Portugal registou 2.099 mortes em 2003 devido à onda de calor

por Agência LUSA

A vaga de calor de 2003 terá provocado 2.099 mortes a mais em Portugal entre as 35 mil verificadas na Europa, revela um relatório europeu, que alerta para a existência de medidas para evitar situações semelhantes.

O documento sobre "Ambiente e Saúde", elaborado pela Agência Europeia do Ambiente e pelo Centro de Investigação Comum da União Europeia, constata uma "crescente relação" entre as alterações climáticas e a saúde, que se traduziu na morte de 35 mil pessoas na Europa na sequência da onda de calor verificada em 2003, em especial devido a desidratação.

Portugal registou nesse ano 2.099 vítimas mortais a mais, o Reino Unido 2.045 e a França 14.802, segundo o relatório, que alerta para o facto de existirem "cuidados médios pró-activos que podem combater o impacto" das ondas de calor, "em especial entre os grupos vulneráveis", o que levanta "questões de justiça social".

"As ondas de calor podem provocar mortes e doenças, especialmente entre os grupos vulneráveis, como os idosos e pessoas com doenças respiratórias e do coração", salientam os autores do estudo, que destacam a ocorrência de dias de "muito calor" nos últimos anos nos países do Mediterrâneo e Balcãs.

O documento realça ainda que outros factores devem ser tidos em conta no que respeita ao calor, nomeadamente as emissões poluentes.

Segundo os últimos dados oficiais da Direcção-Geral de Saúde portuguesa, o calor que se verificou entre 30 de Julho e 14 de Agosto de 2003 provocou 1.953 mortes a mais em Portugal, das quais 14 foram directamente atribuídas às altas temperaturas.

O facto ambiental com maior impacto na saúde é, no entanto, a qualidade do ar, responsável pelas doenças mais graves relacionadas com o meio ambiente.

Este factor é responsável, segundo a Organização Mundial de Saúde, citada pelo documento, pela morte de 100 mil pessoas por ano e a perda de 725 mil anos de vida, enquanto a Comissão Europeia estima que cerca de 350 mil pessoas morreram prematuramente em 2000 devido à poluição atmosférica causada por pequenas partículas.

Tal corresponde, segundo o documento, a uma perda de nove meses de esperança de vida, em média, de cada cidadão da UE.

Ao mesmo tempo, estimativas indicam que 20 milhões de europeus sofrem de problemas respiratórios todos os dias e, embora a relação com o ambiente nem sempre seja possível de fazer, certo é que as partículas estão associadas a um aumento da mortalidade, especialmente devido a doenças cárdio-pulmonares.

Também a asma tem aumentado na Europa, com um custo que chega aos três mil milhões de euros por anos, sendo claro que as pessoas que padecem da doença, particularmente as crianças, são sensíveis à qualidade do ar.

Actualmente, cerca de sete por cento das crianças europeias entre os quatro e os dez anos têm problemas de asma.

Além disso, os actuais níveis de ozono provocam sérias implicações na saúde, provocando mais de 20 mil mortes por ano.

Também a poluição nos espaços fechados é responsável por inúmeros problemas de saúde, tais como o cancro, alergias, angústia, problemas de concentração e de sono e asma.

Ao mesmo tempo, a exposição a químicos - com os quais os cidadãos podem tomar contacto através dos alimentos ou da água - são ainda responsáveis por doenças a curto e longo prazo, como o cancro.

Também o ruído prejudica a saúde dos europeus, provocando distúrbios no sono, efeitos cardiovasculares e pobre desempenho no trabalho e escola.

Outro dos exemplos apresentados está ligado com os próprios ecossistemas, com sérios efeitos na saúde humana devido a desastres como as inundações e os fogos florestais.


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