Fotos: Gonçalo Costa Martins - Antena 1
Alguns tipos de sangue continuam com apenas quatro dias de reserva nos hospitais. O Centro de Sangue e da Transplantação de Lisboa é o mais pressionado do país e tem recebido ao longo do ano dádivas das outras duas unidades.
Ainda assim, há um grupo de dadores regulares em Lisboa e muitos já conhecem os cantos da casa, num ambiente que se torna quase familiar com os funcionários.
Ana Paula Cheio vem de três em três meses e calhou ontem apanhar o aniversário de Emília Paiva, que regista os dadores à entrada. "Dê cá um beijinho", disse a sorridente Ana Paula, enquanto Emília lhe dava uma fatia de um fofo de Belas - um doce redondo com recheio de creme e açucarado por cima.
Emília tem duas velas no bolo a indicar 26 anos, mas, depois de brincar, esclarece para não haver dúvidas: "é ao contrário".
"Um dador habitual demora aproximadamente 45 minutos", enquanto quem vem pela primeira vez pode demorar um pouco mais: "é preciso ter outros cuidados para que a pessoa volte, para que não ganhe medo", afirma Emília, enquanto está no balcão.
Preenchido um questionário e feita uma triagem (onde se inclui uma análise ao sangue antes da colheita, para saber se está tudo bem), Ana Paula aguarda uns minutos antes de fazer a dádiva. "Normalmente venho ao sábado", mas aproveitou que estava de férias e veio na segunda-feira.
Ela entra na sala e, pouco depois, chega o jovem Guilherme Videira, de 24 anos, atento às notícias.
"Vi que [as reservas] estavam níveis abaixo do normal, especialmente o meu grupo sanguíneo. Não me custa nada vir cá e dar sangue", afirma na sua quarta vez, ele que na primeira doou sangue na faculdade onde estudava - no Instituto Superior Técnico, em Lisboa.
Reservas sobem, mas "reforço" é necessário
A visita da Antena 1 ao Centro de Sangue e da Transplantação de Lisboa é acompanhada pela coordenadora desta unidade, Susana Ribeiro. "Aqui em Lisboa temos uma área de influência muito grande", com "muitos clientes", pelo que "temos necessidades superiores às dos outros centros", no Porto e em Coimbra.
"Quando há falta em Lisboa, os outros centros enviam e vice-versa, normalmente até é mais do norte aqui para nós", aponta Susana Ribeiro.
A responsável diz que têm necessitado de apoio "ao longo do ano", e que a prioridade neste momento é conseguir ter mais afluência e não aumentar a capacidade.
Na semana passada, segundo o Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST), um pico de infeções de Covid-19 provocou uma queda nas dádivas, mais cedo do que o habitual no verão. O problema continua, apesar de a situação estar "um bocadinho melhor".
"Em relação à semana passada, passámos de três dias para quatro dias de reserva estratégica, tanto para o [tipo de sangue] A, como para o zero negativo", afirma a presidente do instituto, Maria Antónia Escoval.
É o balanço mais recente, de ontem, das reservas de sangue. Esta é uma situação que coloca em causa cirurgias não urgentes, e daí o apelo para que as pessoas façam doações de sangue.
O instituto pede que mais pessoas venham aos centros de colheita, em Lisboa, no Porto e em Coimbra, ou que passem pelas equipas móveis que estão na estrada. A Federação Portuguesa de Dadores Benévolos de Sangue afirma que é precisa contratar mais funcionários.
Questionada sobre isto, Maria Antónia Escoval afirma que, como outras entidades públicas, "tem todos os problemas que a administração pública de forma transversal tem", acrescentando que aguarda a entrada de mais funcionários através de concurso.
O IPST não esclareceu quantos funcionários deverão entrar nos próximos meses.