Um estudo realizado à escala europeia revela que Portugal é o quarto país com maior nível de pobreza energética, com um elevado número de famílias que não conseguem manter as casas quentes durante o inverno e frescas durante o verão. O frio presente nas habitações de todo o país estará na origem de quase 25 por cento das mortes no Inverno, sendo os idosos os mais afetados.
O fator que mais contribui para esta avaliação é a má qualidade de construção das habitações, sendo que muitas apresentam elevados níveis de humidade e telhados com fugas.
O país revela incapacidade de manter as casas quentes no inverno e frescas no verão, o que está relacionado com o peso elevado das faturas de energia no orçamento doméstico e com a utilização de equipamentos de climatização de baixa eficiência, como lareiras, aquecedores elétricos ou ventoinhas.
O estudo dita que 24,9 por cento das mortes no Inverno em Portugal se devem ao frio causado pelas más condições das casas. No Verão Portugal também é dos países europeus mais afetados, com uma elevada exposição aos impactos do calor por falta de isolamento nas casas e de equipamentos eficazes.
Os piores resultados deste estudo foram atribuídos à Bulgária, Hungria e Eslováquia, cujos níveis de pobreza energética são “extremos”. Já a Suécia e a Finlândia encontram-se no topo da tabela, com níveis “baixos”, significando que as regiões mais frias da Europa são as que mais conseguem manter as casas quentes.
Frio na origem de mortes prematuras
A Organização Mundial da Saúde estima que a exposição crónica ao frio, a humidade e fungos estejam na origem de 100 mil mortes prematuras por ano na Europa.
Francisco Ferreira, presidente da associação ambientalista ZERO, frisa que Portugal é um país "onde o bem-estar e até algumas mortes prematuras acabam por ter lugar (...) porque não conseguimos viver confortavelmente".
"Passamos mais frio em Portugal do que os dois países que ganham este ranking", sublinhou, referindo-se à Suécia e à Finlândia, onde as temperaturas são mais baixas mas o aquecimento das casas é mais elevado.
De acordo com o relatório, as crianças que vivem em casas frias e húmidas possuem mais do que o dobro da probabilidade de vir a ter problemas de respiração ou bronquite, sendo que mais de 40 por cento arriscam vir a sofrer de asma.
Em comunicado, a associação ZERO diz exigir ao Governo “a proposta de soluções, nomeadamente apoios simplificados para salvaguardar as pessoas em condições socioeconómicas mais vulneráveis”.
O estudo conclui, assim, que 17 dos 28 países da União Europeia revela níveis significativos de pobreza energética e que, para tal, contribuem mais os fatores socioeconómicos do que as condições meteorológicas.
A “inação dos decisores políticos” e a ausência de um programa para a melhoria do isolamento térmico “que contribua para a redução do peso das faturas” de energia são, de acordo com o estudo, as principais falhas no que toca a este tipo de pobreza.