Girona, Espanha, 24 nov (Lusa) - A qualidade dos produtos é essencial na alta cozinha, mas os ingredientes principais para o sucesso são as equipas e o apoio das famílias, relataram à Lusa chefs de restaurantes distinguidos no Guia Michelin de 2017.
A edição do próximo ano do Guia Michelin Espanha e Portugal atribuiu duas estrelas a dois novos restaurantes portugueses e a primeira estrela a sete espaços, totalizando cinco com duas estrelas e 16 com uma estrela.
Depois do anúncio dos restaurantes portugueses que surgem no `guia vermelho`, revelado na quarta-feira à noite em Girona, na Catalunha, as primeiras palavras dos chefes de cozinha são, quase sempre, para as respetivas equipas.
"À volta do chef, há uma estrutura e uma grande equipa", disse à Lusa Benoît Sinthon, que conquistou a segunda estrela para o restaurante Il Gallo d`Oro, no Funchal.
Ao fim de oito anos com uma estrela, chega a segunda estrela para este restaurante madeirense, mas isso deve-se a um trabalho de preparação.
"Quem quer manter uma estrela, tem de olhar para a segunda, e depois a Michelin é que julga se merecemos", considerou.
O chef Rui Paula, que ganhou a primeira estrela para a Casa de Chá da Boa Nova, em Leça da Palmeira, admite que este dia tardou, mas garante que agora não vai "ficar por aqui".
"Vamos continuar a receber os inspetores [do guia Michelin], porque temos todas as condições para chegar longe. Cabe a mim e aos que estão comigo acreditarmos nisto e fazermos, mas sem `stress`", realçou, depois de lembrar que dirige três restaurantes e conta com uma equipa de 70 pessoas.
Vítor Matos, que ganhou a primeira estrela para o seu restaurante - Antiqvvm, no Porto, aberto há um ano - garante: "Não somos ninguém sem os nossos pilares, seja em casa seja no trabalho".
Apesar de admitir que a sua cozinha "é, por vezes, incompreendida", Vítor Matos garante que o que procura é "uma harmonia perfeita entre os ingredientes e que haja [no prato] uma história para contar".
Ricardo Costa, cujo restaurante que dirige - The Yeatman, em Gaia - conquistou igualmente a segunda estrela apontou o "trabalho consistente" dos últimos anos, realçando o produto nacional.
"Trabalhamos o produto nacional, com técnicas modernas, mas com sabores com história portuguesa, para o dar a conhecer", relatou.
O chef Henrique Sá Pessoa, que ganhou a primeira estrela para o novo restaurante Alma, no Chiado, recorda que a sua equipa já vinha trabalhando, de forma consistente, desde o projeto do anterior estabelecimento com o mesmo nome, também em Lisboa.
"Conseguimos ter essa consistência, além da cozinha, dos produtos, da originalidade, da criatividade", destacou.
Alexandre Silva ficou surpreendido com a primeira estrela ao restaurante Loco, em Lisboa, que tem menos de um ano de existência, mas considera que esta distinção ao seu espaço, considerado irreverente, acrescentando: "Portugal está a mudar, o guia tem mais respeito por nós, pela nossa cozinha e pela nova vaga da cozinha portuguesa".
Questionado sobre o que vai mudar na sua cozinha, o chef respondeu que nada, à exceção de ter, a partir de agora, "uma equipa mais feliz".
José Avillez, que tem duas estrelas no Belcanto, em Lisboa, explicou o aumento de restaurantes portugueses classificados no guia Michelin com o facto de os estabelecimentos terem "mais consistência, por terem mais clientes e mais turismo, o que permite viabilizar financeiramente os projetos".
O chef português defende que a primeira classificação de estrelas a Portugal já poderia ter sido atribuída ao Ocean (Porches, do chef Hans Neuner), que "tem feito muito para subir a fasquia da gastronomia portuguesa".