Um colosso como o Ariane 5 não nasce sem um esforço comum por parte de vários atores ligados à indústria aeroespacial. Fases como a construção, lançamento e seguimento até órbita que têm por trás desta engrenagem muito cérebro e muito trabalho de engenharia. Parte deste trabalho é português.
Áreas de investigação cientifica que os qualifica também para a componente aeroespacial europeia. E é neste campo em particular que uma equipa permanente na base aeroespacial em Kourou tem vindo a participar em vários projetos da Agência Espacial Europeia.
Uma participação que começou com um engenheiro e que atualmente conta com uma equipa de sete pessoas, sendo que, do ponto de vista de Paulo Chaves, responsável pela área do Espaço e Aeronáutica do ISQ, a perspetiva é de crescimento.
“Nós temos um conjunto de técnicos e engenheiros que acompanham todo o processo [montagem do Ariane 5] desde a chegada das diferentes partes do veículo, do lançador, e dos satélites ao Centro Espacial. (…) Depois a parte do lançador tem de ser montada. (…) A equipa de engenheiros e técnicos do ISQ tem na Guiana Francesa participa em todo este processo”, refere Paulo Chaves à RTP.
"Bandeira portuguesa bem destacada"
A participação portuguesa é cada vez mais significativa no mercado da indústria aeroespacial. Marca disso mesmo é a "presença destacada", diz o responsável pela área do Espaço e Aeronáutica do ISQ, da bandeira portuguesa em Kourou. Mas apesar desta aparência, principalmente pela presença de empresas privadas portuguesas, não há por parte do Estado português uma forte aposta nesta área.
Apesar dos vários acordos firmados entre Portugal e a Agência Espacial Europeia (ESA), a bandeira portuguesa continua bem presa ao solo terrestre, mesmo com novos lançadores europeus previstos para o início da próxima década, como é o caso do Ariane 6. O Governo português decidiu alargar a participação na ESA ao programa opcional dedicado ao desenvolvimento dos futuros veículos espaciais; o Future Launchers Preparatory Programme.
"O que está a acontecer com o mercado dos lançadores é o que aconteceu com o mercado automóvel e depois com o mercado dos aviões. Ou seja, começa a haver uma segmentação em função das necessidades dos clientes". Paulo Chaves explica que existem várias tipologias de lançadores para as diferentes cargas que se quer colocar no espaço. Razão pela qual o ISQ não está a trabalhar exclusivamente no Ariane 5. O responsável português dá mesmo conta de que a crescente procura está a obrigar esta indústria a pensar no futuro e na criação de novos lançadores mais pequenos e mais baratos.
“Nós no ISQ estamos envolvidos, trabalhamos também no [lançador] VEGA, em Kourou. Estamos a trabalhar também com outras empresas portuguesas no desenvolvimento de tecnologia para micro lançadores e cargas uteis [satélites]. Efetivamente temos uma pegada bastante interessante em tudo o que tem a ver e com esta parte [Upstream] do setor espacial.
Entretanto, o Governo português decidiu alargar a participação na ESA ao programa opcional dedicado ao desenvolvimento dos futuros veículos espaciais; o Future Launchers Preparatory Programme. Uma decisão que pode abrir portas às empresas e academias portuguesas para os grandes integradores europeus que estavam a desenvolver os veículos espaciais do futuro.
Fase crítica após lançamento é seguida nos Açores
Desde há muito que os portugueses estão de olhos postos nos céus. Não para contemplar a abóbada celeste, mas com vista à monitorização e controlo do que é enviado e do que se encontra em órbita terrestre. É precisamente neste campo que se enquadra a empresa portuguesa Edisoft.
Dedicada ao ramo de desenvolvimento e integração de sistemas críticos para os setores Aeroespacial e da Defesa, esta empresa é ainda responsável, desde 2008, pela gestão da Estação de Rastreamento e Observação Remota de Santa Maria, nos Açores. Local onde é realizada grande parte dos rastreios dos lançadores da ESA.
Ricardo Conde é responsável pela coordenação da Estação e conta à RTP que toda esta aventura começou com a missão ATV-Ariane 5.
“A nossa estação é uma estação extremamente importante, porque de alguma forma está ligada ao sucesso da estação que é definida essencialmente nos oito primeiros minutos. Após o lançamento, passado oito minutos, o lançador está na visibilidade de Santa Maria”. Uma localização [geográfica] de extrema importância, refere Ricardo Conde, visto que se esta equipa não estiver ready a missão não se realiza.
Santa Maria à margem do 100.º lançamento do Ariane 5
"É uma grande pena, de facto", diz Ricardo Conde com uma espécie de amargo de boca à informação que a Estação de rastreio de Santa Maria não vai, desta feita, colaborar no rastreio do lançador europeu. A questão prende-se com o simples facto de o lançador estar programado para ser direcionado para a rota equatorial , explica o coordenador da Estação.
"É daquelas exceções. Nós não vamos seguir o Ariane, porque o Ariane vai ter uma trajetória equatorial. Porque nós seguimos só os lançamentos que são polares, ou com uma órbita inclinada. Portanto a Estação de Santa Maria não vai participar neste lançamento".