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Presidente da República homenageia heróis portugueses dos atentados de Paris

por RTP
Sala de espetáculos "Bataclan", alvo de atentados terroristas em novembro de 2015 Benoit Tessier - Reuters

Quase sete meses depois dos atentados em Paris, o Presidente da República presta homenagem a quatro portugueses que não se amedrontaram e que abriram as suas portas para ajudar centenas de pessoas, vítimas dos terroristas. Na primeira vez que as comemorações oficiais do 10 Junho são realizadas fora de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa opta por homenagear cidadãos anónimos em Paris. No total, são 15 os homenageados por Marcelo neste 10 de Junho.

Margarida de Santos Sousa. A portuguesa trabalhava como porteira num prédio a uma centena de metros do Bataclan, a sala de espetáculos parisiense que no dia 13 de novembro foi alvo de ataques terroristas. Abriu as portas do prédio e de sua casa para acolher dezenas de pessoas que escaparam aos terroristas. Uma das feridas era uma jovem baleada. Margarida lembrava, poucas horas depois, o cenário de terror.
Reportagem de novembro de 2015

Manuela Gonçalves e José Gonçalves. O casal português passou a noite de 13 de novembro a socorrer as vítimas do mortífero ataque no Bataclan. Deixaram-nos entrar para o pátio do prédio, em fuga às balas, em busca de um local seguro. Ajudaram uma jovem grávida, atingida pelos disparos.

Natália Teixeira Syed. Deixou também entrar no prédio todos aqueles que fugiam dos disparos dos terroristas na sala de espetáculos parisiense. Quase uma centena de pessoas ficou aí refugiada, e Natália prestou os primeiros socorros.

São estes os quatro portugueses condecorados por Marcelo Rebelo de Sousa com o grau de Dama ou Cavaleiro da Ordem da Liberdade, na Câmara Municipal de Paris, esta sexta-feira. Cidadãos anónimos homenageados na primeira vez em que as comemorações oficiais do 10 de junho são feitas em território físico português, mas também em “território espiritual” de Portugal, como o Presidente o definiu.

“Não foi heróico. Foi um ato natural”, disse Natália à RTP. Margarida garante que fez naquela noite o que era necessário fazer. “EstavaM a viver um terror”, realçou em entrevista à RTP poucas horas antes da entrega da condecoração.

Os quatros não são, porém, os únicos a ser homenageados por Marcelo Rebelo de Sousa neste 10 de junho no estrangeiro. As comemorações continuam este sábado, com mais cinco pessoas condecoradas.

O fotógrafo que mais retratou os bairros de lata portugueses em França nos anos 60 e 70, nascido no Haiti aos 89 anos (mas com nacionalidade francesa) Gérald Bloncourt, vai receber a ordem de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique.
Duarte Valente - RTP

Gérald Bloncourt retratou os "bidonville" portugueses, mas também fez imagens da viagem clandestina - "a salto" - para França, assim como imagens de Portugal sob a ditadura e no pós 25 de abril.

Joaquim Silva Sousa, Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Paris, vai ser agraciado com o grau de Comendador da Ordem do Mérito, por se tratar "de uma personalidade consensual que reúne o respeito e admiração da comunidade portuguesa em Paris, devido às atividades que desenvolve no seio da Santa Casa", nomeadamente no apoio aos novos emigrantes mas também aos que já se encontram em França há longa data, indica o comunicado da presidência enviado à Lusa.

O grau de comendador da ordem de Mérito também vai ser atribuído ao empresário Valdemar Francisco, de 62 anos, que está a ajudar a construir um monumento de homenagem a um antigo autarca francês pela ajuda prestada aos imigrantes portugueses no bairro de lata de Champigny.

Valdemar Francisco, que construiu um importante grupo de empresas de imobiliário e construção em França, vai ser condecorado precisamente em Champigny, a cidade que abrigou o maior "bidonville" português em França nos anos 60 e 70, e onde ele viveu nove anos em criança.

Louis Talamoni, antigo autarca de Champigny, vai ser condecorado a título póstumo com o grau de comendador da Ordem da Liberdade, por "durante largos anos, a partir de 1956 e até 1972, data da extinção do bidonville" ter procurado "com grande determinação e uma inegável coragem, minorar o sofrimento de todos os que viviam no bairro de lata", justifica o comunicado da presidência.

Também o atual Presidente da Câmara de Champigny, o francês Dominique Adenot, vai receber o grau de Comendador da Ordem do Mérito, por "ter demonstrado um especial interesse e empenho junto da comunidade portuguesa e lusodescendente do município que dirige".
Condecoração de três antigos combatentes e três militares
São militares agraciados por se terem destacado no cumprimento de missões no âmbito nacional e internacional", três dos quais pela sua atuação no período final da guerra colonial, entre 1973 e 1974, um deles em Angola e dois em Moçambique, e outros três no ativo.

António Vitório Barriga Alves Nunes, 1.º cabo auxiliar enfermeiro da 3ª Companhia de Caçadores do Batalhão de Caçadores 4613, do Regimento de Infantaria n.º 16, por feitos praticados em Angola, em 2 de outubro de 1974, vai receber a Medalha da Cruz de Guerra de 3.ª Classe.

Vão receber a medalha da Cruz de Guerra de 4.ª Classe José António Baptista Santana, soldado do Agrupamento de Engenharia de Moçambique, por feitos praticados em 3 de setembro de 1973, e António Maria Alves, soldado de transmissões da Companhia de Artilharia n.º 3501, do Batalhão de Artilharia n.º 3876, do Regimento de Artilharia Ligeira n.º 5, por feitos praticados em Moçambique, em 18 de junho de 1974.

A Medalha da Cruz De Guerra destina-se a galardoar "atos ou feitos de bravura praticados em campanha por cidadãos, militares ou não, nacionais ou estrangeiros, sendo condição de atribuição da Medalha da Cruz de Guerra que os feitos praticados em campanha, frente ao inimigo, denotem coragem, decisão, serena energia debaixo de fogo e sangue frio".

O porta-voz do Estado-Maior General das Forças Armadas, tenente-coronel Hélder Perdigão, adiantou à Lusa que António Alves Nunes, enquanto cabo auxiliar enfermeiro em Angola, "estava debaixo de fogo e perseguiu um guerrilheiro armado que ficou ferido" e foi ele quem depois "socorreu e prestou primeiros socorros a esse guerrilheiro".

António Santana, soldado em Moçambique "reagiu sozinho contra o opositor durante 40 minutos", após uma emboscada que deixou os seus companheiros feridos, e António Maria Alves, soldado de transmissões em Moçambique, é um deficiente das Forças Armadas que ficou ferido em combate, com uma incapacidade superior a 60%, adiantou o porta-voz do Estado-Maior General das Forças Armadas.

Quanto aos militares no ativo, o coronel técnico operador de comunicações e de criptografia Armando de Jesus Marques Leitão, da Repartição de Informações Militares do Comando Aéreo, vai receber a Medalha de Serviços Distintos, Grau Prata.

A Medalha de Serviços Distintos destina-se a galardoar "serviços de caráter militar, relevantes e extraordinários, ou atos notáveis de qualquer natureza ligados à vida da instituição militar, de que resulte, em qualquer dos casos, honra e lustre para a Pátria ou para a própria instituição".

O sargento-chefe de Infantaria José António dos Santos Gouveia vai receber a Medalha de Serviços Distintos, Grau Cobre, por feitos praticados em 15 de abril de 2016, quando estava em missão no Kosovo.

O cabo telegrafista Luís Alberto Vasques Lopes, da Escola de Tecnologias Navais, vai receber a Medalha de Mérito Militar de 4.ª Classe, que galardoa "os militares que revelem excecionais qualidades e virtudes militares, pela afirmação constante de elevados dotes de caráter, lealdade, abnegação, espírito de sacrifício e de obediência e competência profissional".


c/Lusa

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