Portugueses "prejudicados" por compatriotas no acesso à Faculdade de Santiago de Compostela
Centenas de alunos portugueses fizeram a prova de selectividade para ingresso nas universidades espanholas, mas foram preteridos em benefício de compatriotas com médias inicialmente mais baixas que optaram pelo acesso directo, queixou-se uma encarregada de educação.
"Se os espanhóis se queixam que os lugares nas suas universidades estão a ser ocupados por portugueses, que não tiveram que fazer a prova de selectividade, também há centenas de portugueses que concorreram para Espanha e que se podem queixar do mesmo em relação a outros portugueses", referiu, à Lusa, aquela encarregada de educação.
Luísa Maria, de Vila Nova de Famalicão, disse à Lusa que a sua filha fez, no último ano lectivo, o 12º ano "português", mas, paralelamente, e como o seu sonho era estudar Medicina Legal na Faculdade de Santiago de Compostela, cumpriu também "uma espécie de 12º ano espanhol", num instituto particular.
"Tudo isto foi feito a pensar na tal prova de selectividade, que até aí era obrigatória para quem quisesse estudar em Espanha. Só que em Maio a lei foi alterada e passou a haver hipótese de acesso directo. Mesmo assim, e perante a indefinição e o desconhecimento geral dos contornos da lei, a minha filha - e como ela centenas de outros alunos - submeteu-se à tal prova", referiu.
O resultado é que a filha, Ana, que sem a prova de selectividade se poderia apresentar na Faculdade de Santiago de Compostela com uma média de 8,70 (numa escala de um a 10, em vigor em Espanha), que lhe garantia acesso automático, acabou por baixar para 7,92, ficando de fora.
"Neste momento, está a duas centésimas de entrar, mas em Barcelona, enquanto o que se vê é que outros alunos portugueses com médias mais baixas, mas que foram pelo acesso directo, estão já colocados e a estudar em Santiago de Compostela. Isto não é uma grande injustiça?", questionou Luísa Maria.
Disse ainda que, além de médias mais baixas, a maioria dos portugueses que entrou em Santiago "nem sequer `olá` sabe dizer em espanhol", enquanto que a filha "domina perfeitamente" aquela língua, depois de no último ano ter obtido um curso com "sete disciplinas em espanhol", entre as quais filosofia, literatura espanhola e matemática.
"Ela e centenas de alunos esfalfaram-se a estudar, para agora se verem preteridos por outros alunos portugueses que, espertos, foram à Internet, fizeram a sua matrícula por 40 euros e já lá estão", acrescentou.
Este ano, 50 das 300 vagas para o 1º ano na Faculdade de Medicina de Santiago de Compostela foram preenchidas por alunos portugueses, perante a contestação de pais e alunos dos estudantes galegos que não conseguiram entrar.
Os contestatários criticam as "facilidades" concedidas aos estudantes portugueses, que não foram submetidos, nem á prova de selectividade nem sequer à prova de competência linguística de galego ou castelhano, e defendem a necessidade de lhes ser imposto um "filtro" mais apertado.
"Se esse filtro tivesse existido, a minha filha estaria agora tranquilamente a estudar na universidade dos seus sonhos, sem favores de espécie alguma. Ou seja, não são apenas os galegos que se podem queixar dos portugueses, há portugueses que se sentem prejudicados em relação a outros portugueses", referiu Luísa Maria.
O director-geral de Ordenamento e Qualidade do Sistema Universitário da Galiza, José Ramón Leis, disse à Lusa que, até aqui, todos os alunos, incluindo os portugueses, tinham de passar a prova de acesso à universidade.
Referiu ainda que, este ano, isso já não aconteceu para os procedentes da União Europeia.
"Agora, acedem directamente com o sistema do seu país de origem, mas as suas provas de admissão não são menos estritas do que as de selectividade", disse.
Acrescentou que a UNED (Universidade Nacional de Ensino à Distância) foi encarregada pelo Ministério de Educação de Espanha de converter as notas para o sistema de pontuação espanhol e de verificar que cumprem as condições requeridas para o acesso aos cursos pretendidos.
Além disso, disse, os portugueses também já não têm de se submeter a provas de competência linguística de galego ou castelhano, o que era outro dos principais "filtros" à entrada de estudantes lusos na Faculdade de Medicina de Santiago de Compostela.
Esta alteração foi justificada, por José Ramón Leis, com a "similitude linguística" do galego e do português.
Este ano, a nota mínima de acesso à Faculdade de Medicina de Santiago de Compostela é de 8,4, o que significa que Ana, se não tivesse feito a prova de selectividade, teria vaga garantida.