Preto no Branco. Episódio 18

por Silvia Alves - RTP

Naquela que foi a primeira actuação na televisão portuguesa de Amália Rodrigues, a fadista cantou o fado corrido "Lá porque tens cinco pedras" e, talvez por se sentir nervosa à frente das câmaras, como admitiu no fim, chama ao segundo fado que vai interpretar 'Solidão', de Alfredo Marceneiro com letra de Armando Vieira Pinto.

Trata-se, na realidade, do poema 'Maldição' que resume o que é isto de fado.

Que destino ou maldição
Manda em nós, meu coração?
Um do outro assim perdido,
Somos dois gritos calados,
Dois fados desencontrados,
Dois amantes desunidos.


Por ti sofro e vou morrendo,
Não te encontro, nem te entendo,
Amo e odeio sem razão:
Coração… quando te cansas
Das nossas mortas esperanças,
Quando paras, coração?


Nesta luta, esta agonia,
Canto e choro de alegria,
Sou feliz e desgraçada.
Que sina a tua, meu peito,
Que nunca estás satisfeito,
Que dás tudo... e não tens nada.


Na gelada solidão,
Que tu me dás coração,
Não há vida nem há morte:
É lucidez, desatino,
De ler no próprio destino
Sem poder mudar-lhe a sorte…
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