A Junta de Sistelo, Arcos de Valdevez, quer recuperar o castelo da freguesia e transformá-lo num centro de dia, mas está "de mãos atadas" por causa de um processo judicial movido pelos alegados herdeiros dos antigos proprietários.
Segundo o presidente da Junta, Durval Gave, o castelo está há mais de 70 anos "completamente votado ao abandono" e "corre mesmo o risco de ruir", pelo que a autarquia, para salvar um monumento que é um "autêntico ex-libris" da freguesia, decidiu avançar há cerca de cinco anos com um projecto para a sua recuperação.
"É estranho que quem durante anos e anos nunca se importou com a degradação e com o lamentável estado de abandono do imóvel, situado em pleno centro da freguesia, venha agora reivindicar a sua propriedade, só porque a Junta decidiu mexer-se para o pôr ao serviço da freguesia", criticou Durval Gave.
O referido projecto, que custou cerca de 25 mil euros, apontava para a criação, no rés-do-chão, de um centro de dia, "uma estrutura de importância vital" para uma freguesia com uma população envelhecida - 60 por cento dos seus habitantes tem mais de 70 anos - e onde há 30 a 40 idosos que vivem sozinhos.
Além disso, o castelo acolheria também um gabinete médico e de enfermagem, um pequeno museu agrícola, um salão polivalente e a sede da Junta de Freguesia, ficando a actual a funcionar como apoio ao centro de dia, nomeadamente para internamento.
"O problema é que, quando souberam desta nossa intenção, os alegados herdeiros dos antigos proprietários do castelo avançaram para os tribunais, reivindicando a sua titularidade. Já perderam na primeira instância e na Relação, mas entretanto recorreram para o Supremo. E enquanto não houver uma decisão, não podemos fazer nada", explicou Durval Gave.
Ou seja, a Junta não consegue registar o castelo em seu nome e, como tal, não consegue também aceder aos fundos comunitários, que se afiguram indispensáveis para financiar a obra de recuperação, avaliada em mais de 500 mil euros.
O castelo foi edificado em meados do século XIX pelo primeiro visconde de Sistelo, Manuel Gonçalves Roque.
Trata-se de um palácio revivalista de planta rectangular, com duas torres com ameias a ladear o frontispício e um jazigo neogótico, sobranceiro à confluência do rio do Outeiro com o rio Vez, na margem esquerda deste último.
"Hoje, o castelo não passa de um ninho de ervas, de heras e de árvores que entretanto cresceram no seu interior e que o colocam na iminência de ruir", lamentou Durval Gave, garantindo que a Junta de Freguesia "não desistirá" do projecto de recuperação daquele emblemático edifício.