Projeto-piloto. Urgências só recebem grávidas referenciadas em Lisboa e Vale do Tejo

por RTP
Foto: António Antunes - RTP

A partir de hoje as urgências obstétricas e ginecológicas só vão receber mulheres referenciadas pela linha SNS 24, INEM e centros de saúde. As outras grávidas vão ter aconselhamento pela linha SNS ou uma consulta agendada no prazo de 24 horas.

O projeto-piloto abrange numa primeira fase os hospitais de Santa Maria, São Francisco Xavier, Amadora-Sintra, Loures e Cascais, bem como as unidades de Vila Franca de Xira, Santarém, Abrantes, Caldas da Rainha e Leiria.

O modelo vai também ser implementado em dois projetos no Porto, um no Alentejo e também em Leiria.

O número da linha SNSGrávida é o mesmo da Saúde 24, ou seja, 808 24 24 24.

Segundo o Ministério da Saúde, apenas serão atendidas situações urgentes, como perda de consciência, convulsões, dificuldade respiratória, hemorragia, e dores muito intensas. Situações que podem ocorrer durante a gravidez, nas primeiras seis semanas após o parto ou em qualquer altura da vida.

A pré-triagem telefónica deverá ser feita preferencialmente por enfermeiros especialistas em saúde materna e obstétrica.
Teste de três meses
Este novo modelo vai ser testado durante três meses. A pré-triagem telefónica vai ser feita por enfermeiros, especialistas em saúde materna e obstétrica.

O diretor de obstetrícia e ginecologia da Unidade Local de Saúde de Santa Maria diz que espera que este projeto reduza em 70% os casos não urgentes que chegam aos hospitais. 
O diretor da urgência de obstetrícia e ginecologia do Amadora Sintra acredita que a medida pode ter resultados positivos, mas diz que foi implementada muito em cima da hora.

A Federação Nacional dos Médicos avisa que as próximas semanas podem ser complicadas nos hospitais e lembra novamente que há falta de médicos.

Ao longo do fim de semana houve tempos de espera acima do normal nos hospitais da grande Lisboa.

A presidente da FNAM, Joana Bordalo e Sá diz que não é a linha SNS 24 que vai resolver o problema e prevê dias difíceis. A Federação Nacional dos Médicos acusa o governo de querer resolver o problema da falta de médicos com uma linha telefónica.

Joana Bordalo e Sá lamenta também que a ministra da Saúde não resolva o problema central que é a falta de clínicos.

"Esta medida não resolve o problema principal, que tem a ver com a falta de médicos e a falta de médicos obstetras que nós temos no Serviço Nacional de Saúde", argumentou a presidente da Federação Nacional dos Médicos.

Esta linha, segundo Joana Bordalo e Sá, foi implementada extamente porque "faltam médicos" e há uma "redução das equipas, onde poderá ficar apenas um especialista com médicos internos", o que pode colocar "não só as equipas, mas sobretudo as grávidas em risco".

Ter equipas "tão reduzidas", principalmente na região de Lisboa e Vale do Tejo, "não oferece segurança às grávidas".

A solução, de acordo com a médica, é haver uma "negociação muito rápida, muito séria e competente com a Federação Nacional dos Médicos" para fixar os profissionais de saúde no SNS.

O Sindicato Independente dos Médicos também não concorda com este novo modelo.

Nelson Pereira, da Ordem dos Médicos, considera que esta é uma "reorganização dos serviços" que visa "reagir a uma dificuldade de organização, que é notória e pública".

"Esta reorganização não é nova" no SNS, no contexto de urgência, e pretende "tirar do serviço de urgência as situações clínicas que não são graves" e que podem perturbar o "normal funcionamento das urgências".

Isto quer dizer, segundo o especialista, que não "está em causa a assistência a alguém que esteja em trabalho de parto, não está em causa a assistência a alguém que esteja em risco de vida".

A Unidade Local de saude de Leiria garante que os centros de saúde já têm alocadas as vagas necessárias para dar resposta às grávidas não urgentes.

Ainda assim, a diretora de Obstetricia e Ginecologia explicou que a maternidade vai continuar fechada ao fim de semana por causa da falta de médicos.

A presidente do observatório de violência obstétrica mostra-se preocupada com a implementação desta medida.
A forma como está escrita e está a ser veículada esta portaria, afirmou Carla Santos, "está muito alarmista" e "pouco clara".

"O que nos preocupa é que esta pré-triagem venha acompanhada de uma falsa solução, porque o real problema só vai ser solucionado com profissionais de saúde a trabalhar no SNS"
, continuou, lamentando que este projeto piloto seja "um penso rápido".
Projeto piloto já em vigor

Esta manhã, a situação das urgências de obstetrícia e ginecologia no hospital Amadora-Sintra estava calma. De acordo com o portal do SNS, está apenas uma utente nas urgências e não há previsão de tempo de espera.

À RTP uma utente grávida afirmou ter usado este novo mecanismo e que ligou para a linha SNS24 de madrugada para ser atendida neste hospital.
No hospital de Santo André, em Leiria, o projeto piloto também já está a começar a ser testado.

A diretora do serviço de Obstetrícia e Ginecologia da ULS de Leiria admitiu esta manhã que a maior dificuldade é a "adaptação a esta situação, não só da parte das utentes como dos profissionais de saúde".

Segundo Andreia Antunes, trata-se de um processo de aprendizagem que é "normal numa situação que está a começar, mas que vai correr bem".

Também no hospital de Vila Nova de Gaia, onde este mecanismo já começou a ser aplicado, foram atendidas na manhã desta segunda-feira duas mulheres grávidas que não tinham contactado a linha SNS24, nem estavam informadas sobre este novo modelo.

Inês Nunes, diretora do serviço de Ginecologia e Obstetrícias, garantiu que ambas foram avaliadas pelas enfermeiras especialistas na triagem.

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