A Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) admite, em carta enviada ao primeiro-ministro, falhas no sistema de comunicações conhecido como SIRESP. "As primeiras falhas ao nível de comunicações, inclusive na rede GSM, são registadas pelas 19h45" do dia 17 de junho, sábado, lê-se no documento. E foram sentidas até "ao dia 20 de junho".
Em carta enviada ao chefe do Executivo, o presidente da ANPC diz que "de acordo com o registo no SADO" - Sistema de Apoio à Decisão Operacional que regista a sequência ordenada dos principais acontecimentos e decisões operacionais - "as primeiras falhas ao nivel das comunicações, inclusive na rede GSM, são registadas pelas 19h45" de sábado, dia 17 de junho. "Após esta hora, existem vários reports de dificuldades sentidas ao nível global das comunicações, designadamente entre o comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Leiria e o Posto de Comando Operacional (PCO) instalado em Pedrógão Grande e entre este e os operacionais no terreno".
Escreve Joaquim Leitão que "perante o constrangimento, ao nível do PCO foi elaborado um novo plano de comunicações, baseado apenas na rede ROB (Rede Operacional de Bombeiros), com a atribuição de canais de manobra, táticos e de comando, garantido a necessária interligação entre os três escalões da operação que estava em curso".A estação móvel I, pertencente à GNR, estava "inoperacional" e a "estação móvel 2, pertencente à PSP", estava em reparação.
Diz ainda este responsável que entre as 21h12 e as 21h16, "a ANPC recebeu três comunicações da SIRESP a dar conta da queda de três sites": Serra da Lousã, Malhadas e Pampilhosa da Serra. Uma situação que "afetou as comunicações".
Para minimizar as falhas na rede SIRESP, "foram utilizadas, às 21h22, as comunicações de redudância, nomeadamente, REPC (Rede Estratégica de Proteção Civil) e ROB".
Estações móveis estavam inoperacionais
Pouco depois, às 21h29, a ANPC pediu à SIRESP a "mobilização das duas estações móveis". Acontece que, lê-se no documento, "a estação móvel I, pertencente à GNR, se encontrava inoperacional" e a "estação móvel 2, pertencente à PSP", estava "em reparação na empresa UNIVEX pelo que não era possível, no momento, a mobilização da mesma para a zona de Pedrógão Grande".
Já na madrugada de 18 de junho, a "ANPC foi informada pela SIRESP", às 00h51, que "além dos sites supra referidos, encontrava-se igualmente inoperacional o site de Pedrógão Grande, ficando na área de intervenção quatro sites SIRESP sem comunicações entre si, facto esse que alargou a área de inoperacionalidade daquela rede".
Às 03h07, a Secretaria-Geral do Ministério da Adminsitração Interna solicitou o levantamento da viatura Estação móvel 2 SIRESP das instalações da empresa UNIVEX e determinou que a mesma ficasse localizada no PCO da ANPC em Pedrógão Grande, com hora prevista de chegada ao TO (Teatro de Operações) pelas 05h50"
Às 04h12, o "site localizado em Figueiró dos Vinhos ficou inoperacional".
E às 09h58 não havia ainda "previsão de reposição de linhas, devido a corte por incêndio florestal".
Só no dia 19 de junho, "às 12h00, a ANPC recebeu por parte da SIRESP a informação de que a estação base de Pedrógão Grande ficou operacional".
Às 12h04 desse dia, segunda-feira, 19 de junho, a ANPC registava ainda falhas de cobertura no teatro de operações, solicitando por isso "a deslocação da estação móvel SIRESP para a zona de Avelar, onde estava instalado o PCO (Posto de Comando Operacional). A estação móvel começou a funcionar em Avelar às 18h19"."Desde as 19h45 do dia 17 de junho até ao dia 20 de junho se verificaram falhas na rede SIRESP no teatro de operações"
A descrição do que aconteceu na altura continua. Lê-se no documento que "no mesmo dia, 19 de junho, às 21h17, a ANPC foi ainda informada pela SIRESP de que a operacionalidade da estação de Figueiró dos Vinhos estava reposta. Por se verificarem várias falhas de comunicações no TO de Góis, a ANPC, nesse mesmo dia, às 23h59, solicitou à SIRESP a deslocação da estação móvel SIRESP do Posto de Comando/ANPC em Pedrógão Grande pra Chã de Alvares".
Quatro dias de falhas
Após estas explicações, diz o presidente da ANPC que, "neste contexto, poder-se-á inferir que desde as 19h45 do dia 17 de junho até ao dia 20 de junho se verificaram falhas na rede SIRESP no teatro de operações".
Falhas que se fizeram sentir, "sobretudo, ao nível do comando e controlo das operações, por não permitir, em tempo, o fluxo de informação entre os operacionais e o posto de comando, sutiações que foram supridas", diz Joaquim Leitão, "com recurso às redes redudantes já referidas, permitindo assegurar as comunicações associadas à operação".