Lisboa, 14 Jan (Lusa) - O responsável pelo Diálogo Inter-Religioso do Patriarcado de Lisboa, Padre Peter Stilwell, destacou hoje as "relações exemplares" entre católicos e as comunidades muçulmanas portuguesas, mas defendeu que deve existir prudência nos gestos de aproximação.
Numa nota enviada à agência Lusa, o padre Peter Stilwell, das Relações Ecuménicas e do Diálogo Inter-Religioso do Patriarcado de Lisboa, explicou, a propósito de declarações de D. José Policarpo sobre casamentos entre jovens portuguesas e muçulmanos, que as relações de diálogo com as comunidades muçulmanas têm sido muitas vezes difíceis a nível mundial, mas em Portugal "têm sido de grande simpatia, podendo dizer-se exemplares".
O responsável considerou também que no diálogo entre a Igreja Católica e as comunidades muçulmanas deve ser tido em conta o respeito pelas diferenças, o que "implica necessariamente um conhecimento mútuo".
O Padre Peter Stilwell salientou ainda que deve existir prudência "nos gestos de aproximação, dado que a sua leitura no contexto de outra tradição e as consequências que daí decorrem podem ser inesperadas, como seja a cedência de espaços de culto ou o casamento entre pessoas de tradições religiosas e culturais diferentes".
O Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, advertiu na terça-feira à noite as jovens portuguesas para o "monte de sarilhos" de se casarem com muçulmanos.
Falando na tertúlia "125 minutos com Fátima Campos Ferreira", que decorreu no Casino da Figueira da Foz, D. José Policarpo deixou um conselho às jovens portuguesas quanto a eventuais relações amorosas com muçulmanos, afirmando: "Cautela com os amores. Pensem duas vezes em casar com um muçulmano, pensem muito seriamente, é meter-se num monte de sarilhos que nem Alá sabe onde é que acabam".
Questionado sobre se não estava a ser intolerante perante a questão do casamento das jovens com muçulmanos, D. José Policarpo disse que não.
"Se eu sei que uma jovem europeia de formação cristã, a primeira vez que vai para o país deles é sujeita ao regime das mulheres muçulmanas, imagine-se lá", ripostou D. José Policarpo à jornalista e anfitriã da tertúlia, manifestando conhecer "casos dramáticos" que, no entanto, não especificou.
Na sua intervenção, o Cardeal Patriarca de Lisboa considerou "muito difícil" o diálogo com os muçulmanos em Portugal, observando que o diálogo serve para a comunidade muçulmana demarcar os seus espaços num país maioritariamente católico.
"Só é possível dialogar com quem quer dialogar, por exemplo com os nossos irmãos muçulmanos o diálogo é muito difícil", disse D. José Policarpo durante a tertúlia.
Respondendo a uma pergunta sobre se o diálogo inter-religioso em Portugal tem estado bem acautelado, o Cardeal Patriarca sublinhou que, no caso da comunidade muçulmana, "estão-se a dar os primeiros passos".
Mais tarde, quase no final de mais de duas horas de conversa e respondendo, na altura, a uma pergunta da assistência sobre a presença muçulmana na Europa, lembrou que a comunidade muçulmana de Lisboa representa cerca de 100 mil fiéis "centrados à volta de três grandes mesquitas" e definindo as relações com o Patriarcado como "habitualmente boas e muito simpáticas".
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