explicou.
O cereal tem sido o principal alvo deste rato, que depôs das searas ceifadas atacou outro tipo de culturas, desde a vinha aos produtos hortícolas, e vai deslocando-se em direcção à fronteira com Portugal.
Os agricultores espanhóis admitem que a praga "está a ser debelada" com as várias medidas em curso, nomeadamente veneno que a junta de Castela e Leão tem distribuído para colocarem nos terrenos afectados.
Para Carlos Guerra há ainda outra explicação para a redução da praga: a diminuição de alimento.
Este rato tem uma capacidade reprodutiva alucinante, com uma gestação de 21 a 22 dias que resulta entre duas a onze crias.
Segundo o director regional, esta capacidade reprodutiva está também relacionada com a disponibilidade de alimento e cai com a redução do mesmo.
"Quando começam a ter falta de alimento, eles próprios têm mecanismos de redução", afirmou.
Carlos Guerra atribuiu as desconfianças dos agricultores ao "desespero da situação pelos prejuízos causados", mas entende que se está perante "fenómenos cíclicos" e, apesar do elevado número de roedores não considera tratar-se de "uma praga".
Mostrou-se ainda convencido de que o rato "não chegará a Portugal" e que "dentro de dias acabará devido ao pouco alimento e ao veneno que está a ser colocado nos campos".