Portugueses consomem mais do dobro da dose recomendada de sal

por Agência LUSA

Os portugueses consomem mais do dobro da dose de sal recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), segundo vários estudos hoje divulgados pela Agência Portuguesa de Segurança Alimentar (APSA).

A OMS recomenda que a dose diária de sal não exceda as cinco gramas por dia (o equivalente a uma colher de chá), mas estudos nacionais e europeus indicam que os portugueses ultrapassam significativamente este valor, atingindo as 12 gramas diárias.

A média europeia é calculada pela Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (AESA) em oito a 11 gramas por dia.

A APSA reuniu hoje um painel de especialistas para falar sobre a relação entre o consumo de sal e os problemas de saúde, uma iniciativa enquadrada na comemoração do Dia Mundial da Alimentação que se assinala domingo.

Carla Lopes, investigadora do Serviço de Higiene e Epidemiologia da Faculdade de Medicina do Porto, salientou que o sal está associado a doenças como a hipertensão, sendo este o principal factor de risco dos acidentes vasculares cerebrais, a primeira causa de morte em Portugal.

Mas não é esta a única patologia associada ao consumo excessivo de sal, que foi também apontado como factor de risco para as insuficiências cardíacas, o cancro do estômago e a osteoporose.

A investigadora lamentou a ausência de dados objectivos sobre o consumo de sal na população portuguesa, mas baseou-se em estudos desenvolvidos pela Universidade Fernando Pessoa e pela AESA para indicar as 12 gramas diárias como valor médio do consumo em Portugal.

Carla Lopes sublinhou, por outro lado, que os problemas de saúde, como a hipertensão, não dependem só do abuso de sal, estando relacionados também com uma ingestão reduzida de outros minerais como o cálcio ou o potássio.

"O Plano Nacional de Saúde «esquece» o sal, limitando-se a sugerir a redução do consumo, sem indicar a quantidade a diminuir e as medidas para o conseguir", criticou.

Carla Lopes defendeu que devem ser estabelecidas metas para diminuir o consumo de sal e focou o papel da indústria alimentar para concretizar este objectivo.

As propostas passam por um "código de boas práticas nutricionais", incentivando os fabricantes a reduzir o sal nalguns alimentos, como os produtos de padaria, e pela rotulagem nutricional obrigatória, com os teores de sal ou sódio indicados sempre da mesma forma.

Ana Miranda, responsável de comunicação da APSA, frisou que a educação para um gosto menos salgado se deve fazer desde muito cedo e que as mães devem habituar as crianças desde bebés a não consumir tanto sal.

Salientando a importância de saber "escolher bem nos supermercados", escolhendo alimentos com baixo teor em sal ou em sódio, Ana Miranda desmistificou a "ideia feita de que os alimentos que têm sal são sempre salgados".

"Alimentos como o pão, os cereais e as bolachas também tem sal", lembrou esta responsável, acrescentando que entre 70 a 75 por cento do sal consumido provém de alimentos processados.

PUB