Paulo Domingos Lourenço - RTP
Não está tudo bem no Ministério Público, diz Maria José Fernandes. A procuradora-geral adjunta jubilada discorda do procurador Rosário Teixeira, que em entrevista à SIC sustentou que o modelo atual do Ministério Público é o ideal.
"É preciso rever métodos de trabalho, repensar equipas, decisões, capacidade de decisão", concluindo Maria José Fernandes que "há muito que fazer".
A procuradora foi mais longe ao admitir que podem existir colegas com motivações políticas, embora garanta que a instituição não tem - "era só o que faltava". Rosário Teixeira afirmou na SIC que o Ministério Público não se move por interesses políticos, mas Maria José Fernandes não tem a mesma certeza.
"Não sei se não haverá colegas que não tenham. Essa é que é a dúvida. Não sei se não haverá, eventualmente pode haver", afirma a procuradora adjunta.
Em declarações à jornalista Rosa Azevedo, a procuradora Maria José Fernandes diz que a afirmação de Rosário Teixeira sobre António Costa foi confusa. Em relação à Operação Influencer, o procurador referiu que, caso o ex-primeiro-ministro António Costa fosse suspeito, já teria sido constituído arguido.
"Se o meu colega diz que os portugueses não compreendem que isso é possível, eu compreendo que os portugueses não compreendam", disse a magistrada à Antena 1.
Relativamente ao processo disciplinar contra a procuradora, agora arquivado, Maria José Fernandes diz que foi feita justiça.
A procuradora adjunta foi acusada de violar os deveres de reserva e lealdade ao escrever um artigo no jornal Público, em que criticava o Ministério Público. Em novembro do ano passado, sem referir-se à Operação Influencer, questionava as formas de trabalho e de investigação da instituição. Repetiu essa posição numa entrevista à Antena 1 também em novembro.
No mês passado, Maria José Fernandes disse também na rádio pública que a utilização de escutas está a ser "banalizada e usada em excesso", apontando que "escutas de cinco anos já parece escutar às portas".