Última Hora
Hospital de Santa Maria. Diretor clínico foi demitido após auditorias às cirurgias adicionais

Quatro em cada mil crianças portuguesas sofrem de Síndrome de Asperger

por Agência LUSA

Quatro em cada mil crianças portuguesas têm síndrome de Asperger, uma perturbação do desenvolvimento que causa problemas de adaptação social e escolar e que necessita de acompanhamento ao longo da vida.

A síndrome de Asperger (SA) é uma forma de autismo, uma condição que afecta o modo como comunica e se relaciona com os outros e está presente em cerca de 30 mil crianças portuguesas.

Podem ser excelentes na memorização de factos e números, mas têm normalmente dificuldade ao nível do pensamento abstracto.

Piedade Líbano Monteiro, presidente da Associação Portuguesa de Síndrome de Asperger, que hoje promove o baptismo de voo de 16 crianças com este problema, explica que esta disfunção neurocomportamental com base genética precisa de um acompanhamento na escola e na família e uma abertura na sociedade para que as crianças tenham um projecto de vida.

"Quem nasce Asperger morre Asperger. Não existe uma cura e tudo o que fazemos em prol destas crianças é para que tenham um projecto de vida normal dentro da diferença", disse.

Crianças com Síndrome de Asperger tornam-se adultos com Síndrome de Asperger.

No entanto, uma educação adequada e apoio correcto ao longo do processo de desenvolvimento da criança, do jovem e do adulto, podem tornar a vida muito mais harmoniosa e menos difícil.

Muitos adultos, adiantou, sofrem deste síndrome de origem génetica, mas desconhecem-no acabando por descobrir mais tarde quando o problema é detectado nos filhos.

"Quantas mães há que vão com os filhos à consulta e descobrem que afinal o comportamento estranho dos maridos era apenas evidência do Síndrome de Asperger. É muito frequente", disse.

Quer em crianças, quer em adultos os "aspies", adiantou, devem ser acompanhados.

Com tempo e paciência, as pessoas com SA podem ser ensinadas a desenvolver as competências básicas para a vida do dia-a-dia, inclusive a forma mais adequada de comunicar com as outras pessoas e de reagir em determinadas situações.

Entre várias características, os "aspies" - como também são conhecidos - revelam dificuldade na comunicação, no relacionamento social e no pensamento abstracto.

Ao contrário dos autistas "clássicos", que normalmente estão ausentes e desinteressados do mundo que os rodeia, muitos "aspies" querem ser sociáveis e gostam do contacto humano, mas têm dificuldades em faze-lo.

Para o neuropediatra Nuno Lobo Antunes este Síndrome, que regista maior incidência nos homens (20 homens para cada mulher), é um problema sério que causa grande sofrimento.

"O sentir-se diferente tem as suas consequências. Querem ter amigos e não sabem como. A depressão e o suicídio são muito frequentes nos Asperger", disse.

Segundo o especialista, trata-se de uma alteração que se define por um comportamento fora do comum e que tem uma base genética determinante para o aparecimento do síndroma.

Os "aspies", adiantou, têm um funcionamento cerebral diferente, têm um gosto marcado por rotinas e um interesse obsessivo por determinados temas.

Por vezes, explicou, muitas crianças com este síndroma surgem com diagnósticos anteriores de sobredotação, um termo que diz não existir.

"Não sei o que é. A maioria dos miúdos que chegam com este diagnostico têm na verdade Síndrome de Asperger. São muito inteligentes com problemas de relacionamento social e a quem lhes deve ser ensinadas competências sociais", disse.

Os "aspies", embora possam falar com fluência, parecem não ligar às reacções das pessoas com quem falam, podem falar sem parar nem mudar de assunto, independentemente do interesse mostrado pelo seu ouvinte, e podem parecer insensíveis aos seus sentimentos.

Normalmente os seus interesses envolvem a memorização ou ordenação de factos sobre um assunto específico.

Com um pouco de orientação, estes interesses podem ser desenvolvidos de modo a que o "aspie" venha a estudar ou trabalhar na área do seu interesse específico.

"O que temos de dar é dignidade a estas pessoas. Cada um de nós está no planeta com uma missão. Bem encaminhados, conduzidos e acarinhados eles encontram a sua", disse.

PUB