A Câmara do Porto apresentou hoje o projecto de requalificação da Avenida dos Aliados, objecto de uma "alteração profunda" resultante da redução da placa central, da eliminação dos jardins e da construção de uma fonte.
O projecto, da autoria dos arquitectos Álvaro Siza Vieira e Eduardo Souto Moura, foi esta manhã apresentado no edifício dos Paços do Concelho.
Segundo o presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, esta "alteração profunda" da Avenida dos Aliados resulta do condicionamento provocado pelas "bocas de entrada" da estação do metro na avenida.
O projecto, que não implicará alterações à circulação do trânsito, prevê o alargamento dos passeios em seis metros e a consequente redução da placa central, em oito metros, bem como a construção de uma fonte, inspirada no modelo da Medicis, existente nos jardins do Luxemburgo, em Paris, e a alteração de pavimentos.
Rui Rio que considerou que a Avenida dos Aliados tornar-se-á num espaço "fantástico", admitiu, contudo, que a nova artéria "precisará de um período de maturação" para se afirmar.
"Admito que a praça possa no imediato suscitar um momento de perplexidade, mas meses depois demonstrará o grande mérito dos dois arquitectos", disse.
Também Souto Moura espera contestação ao projecto, tendo dito que "no Porto põe-se uma pedra e no dia seguinte já estão a cair em cima da decisão".
Rio salientou que esta alteração vai fazer crescer a zona pedonal, permitir plantar mais árvores do que as que existem actualmente na avenida que, depois de reformulada, "estará mais apta e apelativa para os festejos da cidade".
A obra, cujos custos serão inteiramente suportados pela empresa Metro do Porto, deverá estar concluída em Agosto, por ocasião da abertura da linha D (Hospital de S. João/Parque da República, em Gaia).
O presidente da comissão executiva da Metro do Porto, Oliveira Marques, disse não existir ainda um orçamento para a empreitada, dado que implica a abertura de um concurso público.
Siza Vieira explicou ter estudado a história do Porto para desenhar o projecto, afirmando pretender transformar aquela avenida, que na prática abarca três toponímias diferentes (Praça do General Humberto Delgado, Avenida dos Aliados e Praça da Liberdade), num "espaço único".
Em frente à Câmara do Porto permanecerá a estátua de Almeida Garrett, bem como o pavimento em calcário, sendo que na plataforma seguinte, onde fica sedeada a estação do metro, nascerá a nova fonte.
Na Praça da Liberdade, segundo Siza Vieira, mantém-se a estátua de D. Pedro IV, mas num espaço "com uma centralidade perdida".
"[Toda a avenida] Será tratada como um espaço único, anulando a ambiguidade que resulta de uma evolução nunca concluída", adiantou o arquitecto.
Todos os espaços ajardinados desaparecerão mas, em contrapartida, serão plantadas árvores em toda a avenida e até à zona da estátua de Almeida Garrett o granito será o material de eleição, inclusive para as três faixas de rodagem existentes em cada lado dos Aliados.
"O asfalto será substituído pelo granito, queremos que fique tudo com a mesma cor, para dar a ideia de uma avenida mais larga e uniforme", referiu Souto Moura.
Quanto à iluminação, para fazer face aos diversos tipos de candeeiros existentes no mesmo espaço, os arquitectos decidiram repor e restaurar o modelo do poste que termina com três lâmpadas brancas.
Durante a apresentação do projecto, os arquitectos mostraram várias praças europeias onde predominam espaços centrais, sem jardins, mas com árvores.
O vereador da CDU na Câmara do Porto, Rui Sá, aproveitou o período de perguntas e respostas para discordar do regresso do pavimento em granito àquela zona, bem como para considerar que partes da nova Avenida dos Aliados ficarão muito escuras.
"A reformulação da Praça da Liberdade está bonita", admitiu, no entanto, o autarca comunista.
Rui Rio afirmou ainda que este projecto se insere na requalificação da baixa da cidade, "um objectivo cuja concretização não pode voltar atrás".