Reportagem

Portugal comemora 50 anos da Revolução dos Cravos. Acompanhe ao minuto

por Joana Raposo Santos, Ana Sofia Rodrigues, Inês Geraldo - RTP

Portugal celebra esta quinta-feira o 50.º aniversário do 25 de Abril com um programa de comemorações alargado, que inclui a tradicional sessão solene no Parlamento e o desfile na Avenida da Liberdade, em Lisboa, mas com iniciativas em todo o país. Acompanhamos aqui, ao minuto, o Dia da Liberdade.

Emissão RTP3


Tiago Petinga - Lusa

Mais atualizações Voltar ao topo
Momento-Chave
por RTP

Vasco Lourenço disse que há retrocesso na justiça social nos últimos anos

Foto: José Sena Goulão - Lusa

O fundador e presidente da Associação 25 de Abril lamentou a atual situação do país.

PUB
por RTP

"Grândola, Vila Morena" mandou as tropas para a rua

A ordem para a saída das tropas foi dada por uma canção. "Foi a Grândola Vila Morena", na Radio Renascença.

PUB
por Teresa Borges - Antena 1

Presidente da República promete guardar as memórias e as lições do passado colonial

Foto: Miguel A. Lopes - Lusa

Um dia depois das críticas às declarações do chefe de Estado num jantar com os correspondentes estrangeiros em Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa esteve esta tarde no Centro Cultural de Belém, numa sessão evocativa dos 50 anos do 25 de Abril, com chefes de Estado dos países africanos de língua oficial portuguesa e Timor-Leste.

Marcelo ouviu um apelo do presidente de Moçambique para que assuma os erros do passado.

Uma sessão onde o presidente da República foi breve nas palavras que teceu sobre o colonialismo.
PUB
por RTP

"Há 50 anos". A primeira emissão informativa em liberdade

Primeira edição do Telejornal de 25 abril de 1974 estava prevista para as 13h45. Mas a emissão informativa - a primeira em liberdade, sem censura - só foi emitida às 18h40.

A essa hora, já o regime tinha "caído" aqui no Largo do Carmo e o poder entregue à Junta de Salvação Nacional, a que apareceu pela primeira vez às 23h30 nos ecrãs da RTP.
PUB
Momento-Chave
por RTP

Os lugares por onde passou a revolução

Em 50 anos, muito mudou em Lisboa. Mas os lugares por onde passou a revolução ainda cá estão.

PUB
por RTP

25 de Abril também foi comemorado nas casas onde se exerce o poder político

O palácio de São Bento, o Palácio de Belém e a Assembleia da República abriram as portas ao público.

PUB
por RTP

50 anos depois, a coluna de Salgueiro Maia voltou a sair

50 anos depois, a coluna de Salgueiro Maia voltou a sair da Escola Prática de Cavalaria de Santarém e a subir da Baixa ao Carmo. Recriando dois momentos cruciais do 25 de Abril, e reativando as memórias fortes dos militares que fizeram a revolução.

Desta vez, na companhia de uma equipa de reportagem da RTP.
PUB
por RTP

Largo do Carmo, epicentro da Revolução

Há 50 anos uma multidão assistia de perto, precisamente neste largo, a um dos momentos mais tensos da história do 25 de abril.

Foi aqui no Quartel do Carmo da GNR que Marcello Caetano se refugiu e que horas mais tarde acabaria por aceitar a rendição.

Enquanto as tropas se alinhavam à porta do quartel, lá dentro o pânico estava instalado com uma ordem clara: ninguém podia sair.

A RTP falou com o Coronel Chartier Martins que testemunhou a queda do regime dentro do quartel e ainda com o jornalista Adelino Gomes que durante horas relatou tudo o que aconteceu naquele dia 25 de abril de 1974.
PUB
por RTP

Discursos do 25 de Abril entre críticas ao PR e as ameaças à democracia

Foto: José Sena Goulão - Lusa

CDS, Chega e Iniciativa Liberal criticaram o presidente da República. Marcelo Rebelo de Sousa tinha defendido que Portugal devia reparar os crimes do colonialismo, declarações contestadas pelos três partidos. Já a área socialista alertou para o que considerou serem ameaças à democracia.

PUB
por Antena 1

Bastonária dos advogados fala em reconhecimento na condecoração do PR aos defensores dos presos políticos

José Sena Goulão - Lusa

O Presidente da República condecorou hoje, 25 de Abril, catorze advogados que defenderam os presos políticos durante o Estado Novo. Os advogados foram agraciados por com o grau de grande-oficial da Ordem da Liberdade.

A bastonária da Ordem dos Advogados, fala numa condecoração merecida.

Fernanda Almeida Pinheiro destaca à Antena 1 a coragem dos advogados, na defesa dos presos políticos, em tempo de ditadura.

A bastonária considera que esta ocasião serve para recordar às novas gerações o legado destes advogados, bem como assinalar a importância da advocacia.

Os 14 advogados condecorados representaram, durante o Estado Novo, os presos da ditadura, nos tribunais plenários de Lisboa e do Porto, criados para julgar crimes que o regime considerava serem contra a segurança do Estado e que davam cobertura à atuação dos agentes da PIDE.
PUB
Momento-Chave
por RTP

Vítimas da PIDE homenageadas na Assembleia da República

O novo presidente da Assembleia da República lembrou as últimas vítimas da PIDE.

José Pedro Aguiar Branco convidou as famílias ao parlamento para lhes prestar homenagem.
PUB
por Antena 1

"Quando Abril fica em perigo as pessoas vêm reafirmar o valores da Liberdade"

Foto: António Cotrim - Lusa

As ruas das principais cidades portuguesas encheram-se esta tarde para comemorar os 50 anos da liberdade. Em Lisboa foram milhares os portugueses que participaram no desfile habitual, desde o Marquês de Pombal ao Rossio.

O fundador e presidente da Associação 25 de abril faz um balanço positivo do desfile na Avenida da Liberdade, e diz que quando há forças que pretendem por em causa os direitos conquistados há 50 anos, com o povo a responder com o reafirmar dos valores de Abril.

Em declarações à Antena 1, Vasco Lourenço sublinha ainda que não é só em Portugal que há interesse em torno das comemorações do Dia da Liberdade.

Vasco Lourenço, capitão de Abril, acredita ainda que a mobilização ao longo do dia tem também uma leitura politica.

No Porto, a liberdade também se mostrou nas ruas com um dos maiores desfiles vistos na cidade invicta.

Milhares de pessoas demoram cerca de três horas a percorrer as ruas da cidade, entre a antiga sede da Pide, na rua do Heroísmo e a Avenida dos Aliados.

A repórter Isabel Cunha registou alguns dos momentos das comemorações que aqui reproduzimos.

PUB
por RTP

"Falta garantir esta liberdade". Milhares de portugueses celebraram nas ruas

Foto: Tiago Petinga - Lusa

Ao longo da tarde de quinta-feira, milhares de pessoas desfilaram em Lisboa, no Porto e Coimbra para celebrar os 50 anos do 25 de abril.

Em Faro não se realizou o desfile anunciado pela autarquia por falta de coordenação e por falta de adesão das pessoas.
PUB
Momento-Chave
por RTP

Presidente pede humildade e inteligência para preferir sempre a democracia

Foto: José Sena Goulão - Lusa

O Presidente pediu humildade e inteligência para preferir sempre a democracia à ditadura.

Na sessão solene do 25 de abril no parlamento, Marcelo Rebelo de Sousa disse que Portugal prefere uma democracia menos perfeita, mas com maior qualidade económica.
PUB
Momento-Chave
por RTP

Depois de mais de quatro horas o desfile na Avenida chega ao fim

Foi um dos maiores de sempre neste último meio-século. Politicamente, juntou os partidos de esquerda e a Iniciativa Liberal, assim como representantes de sindicatos e outras associações. 

Pela primeira vez, o presidente da Assembleia da República desfilou pela Avenida junto com milhares de pessoas anónimas, cada uma com a sua história, que fomos acompanhando ao longo do dia.

Recordamos o fim do desfile ao som de "Grândola Vila Morena". 
PUB
por RTP

Eugénio Ruivo estava preso e conta a emoção de se aperceber do que se passava

O antigo resistente, que estava detido em Caxias, desfilou esta tarde na Avenida, recordando o seu testemunho levando consigo uma enorme fotografia.
PUB
Momento-Chave
por RTP

As comemorações do 25 de Abril também passam pelo posto de Comando das Forças Armadas

No local, na Pontinha, tem estado a jornalista Ana Luísa Rodrigues.

PUB
por Lusa

Cabo Verde quer candidatar Tarrafal à UNESCO até 2026

Cabo Verde quer candidatar o antigo campo de concentração do Tarrafal à UNESCO até 2026, num processo que envolve Portugal, Angola e Guiné-Bissau e que espera "equilibrar" a distribuição continental da lista de património mundial.

"Da lista atual de sítios classificados como património mundial, apenas 8% são africanos", salientou a presidente do Instituto do Património Cultural (IPC) cabo-verdiano, Samira Baessa, durante a apresentação da estratégia do país para a candidatura do sítio a Património Mundial.

A candidatura, segundo a mesma responsável, decorrerá na categoria cultural e será a primeira transnacional - ao juntar outros paises - de um sítio africano.

Para isso, o país já enviou um memorando de entendimento a Portugal, Angola e Guiné-Bissau, que espera ser assinado até 10 de maio, quando terminam as celebrações dos 50 Anos do 25 de Abril e do encerramento do Campo de Concentração do Tarrafal.

Além do "diálogo" internacional, Cabo Verde quer envolver a sociedade civil para que a candidatura seja "do povo" e para homenagear os antigos presos políticos.

"O trabalho duro será comprovar que o sítio tem valor que ultrapassa as fronteiras nacionais", frisou a presidente do IPC, estimando que o dossiê possa ser submetido na UNESCO entre 2025 e 2026.

"Será um processo relativamente complexo e longo", avisou Samira Baessa, vincando que será uma "candidatura vencedora" e que vai "valorizar a memória".

A presidente do IPC apontou como "condições básicas" da candidatura, a classificação do sítio a património nacional, em 2004, a sua integração na lista indicativa de património da UNESCO, bem como a sua reabilitação e musealização e a "convergência de vontade" com os quatros países.

Quanto aos procedimentos, avançou que será publicada no Boletim Oficial a intenção formal da candidatura, a formalizar junto ao centro do património mundial e será pedida assistência técnica internacional.

Durante a cerimónia de apresentação, que aconteceu hoje, no antigo campo e que contou com a presença do ministro da Cultura cabo-verdiano, Abraão Vicente, os Correios de Cabo Verde lançaram um selo postal alusivo aos "50 Anos do 25 de Abril e da Democracia", em parceria com Portugal, e que tem um cravo como elemento identificador.

Os presidentes de Cabo Verde, Angola, Guiné-Bissau e Portugal, os quatro países de origem dos presos, celebram a 01 de maio os 50 anos da libertação do Tarrafal -- uma placa memorial no local assinala os nomes dos 36 mortos pela ditadura colonial portuguesa.

A maioria, 32 mortos, eram portugueses que contestavam o regime fascista, presos na primeira fase do campo, entre 1936 e 1956.

Reabriu em 1962 com o nome de Campo de Trabalho de Chão Bom, destinado a encarcerar anticolonialistas de Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde -- e onde morreram dois angolanos e dois guineenses.

Ao todo, mais de 500 pessoas estiveram presas no "campo da morte lenta".

PUB
por RTP

Alfredo Cunha, um dos mais célebres fotógrafos do 25 de Abril regressa aos mesmos lugares

Uma emoção enorme, reconhece. Alfredo Cunha diz que sente hoje o mesmo espírito que invadiu as ruas há 50 anos.
PUB
por Lusa

PS, BE, PCP e IL enaltecem participação massiva no desfile em Lisboa

 Os líderes de PS, BE, PCP e IL enalteceram hoje a participação cívica massiva no desfile popular que assinalou os 50 anos do 25 de Abril de 1974, em Lisboa, apesar das visões distintas para o futuro do país.

"É um ótimo sinal, é extraordinária esta participação massiva do povo português neste desfile, a celebrar os 50 anos do 25 de Abril com uma força, um entusiasmo de quem não quer andar para trás, de quem vai travar e dar combate a qualquer retrocesso social, económico ou cultural. O povo está cá para salvaguardar, proteger os valores de Abril, a nossa democracia política, mas social e cultural também", defendeu o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos.

O líder socialista falava aos jornalistas no desfile popular que assinalou os 50 anos do 25 de Abril de 1974, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, onde se juntou a vários militantes da Juventude Socialista, já sem o fato e gravata que usou na cerimónia solene comemorativa no parlamento, mas mantendo o cravo ao peito.

Pedro Nuno Santos manifestou-se confiante de que o PS vai vencer as eleições europeias de junho e que irá ganhar novamente umas legislativas - "e não há de faltar muito" -- apesar da "viragem à direita", e salientou que os cidadãos ainda "enfrentam muitos problemas" no estado social, nos serviços públicos ou na habitação.

"Mas é o PS e a esquerda no geral que está mais preparada para dar resposta a esses problemas, não é a direita, nunca foi a direita. Nós governamos para a maioria do povo, a direita para a minoria", criticou.

Mais atrás, na reta final do desfile, como tem sido habitual, uma comitiva da Iniciativa Liberal também se juntou à manifestação popular, com Rui Rocha a lembrar que o seu partido participa neste momento desde que foi fundado, "mesmo quando quiseram tentar que não" estivessem.

O liberal saudou a participação cidadã no desfile, considerando-a "um bom sinal".

"O 25 de Abril é uma data determinante da liberdade e, portanto, ver tantos portugueses que se juntam em festa, com diferentes visões políticas, com diferentes visões para o país, que se juntam para celebrar essa data que une os democratas e os que amam a liberdade, isso é fantástico", defendeu.

Ladeado do antigo líder da IL e atual cabeça-de-lista para as eleições europeias, João Cotrim de Figueiredo, Rui Rocha pediu que a participação no desfile desta tarde se reflita na votação de junho, esperando que haja também uma "enorme participação".

Contrariamente a Pedro Nuno Santos, Rui Rocha considerou que ainda faltará muito tempo "até os portugueses esquecerem todas as consequências da governação socialista".

À esquerda, a coordenadora do BE Mariana Mortágua, rejeitou estar perante uma manifestação mas sim "uma ocupação pela liberdade", falando num "país inteiro que saiu à rua".

"Há uma maioria de gente que sai à rua nos 50 anos e não é só para celebrar o 25 de Abril, para marcar um dia simbólico, é para marcar uma posição: para dizer que em Portugal a democracia não se negoceia, a democracia não está em causa, há uma maioria de pessoas que apoia a democracia, que defende a democracia, que acha que é o melhor sistema para Portugal", considerou.

"Acredito que hoje tanta gente saiu à rua nas suas diferenças políticas, ideológicas, mas para afirmar esse princípio fundador: da igualdade, da liberdade, da justiça e da democracia", disse.

Também o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, enalteceu a participação massiva, expressiva" e até "emotiva" manifestada pelos cidadãos, classificando-a como "uma grande afirmação de Abril".

O comunista alertou que ainda subsistem problemas no acesso à saúde, educação, e na habitação.

"Há aqui uma afirmação de Abril e, simultaneamente, da exigência que se cumpra Abril na vida das pessoas", afirmou.

ARL/MCA/FAC // SF

Lusa/Fim

PUB
Momento-Chave
por RTP

Marcelo Rebelo de Sousa encerra Sessão Evocativa

Há 50 anos, "a liberdade renascia contra a repressão" e "a descolonização encerrava cinco séculos de império", afirma o presidente da República Portuguesa.

Num curto discurso, de menos de quatro minutos, o chefe de Estado descreveu esta sessão como um encontro "de futuro" e fez breves referências ao passado colonial.

"Hoje no meio século do 25 de abril, agradeço, em nome de Portugal", a honra da presença dos mais altos representantes dos países nascidos do tempo colonial, acrescenta Marcelo Rebelo de Sousa, no encerramento da Sessão Evocativa do 25 de Abril.

"Do passado livre dos últimos 50 anos retiramos a inspiração para irmos mais longe na afirmação da força do nosso futuro, na língua, na cultura, na ciência, no Estado de direito, na sociedade, na economia, na diplomacia da paz, do desenvolvimento sustentável, da luta contra a pobreza, da ação climática, do respeito pelo direito internacional e os direitos humanos, do multilateralismo, do universalismo", acrescentou.

"Assim será para sempre".


"Nós o prometemos, neste encontro do futuro. Viva o 25 de Abril, vivam as pátrias e os povos irmãos que o 25 de Abril uniu há 50 anos. Viva Angola, viva Cabo Verde, viva a Guiné-Bissau, viva Moçambique, viva São Tomé e Príncipe, viva Timor-Leste, viva o precursor Brasil, viva a CPLP, viva Portugal, livre e democrático, 50 anos depois", exclamou.
PUB
por RTP

Ramos Horta realça que portugueses aceitaram a independência das colónias

O presidente da República de Timor- Leste elogiou a tenacidade e coragem da luta contra o regime de ditadura em Portugal, mas também nas colónias, e elogiou o facto de depois da revolução não houvesse ódios e vinganças. "A reconciliação foi um processo natural", frisou.

Ramos Horta agradeceu o apoio para mais tarde conseguirem a independência.

O presidente timorense aproveitou para criticar o papel "vazio" do Conselho de Segurança das Nações Unidas, incapaz de reagir com eficácia. "Deixou de representar o mundo do século XXI", diz Ramos Horta.

Portugal soube reconhecer a derrota colonial e que a reconciliação com os países vencedores aconteceu rápida, imediata e naturalmente.

"Os portugueses souberam reagir às mudanças sem ódio nem vinganças, sem fuzilamentos, sem guerra civil, aceitaram as independências e lutaram connosco pelo longínquo Timor", disse Ramos-Horta durante a sua intervenção na cerimónia de comemoração dos 50 anos do 25 de Abril, que juntou todos os presidente dos países africanos lusófonos, hoje em Lisboa.

"[Os portugueses] não viraram as costas, e as sociedades e os líderes das novas nações independentes souberam igualmente, com verdadeira grandeza de vencedores, saudar Portugal e as relações de amizade foram consolidadas", acrescentou o chefe de Estado timorense, notando que "a normalização das relações com o antigo poder colonial foi imediata, a reconciliação foi natural e o processo foi célere".

Na intervenção, Ramos-Horta fez a distinção entre o Portugal antes da revolução, "asfixiado e isolado", com o país que se seguiu, exclamando: "Quanto mudou para melhor, para muito melhor, em todas as vertentes!".

Criticando as guerras que ocupam as primeiras páginas dos jornais "e as outras em todo o mundo que não chegam à comunicação social", Ramos-Horta disse que a cerimónia de hoje em Lisboa "honra a coragem de quem lutou pela liberdade e renova os compromissos com valores democráticos que definem as nossas nações".

Na intervenção feita esta tarde em Lisboa, o Presidente timorense disse ter "orgulho nos PALOP" (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) e disse que os timorenses são "eternamente gratos pela fraterna solidariedade durante os anos negros da jornada pela independência".

Com Lusa
PUB
por RTP

Carlos Vila Nova. "Não nos é permitido falhar" na defesa da democracia

"Devemos curvar-nos em sinal de profundo respeito às vítimas do regime ditatorial", afirma Carlos Vila Nova, presidente de São Tomé e Príncipe. 

"Em memória dessas mulheres e homens, não nos é permitido falhar na imunização da democracia e das suas instituições". 

Criticando a "teimosia colonial" portuguesa, considera ainda que esta era uma "nação a guerrear contra a História". 

Com o 25 de Abril, Portugal pôs-se "do lado certo da História", considerando que a liberdade advinda da revolução em Portugal deveu muito à luta dos povos africanos.
PUB
por RTP

"Nossos povos sempre lutaram pela liberdade, justiça e democracia", lembra Filipe Nyusi

O presidente de Moçambique lembra que ambos os povos lutaram contra a guerra colonial, uma "guerra injusta".

Estavam juntos na luta contra o perpetuar de um Império, argumentando que a Revolução portuguesa foi precipitada pelo acelerar e intensificação das lutas anticoloniais em África.

"É preciso que nas nossas escolas, em Portugal e nos países da lusofonia ensinemos a verdade: o 25 de Abril foi construído em Portugal, em Angola, em Moçambique, em São Tomé e Príncipe, na Guiné-Bissau e em Cabo Verde, e a nossa presença nesta efeméride é um tributo merecido aos heróis da luta anticolonialista e aos jovens capitães portugueses que a 25 de abril puseram fim a um regime que subjugava os nossos povos", disse o Presidente moçambicano.

Falando durante a sua intervenção na cerimónia que assinala os 50 anos do 25 de Abril, e que junta no Centro Cultural de Belém os Presidentes dos países das antigas colónias, com exceção do Brasil, representado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Filipe Nyusi afirmou que esta efeméride é "a celebração da vitória numa luta partilhada".

No discurso, o chefe de Estado moçambicano vincou que quem estava em guerra não eram os povos português e moçambicano, mas sim soldados que eram obrigados a cumprir ordens "de um regime fascista" de que os jovens tinham dificuldade em escapar, por um lado, e um povo unido pelo desejo de liberdade, do outro.

"Apreciamos a postura dos líderes da nova geração portuguesa, pautada por elevada estatura moral e humanismo", disse Nyusi, acrescentando que "Portugal reconhece erros cometidos contra os povos que lutaram pela liberdade, erros que são indesculpáveis, desonram a nossa história e merecem a condenação de quem respeita a vida e a dignidade humana".

Isso, no entanto, não afasta as boas relações entre Portugal e os países da lusofonia, continuou Nyusi, apontando como exemplo o facto de os presidentes dos países africanos lusófonos terem todos aceitado o convite para vir a Lisboa celebrar o 25 de Abril.

"O convite para vir aqui é muito propositado, mas mesmo não sendo convidado, eu vinha na mesma, como se faz nos aniversários de família", gracejou Nyusi, logo no início da intervenção, que surge na mesma semana em que uma delegação de mais de 80 empresários moçambicanos esteve na região do Porto, Sines e Lisboa para fomentar os negócios entre os dois países.

"A presença em massa dos nossos países para celebrar o 25 de Abril evidencia que os povos lusófonos estão unidos por histórias comuns, os laços entrelaçam-se e cristalizam-se, e Marcelo Rebelo de Sousa está de parabéns por juntar a família que ontem lutou pelo sorriso das crianças de hoje", disse Nyusi, concluindo: "Os moçambicanos estão aqui para reafirmar o seu interesse em continuar a fortalecer relações de amizade com o povo português e com os outros povos irmãos da lusofonia, estaremos juntos para sempre".

com Lusa
PUB
por RTP

Presidente da Guiné-Bissau. "Um feito histórico inesquecível"

Umaro Sissoco Embaló, presidente da República de Guiné-Bissau considera o 25 de Abril "um feito histórico inesquecível" mas acrescenta que depois disso "nada foi fácil, foi preciso vencer resistências".

O presidente guineense lembra ainda a naturalidade da convergência de interesses entre os que "lutavam contra o império e os que lutavam contra a ditadura". 

O povo guineense orgulha-se de ter dado uma contribuição histórico" à resistência e à Revolução de Abril, refere. 
Umaro Sissoco Embaló, manifestou especificamente o "orgulho" do povo guineense de ter dado "o contributo original" para a transformação histórica que culminou na Revolução de Abril, na descolonização, e na democracia nos PALOP.

Sissoco Embaló recordou que há 50 anos, quando se deu o 25 de Abril, o "povo guineense em luta - dirigido pelo Partido Africano para a Independência da Guin+é e Cabo Verde (PAIGC) de Amílcar Cabral - já tinha proclamado unilateralmente a sua própria independência nacional, o seu próprio Estado" e este "evento histórico relevante" em 24 de Setembro de 1973, foi reconhecido "por uma larga maioria" dos membros da ONU.

"A evocação da Revolução portuguesa do 25 de Abril convoca imediatamente para uma reflexão conjunta das lutas de libertação nacional dos nossos povos", disse Embaló, sublinhando a ocorrência de "dois processos históricos que se cruzavam".

Estes dois processos, disse, "tinham em comum uma mesma aspiração", liberdade e libertação nacional, pelo que não foi "de estranhar que uma convergência estratégica -- entre os combatentes contra o Império e os combatentes contra a ditadura - começasse a ganhar, pouco a pouco, maior densidade, maior força".

Sissoco Embaló discursava em Lisboa durante a sessão comemorativa do 50.º aniversário do 25 de Abril de 1974, que contou com a participação de chefes de Estado dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e Timor-Leste.

"A memória coletiva dos nossos povos guarda uma certeza inabalável: a revolução do 25 de Abril de 1974 acabou com a guerra", sublinhou ainda, recordando que esta começou em Angola, se estendeu à Guiné e, depois, a Moçambique.

"De facto, acabar com a guerra foi o propósito primordial que animou os Capitães de Abril", e "tratou-se, sem dúvida, de um feito histórico inesquecível", declarou.

Foi também o 25 de abril, disse ainda, que "abriu caminho à implementação do conceito de descolonização consagrado na Carta da Organização das Nações Unidas", recordando, porém, que, não obstante o "sucesso de abril", "foi preciso vencer ainda muitas resistências", ilustradas pelo facto de Portugal apenas proclamar oficialmente o princípio da autodeterminação das suas ex-colónias "em 27 de julho de 1974 - três meses após a revolução do 25 de Abril".

com Lusa
PUB
por RTP

José Maria Neves. 25 de Abril "pôs termo a um colonialismo serôdio"

José Maria Neves, presidente da República de Cabo Verde, considera que "o 25 de Abril é um património coletivo e de que nos orgulhamos".

Celebrar o 25 de abril é um "dever de memória" para "não se repetir um passado que se quer distante", afirma, invocando a defesa da paz e da dignidade da pessoa humana.

A revolução pôs termo "a um colonialismo serôdio", acrescentou, e "inaugurou-se uma nova era". 

Num olhar sobre o futuro, sublinhou ser "tempo de pensar os nossos sonhos para os próximos 50 anos, lembrando que há um sentimento de que a democracia está a ser carcomida", "tempos disruptivos" em que é necessário manter a vigilância.
José maria Neves sublinhou que a "manifesta incapacidade" dos governos em responder às exigências dos cidadãos conduz a fenómenos como o populismo nos países desenvolvidos e à tomada do poder pelos militares nos estados pobres.

"No dealbar do século XXI, surgem sinais que despertam, naturalmente, muita preocupação. Há um sentimento de que a democracia está a ser carcomida, assiste-se a um recuo efetivo e a fortes ameaças", disse.

Para José Maria Neves, "a globalização tem conduzido ao empobrecimento e compressão da classe média, nos países desenvolvidos, e ao aumento das desigualdades entre e nos diferentes países".

"Tem havido, por outro lado, um aumento da polarização social e política -- os consensos são cada vez mais difíceis -, a fragilização das instituições que são importantes instrumentos de intermediação entre o Estado e a sociedade e participantes destacados na formação de políticas públicas", disse.

E acrescentou que se constata ainda "uma manifesta incapacidade dos governos em responder à complexidade da ecologia política e às demandas e exigências dos cidadãos e da sociedade civil".

"Se nos países desenvolvidos tal quadro tem possibilitado o alastramento do populismo, do nacionalismo, da xenofobia, do racismo, do repúdio a imigrantes, e adubado a crise dos partidos políticos, a pregação da antipolítica e do antiliberalismo, bem como de teses negacionistas, a disseminação de `fake news` e do discurso do ódio, nos países pobres, onde as instituições são mais débeis, tem resultado em ruturas constitucionais e na assunção do poder pelos militares", observou.

Para o chefe de Estado e antigo primeiro-ministro cabo-verdiano, "é notório um certo desencanto e uma degenerescência dos partidos políticos tradicionais, da política e dos políticos".

"Os eleitores mostram-se cada vez mais céticos sobre a saúde das suas democracias e questionam se os seus governos foram eleitos de forma transparente", prosseguiu.

Para José Maria Neves, "com a revolução dos cravos, inaugurou-se uma nova era, muito na linha do sonho de Amílcar Cabral, cujo centenário [do nascimento] se celebra este ano".

"Conquistada a independência, deveriam ser construídas as mais sólidas e especiais relações de amizade e cooperação entre estes novos países e o Portugal democrático. Ainda bem que o relógio da história avançou e se inaugurou um novo tempo, com vontade mútua, infelizmente não muito comum nos tempos que correm, de reforço contínuo das relações".

"Meio século depois desse fantástico acontecimento histórico, temos todos razões de orgulho e reconforto. Caiu um regime que a todos oprimia e nasceram novos Estados soberanos", disse.
PUB
por RTP

João Lourenço, presidente de Angola. "A nossa causa era a mesma do povo português, juntos lutámos e juntos vencemos"

João Lourenço inicia os discursos na cerimónia do CCB, lembrando que "os povos africanos colonizados por Portugal lutavam desde o século XV contra a colonização portuguesa e suas consequências, como a escravatura e a pilhagem das nossas riquezas".

"Lutávamos pela nossa dignidade", sublinha e pelo "direito a decidir os nossos destinos", acrescenta o presidente de Angola, antes de equiparar a luta contra o regime de Salazar com a luta de resistência nas colónias africanas portuguesas.

João Lourenço, defende ainda que o desafio que as ex-colónias têm atualmente é "o da consolidação da democracia, da diversificação e fortalecimento" das suas economias.
PUB
por Lusa

Uma dezena de angolanos critica presença de PR João Lourenço nas comemorações

Cerca de uma dezena de angolanos juntaram-se hoje em frente ao Centro Cultural de Belém criticando a presença do Presidente da República de Angola na cerimónia que junta em Lisboa vários chefes de Estado lusófonos.

"Estou aqui para mostrar o meu descontentamento com o facto de Portugal convidar o Presidenta da República de Angola, uma vez que João Lourenço é antidemocrata e um ditador, e no entanto é convidado para a festa da democracia", disse à Lusa a manifestante Finúria Silvano, que em conjunto com cerca de uma dezena de manifestantes entoavam "Lourenço é ditador".

"Em Angola não temos condições nenhumas, e o Presidente vem aqui, desfila, gasta um balúrdio só para a viagem, enquanto há pessoas a morrer nos hospitais por falta de medicamentos, não há educação, não há saneamento, nós não temos nem o básico", disse a manifestante, considerando que Portugal está a legitimar um ditador pelo convite para a celebração dos 50 anos do 25 de Abril, numa cerimónia que decorre no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

João Lourenço, concluiu, "só ganhou as eleições metendo armamento na rua, há fotos, não podemos sair para manifestações senão morríamos, em Angola se alguém fala uma verdade, é morto, não há democracia, não há liberdade de expressão, as televisões são compradas e temos de fazer tudo nos nossos telefones, felizmente há internet, porque se isto [a conversa com a Lusa] fosse em Angola, não podíamos falar, já havia tiros e alguém já estava na cadeira".

Entre as várias palavras de ordem que estes manifestantes iam entoando, ouvia-se também: "Só queremos um pagamento de Portugal, que é Portugal deixar de apoiar Angola e as suas atrocidades", numa aparente resposta às declarações de Marcelo Rebelo de Sousa, na quarta-feira.

"Temos de pagar os custos. Há ações que não foram punidas e os responsáveis não foram presos? Há bens que foram saqueados e não foram devolvidos? Vamos ver como podemos reparar isto", afirmou o Presidente português, citado pela agência Reuters, na terça-feira, num jantar com correspondentes estrangeiros em Portugal.

PUB
Momento-Chave
por RTP

Chefes de Estado dos PALOP e Timor-Leste com Marcelo na Sessão Evocativa do 25 de Abril

Os Chefes de Estado de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, países cuja independência ocorreu após o 25 de abril de 1974 ou foi reconhecida por Portugal nesse contexto, confirmaram a sua presença numa sessão evocativa, que decorre nodia 25 de abril, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

Marcelo Rebelo de Sousa já chegou ao CCB.
A sessão irá decorrer a partir das 18h00.
PUB
por Inês Ameixa - Antena 1

Luís Montenegro abriu ao público as portas da residência oficial

O primeiro-ministro abriu as portas da residência oficial e acredita que os 50 anos do 25 de Abril vão ser um ponto de viragem na quebra de um ciclo negativo de incapacidade de reter jovens talentos.

Luís Montenegro almoçou com 50 jovens, como o tenista João Sousa, o músico Buba Espinho ou o escritor Afonso Reis Cabral.

Abriu depois a residência oficial do primeiro-ministro, ao público e saiu pouco depois das 5 da tarde, em direcção ao Centro Cultural de Belém.
PUB
por RTP

Fotógrafo João Pina mostra o seu livro sobre o Tarrafal que marcou a sua história de família

O jovem fotógrafo, nascido após a Revolução, quis homenagear com um livro de memórias o avô, comunista, que esteve preso no Tarrafal, e afirma que, devido a esse trabalho, quando visitou o campo o sentiu como "um sítio familiar desconhecido".
PUB
por RTP

A "Celeste dos Cravos" desce a Avenida aos 91 anos, com a neta e a filha, que faz uma crítica

 
Apesar do simbolismo dado aos cravos, a mulher que os distribuiu e acabou por dar o nome à revolução, exemplar pelo pacifismo, continua à espera de ser condecorada. 

Mas Celeste realizou o sonho de celebrar os 50 anos da Revolução dos (seus) cravos.
PUB
por RTP

No desfile participam dezenas de estrangeiros. Para os espanhóis esta é também uma data a recordar

PUB
por Lusa

Famílias enchem o Carmo para reafirmar legado da liberdade

Centenas de famílias passaram hoje de tarde pelo Largo do Carmo para assinalar os 50 anos do 25 de Abril, posar junto dos veículos militares do tempo da Revolução e reafirmar o legado da liberdade e da democracia.

Tal como há 50 anos, os blindados chegaram ao Quartel do Carmo, no centro de Lisboa, cheios de pessoas em cima, após completarem o trajeto que os trouxe desde o Terreiro do Paço. Já no local onde se consumou a queda do anterior regime e a vitória dos militares, o povo voltou a sair à rua, de cravos vermelhos nas mãos e no peito.

"É um dia de liberdade, um dia em que temos de dar valor ao que temos hoje. As gerações mais novas não passaram por aquilo que os meus pais passaram e me transmitiram, e o que eu lhes quero passar é que é um dia que tem de ser festejado, um dia de liberdade e de união. Juntamo-nos sempre aqui no Largo do Carmo para comemorar", conta à Lusa Nuno Silveira, acompanhado pela filha a tirar fotos no interior de um camião de transporte militar.

Com 56 anos, guarda desse 25 de abril de 1974 a memória de não ter tido aulas na escola e da surpresa que representou para a família, quando a sua mãe foi chamar o seu tio, que era do exército e ainda estava a dormir quando se dava a revolução. O dia de há 50 anos faz parte do passado, mas também do futuro e Nuno Silveira realça a necessidade de preservar o legado de liberdade e democracia.

"Gostaria de dizer que está seguro, mas neste momento já não tenho certezas e por não ter certezas é que incuto este espírito de liberdade. Temos de manter este espírito de liberdade e democracia, não podemos perder. Através do voto, não os obrigo, mas faço ver a quem pretende votar que nem todos tiveram liberdade para isso", sublinha.

Noutro blindado, Sílvia Ribeiro vai posando para a fotografia do marido ao lado da cadela Mel, imitando tantas outras pessoas ao longo do dia. É um dia muito importante para Portugal e para todos nós. É a liberdade de podermos dizer e fazer o que entendemos", refere.

Aos 43 anos, Sílvia Ribeiro nasceu sete anos depois da Revolução dos Cravos, mas explica que o marido já era nascido e que as histórias das famílias se cruzam com a do 25 de Abril, com um pai que combateu no Ultramar e uma filha prestes a completar 18 anos e a aprender ciência política, depois de crescer a ouvir em casa "desde pequenina" sobre a importância desta data.

Já Graça Vaz, que veio na companhia do marido, da filha e dos netos, lembra-se ainda bem desse 25 de abril de 1974, quando se preparava para mais um dia de trabalho no bar Angola (então na zona dos Anjos) e tinha 25 anos, uma bebé que ainda não tinha três meses de vida e um marido embarcado nos Açores.

"Saí para apanhar o metro em Alvalade, cheguei lá e estava fechado. Estava lá um senhor e disse, `Para onde é que a senhora vai?`, e eu respondi `Vou trabalhar`. O senhor disse assim, `Vá mas é para casa rapidamente, porque está a haver um golpe de Estado`, e eu disse, `O que é um golpe de Estado?`... Então, toca a andar para casa. Estava sozinha e cheia de medo", relembra.

Assume que esteve para não ir às comemorações dos 50 anos do 25 de Abril e que só saiu por insistência da filha. Agora, não se arrepende de ter mudado os planos e destaca a alegria das pessoas na evocação do "dia inicial inteiro e limpo", como descrito pela poeta Sophia de Mello Breyner: "Deve manter-se vivo e continuar, devemos vivê-lo sempre com alegria, como estamos a viver agora".

Se as comemorações são uma revisitação daquele dia do passado, o futuro marcou presença através das muitas crianças e dos muitos jovens que quiseram subir às chaimites para tirar fotografias e aprender um pouco mais sobre o 25 de Abril.

Entre esses jovens está Daniel Ferreira, de 13 anos, que realça o cheiro a gasolina do veículo e a mudança que se operou em Portugal há 50 anos. "[O 25 de Abril] faz 50 anos e é uma data importante para o início da liberdade. Deixámos de ter ditadura e passámos a ter democracia. As pessoas podem votar, têm mais direitos e podem ter a sua opinião. É uma data importante", resume.

A revolução ocorrida há 50 anos teve um grande eco a nível internacional e também hoje não passou ao lado dos muitos estrangeiros que passeiam pelo centro histórico de Lisboa. E se uns estão apenas de visita, outros, como Stepan Franchak, fez de Portugal o seu país para viver e apreendeu já o significado da data.

"Significou a saída da ditadura, o fim do regime de Salazar e o início da democracia em Portugal", afirma o cidadão natural da Ucrânia, há 20 anos a viver cá e que, num português sem mácula, deixa um recado sobre o 25 de Abril: "A liberdade tem de ser merecida. O povo tem de fazer essa gestão e ver se tudo está de acordo com a democracia e a liberdade".

PUB
Momento-Chave
por RTP

Marcelo recebe no Palácio de Belém


O presidente da República esteve com um grupo de crianças no seu gabinete no Palácio de Belém. 

Apesar de pressionado, Marcelo Rebelo de Sousa recusou comentar a polémica lançada pelas suas palavras desta semana, sobre o que deve pagar Portugal às suas ex-colónias em reparação por políticas do passado.
PUB
Momento-Chave
por RTP

Ferro Rodrigues desce a Avenida como "simples cidadão"

O ex-presidente da Assembleia da República, que falhou a eleição como deputado socialista ao perder para o Chega o lugar de deputado pelo Círculo Fora da Europa, está a desfilar com dois cravos.

Questionado sobre o Parlamento fragmentado que se verifica 50 anos após o 25 de Abril, Duarte Ferro Rodrigues considerou que "a democracia faz aquilo que é normal, dar a palavra ao povo, ao eleitorado", nem sempre "bem, do meu ponto de vista", mas essa é "a responsabilidade do eleitorado".

Considerando "grave" a existência de 50 deputados de extrema direita no Parlamento, Ferro Rodrigues acrescentou "que mais grave do que isso é haver um sistema de justiça que está a funcionar fora do estado de direito democrático". 

"Há muita gente que hoje está na rua para manifestar a sua dificuldade em compreender como é que há 50 deputados de extrema-direita no Parlamento", acrescentou. "Vamos ver como é este combate, que é também um combate ideológico, político e pessoal"
PUB
Momento-Chave
por RTP

"Contra o regime traidor". Nas comemorações do 25 de Abril há quem proteste

PUB
por Lusa

Milhares de pessoas juntam memórias e apelos aos cravos do Desfile da Liberdade do Porto

Com cravos vermelhos, bombos, bandeiras de Portugal e muitos cartazes, o Desfile da Liberdade junta hoje, no Porto, milhares de pessoas que aproveitam as celebrações dos 50 anos do 25 de Abril para partilhar memórias e fazer apelos.

Sara (4 anos), Nuno (7), Tiago (8) e Vasco (10) -- autores de um cartaz feito a marcador onde se lê "Viva o 25 de Abril = Liberdade" -- atropelam-se para explicar à Lusa o porquê de terem escolhido a palavra "liberdade" para o centro da folha de papel A3.

"Porque antes o país era triste e agora é livre. Porque não se podia falar e porque os policias iam a casa das pessoas buscá-las às quatro da manhã ou mais tarde para as prenderem por pensarem de forma diferente", referem, repetindo as explicações ouvidas em casa.

Chegaram ao Largo Soares dos Reis, no Porto, de onde partiu o Desfile da Liberdade organizado pela Comissão para as Comemorações Populares do 25 de Abril, muito cedo. Querem chegar à Avenida dos Aliados na coluna da frente onde um conjunto de antigos paraquedistas, ao ouvir a conversa, lhes aponta para um edifício.

"E sabem o que era ali? O quartel da PIDE, da polícia política que prendia e torturava pessoas. Nem imaginam quantas pessoas foram ali maltratadas", diz-lhes Francisco Almeida (66 anos).

Foram 7.600, de acordo com Domingos Dias da União dos Resistentes Antifascistas que subiu ao palco do largo para cumprimentar "a moldura humana mais bonita do mundo, a que está de cravo e resiste", disse.

Enquanto isso, o paraquedista sussurra: "[Há 50 anos] vi a alegria de um povo que estava amarrado e amordaçado. Vi rostos com sorrisos de orelha a orelha. Foi o dia mais feliz da minha vida. O mais feliz não, o mais importante, mas acho que o que se fez em Abril de 74 não está a ser levado a sério. Falta habitação e salários dignos".

Ao lado, outros companheiros paraquedistas, Aurélio Soares e Francisco Gonçalves, ambos de 64 anos, que há meio século estavam na escola e foram mandados embora porque, disseram-lhes, "estava a acontecer uma grande revolução em Lisboa, uma coisa muito boa que mudaria Portugal", acrescentam ao rol de lamentos: "Falta saúde, falta justiça".  

Há pessoas de todas as idades no Desfile da Liberdade do Porto. Um cortejo que, partindo do largo onde hoje o Museu Militar ocupa as instalações da antiga PIDE, passa pela Avenida Rodrigues de Freitas, Rua D. João IV, Rua de Santo Ildefonso, Rua Passos Manuel, Rua Sá da Bandeira, Praça D. João I, Rua de Rodrigues Sampaio para terminar na Avenida dos Aliados.

O som dos microfones da organização começou a soar às 14:15 com "Quis saber quem sou" de Paulo de Carvalho, musica ouvida ainda a 24 de abril de 1974, às 22:55, que foi exatamente a primeira frase de pendor revolucionário do 25 de Abril de há 50 anos. E o cortejo começou cerca de meia hora depois com "Grândola Vila Morena" a dar o mote.

A música "Sexta-feira" de Boss AC e os versos "É Sexta-feira / Suei a semana inteira / No bolso não trago um tostão / Alguém me arranje emprego / Bom bom bom bom / Já já já já" fazem Andreia Trevisan, que tinha 16 dias de vida quando se deu, há 50 anos, a Revolução dos Cravos dançar.

"Estou muito muito muito feliz. Isto não tem a ver com direita ou esquerda, tem a ver com liberdade" É o país que estás em causa", diz, à Lusa ao lado da irmã e da filha e junto a um grupo de estudantes que empunha cravos e cartazes que mais do que memórias, transmitem apelos.

Rafaela Pinto (21 anos) escolheu a frase: "Discurso de ódio não é liberdade de expressão". À Lusa explica que tem "medo" da confusão entre "opinião" e "discriminação".

"É incrível podermos dizer que temos liberdade de expressão. Agradeço muto aos Capitães de Abril por isso. Mas discurso de ódio não é opinião. Temo pela falta de sensibilidade que cada vez mais se vê em relação às minorias", descreve.

O Desfile da Liberdade do Porto deverá chegar entre as 16:00 e as 16:30 aos Aliados. Lá está previsto que suba ao palco o projeto musical Cara de Espelho, que reúne membros de bandas, como os Deolinda, Ornatos Violeta, Gaiteiros de Lisboa, A Naifa, Humanos e estima-se que as frases de ordem continuem a soar como o incontornável "25 de abril Sempre! Fascismo Nunca Mais!".

PUB
Momento-Chave
por RTP

Luís Montenegro apela aos jovens para construírem o "Portugal de amanhã"


Luís Montenegro esteve reunido com um grupo de 50 jovens na residência oficial do primeiro-ministro e no final sublinhou a importância de pôr o país, baseando-se nos ideais nascidos há 50 anos, a olhar para o futuro.

Enquanto Governo, "quisemos estar ao lado de uma geração que nasceu e creceu e está hoje a construir o presente e o futuro de Portugal, não tendo de enfrentar a opressão", afirmou.

O primeiro-ministro, que nasceu um ano antes do 25 de Abril, lembrou que apesar de tudo, "isso não quer dizer que as nossas escolhas não tenham outro tipo de condicionamentos", deixando várias promessas de apoio aos jovens para os reter no país com os seus projetos.

Os 50 anos do 25 de Abril serão "um ponto de viragem" para quebrar "um ciclo negativo" dos últimos anos, de "incapacidade de reter em Portugal" o talento dos jovens, garantiu.

O grupo de jovens incluiu o tenista João Sousa, o escritor Afonso Reis Cabral, o cantor Buba Espinho, a comentadora na SIC Maria Castello Branco e elementos das Forças Armadas e forças de segurança.

O primeiro-ministro defendeu que, "mais do que contemplar os 50 anos" que passaram desde Abril de 1974, o Governo está focado "nos anos que vêm aí".

Nesta ocasião, Montenegro reiterou alguns dos compromissos do seu executivo com políticas fiscais e de apoio à compra de casa ou arrendamento pelos mais jovens.

"Temos sobre nós outra responsabilidade enquanto socidedade", de "construirmos em conjunto o Portugal de amanhã", "concentrados e focados nos anos que vêm aí", foram algumas das ideias lançadas por Luís Montenegro.

"Precisamos destes filhos de abril" e de "travar a fuga do nosso capital humano para o estrangeiro", para olhar em frente, afirmou o primeiro-ministros, para "que os jovens portugueses agarrem Portugal" e se coloquem "ao serviço" do país.

É compromisso do Governo dar condições e "garantir que a madrugada libertadora produziu efeito", acrescentou.

"Estamos mais disponíveis do que nunca em dar-vos instrumentos para poderem construir o futuro do país", disse, afirmando-se convencido de que "as políticas públicas podem fazer muito" para reter jovens qualificados em Portugal.

Os jardins de São Bento já abriram ao público e, a meio da tarde, está previsto um concerto com o cantor António Zambujo.

com Lusa
PUB
Momento-Chave
por RTP

Aguiar Branco prepara-se para descer a Avenida da Liberdade

Para o novo presidente da Assembleia da República, descer a Avenida da Liberdade nos 50 anos do 25 de Abril, é unir a representação do povo com o povo e aproximar os eleitos dos eleitores.
A segunda figura da hierarquia do Estado falava aos jornalistas no tradicional desfile do 25 de Abril, que hoje assinala o cinquentenário da Revolução dos Cravos, numa presença inédita, uma vez que é a primeira vez que um presidente do parlamento representa a instituição nesta comemoração popular.

"A democracia é de uma magnífica fragilidade e, por isso, temos de cuidar dela todos os dias. Depende de nós, só de nós, a construção de uma democracia mais sólida e mais forte. E esta é a mensagem que temos que passar: ninguém fará por nós aquilo que nós não estivermos disponíveis para fazer", defendeu José Pedro Aguiar-Branco.

De cravo na lapela, o presidente do parlamento considerou necessário que os cidadãos sintam "que a participação é uma exigência da democracia".

"Mas isto dá trabalho, é uma exigência de participação, é uma construção permanente", salientou.

Interrogado sobre a sua presença no desfile popular -- que contou com uma participação massiva de milhares de cidadãos na Avenida da Liberdade -- o presidente da Assembleia da República e antigo ministro social-democrata salientou que esta é uma "manifestação popular".

"Faz todo o sentido haver a conjugação das cerimónias na Assembleia da República, enquanto eleitos pelo povo, mas também faz todo o sentido dar um gesto simbólico de aproximação entre eleitos e eleitores, que essa é a verdadeira afirmação democrática. E, por isso, a comemoração é na rua e acho que faz todo o sentido estar enquanto presidente da Assembleia da República aqui junto ao povo", considerou.

Aguiar-Branco insistiu na importância de aproximar eleitores e eleitos, mostrando aos cidadãos o trabalho que é feito no parlamento e que envolve "medidas que mexem com a vida das pessoas", além de alguns debates "mais espetaculares".

Questionado sobre se tem sido difícil manter a urbanidade dos trabalhos parlamentares desde que foi eleito, no final de março, Aguiar-Branco respondeu que não, e que o debate democrático "tem decorrido com elevação".

"Tudo o que é dito na Assembleia em termos de expressão da liberdade de opinião, devemos aplaudir. A casa da democracia é o espaço por excelência da liberdade de expressão. O conteúdo do que cada um diz, desde que se mantenha o exercício da urbanidade, acho que é de aceitar. É o que se espera da democracia, é a liberdade de cada um dizer mesmo que possa dizer qualquer coisa contra a própria liberdade. É isso que distingue a democracia da ditadura", apontou.

Aguiar-Branco encontrou-se momentos mais tarde com o presidente da Associação 25 de Abril, coronel Vasco Lourenço, com quem trocou algumas palavras e iniciou a tradicional descida da Avenida da Liberdade até ao Rossio.
PUB
Momento-Chave
por RTP

50 anos do 25 de Abril. Portugueses festejam nas ruas - Fotogaleria

Portugal celebra esta quinta-feira os 50 anos do 25 de Abril de 1974. Com um vasto programa de celebrações, foram várias as pessoas que saíram de casa para celebrarem a liberdade alcançada há 50 anos pelos capitães de Abril. Esta é uma fotogaleria das celebrações dos portugueses nas ruas.

por Lusa

PCP considera que PR "passou por cima" das opções políticas que conduziram o país nos últimos 50 anos

 

O secretário-geral do PCP considerou hoje que o Presidente da República, no seu discurso do 25 de Abril, "passou por cima" das dificuldades que as pessoas atravessam e também "das opções políticas" que conduziram à situação.

Em declarações aos jornalistas no final da sessão solene comemorativa dos 50 anos da Revolução dos Cravos, o comunista afirmou que Marcelo Rebelo de Sousa fez "uma intervenção circunscrita a figuras, nomes, passando por cima de dois aspetos fundamentais, desde logo, das opções políticas que conduziram a estes diferentes momentos que o Presidente caracterizou, e passando por cima de uma realidade concreta da vida das pessoas e das soluções que se abriram com este Abril de 50 anos e que é preciso concretizar".

Paulo Raimundo disse acompanhar o chefe de Estado na "ideia de que a democracia exige que se dê respostas à maioria das pessoas" e defendeu que "isso tem de ser acompanhado de medidas concretas", como "mais salários, acesso ao Serviço Nacional de Saúde, acesso à educação, menos precariedade, menos horários desregulados, menos aquilo que pressiona a vida da maioria da população".

"Nós achamos que o senhor Presidente da República, fazendo uma afirmação genérica sobre as dificuldades em que as pessoas vivem, esqueceu-se de ir ao concreto, passou ao lado do concreto da vida", criticou.

Paulo Raimundo afirmou que nas últimas cinco décadas o país tem vivido "um processo de política de direita com melhorias extraordinárias do ponto de vista do pós revolução, naturalmente, mas que está a trazer e a empurrar para um caminho de acentuar desigualdades" e salientou que Abril "foi feito para dar resposta à maioria e não à minoria".

"E é esse caminho que é preciso ser revertido, é esse ciclo da política de direita que é preciso de uma vez por todas pôr fim, e retomar o caminho de Abril, o caminho da justiça", defendeu, pedindo que os direitos consagrados na Constituição, que "custaram tanto a construir, tenham expressão na vida de toda a gente".

PUB
Momento-Chave
por RTP

Partidos reagem ao discurso de Marcelo Rebelo de Sousa

No final da cerimónia na Assembleia da República, que terminou com o discurso do presidente da República, alguns partidos reagiram com elogios e outros com desagrado. "O discurso do senhor Presidente República nesta cerimónia dos 50 anos do 20 de Abril foi praticamente uma resenha histórica" sem "muito conteúdo, apenas com conteúdo histórico", afirmou o líder parlamentar do Chega.

Ainda sobre o discurso do Presidente da República, o líder parlamentar do Chega recusou que o apelo de Marcelo Rebelo de Sousa para que se preferia "sempre a democracia, mesmo imperfeita, à ditadura" fosse dirigido ao Chega.

Questionado se considera que Marcelo Rebelo de Susa ignorou o Chega no seu discurso, respondeu negativamente, argumentando que "certamente que o Presidente da República já trazia o discurso escrito de casa".

Para o PS, o discurso do 25 de Abril do presidente da República foi de "união em torno destes 50 anos", concordando que "por mais imperfeita que seja a democracia é sempre melhor do que qualquer ditadura".

"O 25 de Abril tem que ser uma data de união, a cerimónia aqui na Assembleia da República representa essa união da democracia e do regime em que vivemos. É este o regime felizmente em que vivemos e que 25 de Abril criou. Quem quer outro regime está no sítio errado", defendeu a líder parlamentar do PS, Alexandra Leitão, em declarações aos jornalistas no final da sessão solene de comemoração dos 50 anos da Revolução dos Cravos.

De acordo com a socialista, foi nessa linha que Marcelo Rebelo de Sousa fez um discurso de "um percurso histórico, de forma analítica destes 50 anos, referindo personalidades de vários quadrantes políticos".

"E nesse sentido foi um discurso de união em torno destes 50 anos", considerou.

Já o líder parlamentar do PSD elogiou o discurso do presidente por evocar as principais figuras da história democrática nacional e salientou os apelos ao diálogo e à construção de políticas públicas.

"Creio que o presidente da República fez um discurso muito abrangente, em que saudou as principais figuras da história democrática portuguesa. Creio que fez bem, porque celebrar os 50 anos do 25 de Abril é também celebrar a História e honrar aqueles que a construíram. Fê-lo de uma forma muito genuína, expressando o sentimento de todos os portugueses", sustentou o presidente da bancada social-democrata.

Hugo Soares apontou também que Marcelo Rebelo de Sousa "tem repetidamente deixado uma mensagem com apelo ao diálogo e à construção de políticas públicas que possam melhorar a vida dos portugueses".

c/ Lusa
PUB
por RTP

Museu da GNR no quartel do Carmo conta o dia da Revolução

As memórias do que aconteceu há 50 anos podem ser revisitadas no museu da GNR, que está por estes dias de portas abertas.

PUB
Momento-Chave
por RTP

As memórias de quem participou na coluna de Salgueiro Maia

O alferes Climaco Pereira e o furriel miliciano António Gonçalves contam à RTP as suas memórias do dia da Revolução.

PUB
por RTP

Primeira emissão da RTP no 25 de Abril feita a partir de Vila Nova de Gaia

Há cinquenta anos, foi a partir dos estúdios do Monte da Virgem, em Vila Nova de Gaia, que se fez a primeira emissão daquele dia 25 de Abril.

Os transmissores de Monsanto ainda escapavam ao controlo do MFA. Foi no Centro de Produção do Norte que a RTP falou aos portugueses.

E para garantir que as comunicações funcionavam, os estúdios foram controlados pelo grupo de Comandos de Lamego.

Antes disso, já o Chefe do Estado-Maior da Região Militar do Norte tinha sido detido, também no Porto.
PUB
por RTP

Vasco Lourenço, capitão de Abril, diz que há retrocesso na justiça social

O fundador e Presidente da Associação 25 de Abril lamenta a atual situação do país e insiste que é necessário reduzir a diferença que existe entre os mais ricos e os mais pobres.

Este é um excerto de uma entrevista exclusiva para ver, esta noite, no Telejornal, na RTP.
PUB
por RTP

Colonialismo. Brasil reage às declarações de Marcelo

O Presidente da República já o tinha dito o ano passado durante as comemorações do 25 de Abril e agora voltou a insistir: que não chega pedir desculpa pelos crimes cometidos durante a época colonial e que se deve assumir responsabilidade total.

Desta vez, desencadeou várias reações no Brasil, como conta o correspondente da RTP, Pedro Sá Guerra.
PUB
por RTP

Ramalho Eanes e Cavaco Silva nas cerimónias do 25 de abril

Ramalho Eanes e Cavaco Silva cumprimentaram os líderes partidários e a mesa da Assembleia da República.

A sessão solene do 25 de abril contou com a presença dos dois antigos presidentes.

Ramalho Eanes foi o primeiro Presidente da República eleito depois da Revolução.

E Cavaco Silva que foi o presidente que antecedeu Marcelo Rebelo de Sousa.
PUB
por RTP

Discursos do 25 de Abril. A análise de António José Teixeira

O diretor de Informação da RTP analisa as principais mensagens dos partidos na sessão comemorativa do 25 de Abril, que decorreu no Parlamento.

PUB
por RTP

Esquerda alerta de que é preciso evitar retrocessos

Os partidos da esquerda parlamentar deixaram a mensagem de que é preciso evitar retrocessos e alertaram para os saudosistas do anterior regime. Sublinharam que o 25 de Abril é o dia da vitória, é o dia inicial, é o dia mais belo da história.

PUB
por RTP

Chega, CDS e Iniciativa Liberal criticam Marcelo

À direita, os discursos do Chega, CDS e Iniciativa Liberal ficaram marcados pelas polémicas declarações de Marcelo Rebelo de Sousa, durante um jantar com jornalistas estrangeiros.

O PSD escolheu Ana Gabriela Cabilhas para discursar. A jovem eleita pela Aliança Democrática preferiu lembrar que ainda há muito por fazer, num país que vive há 50 anos em democracia.
PUB
Momento-Chave
por RTP

"Preferir sempre a democracia, mesmo imperfeita, à ditadura", pede Marcelo

O chefe de Estado pede ainda que tomemos "aquilo que de mais forte, de mais duradouro, de mais redentor, de mais promissor tem Abril e, com isso, ir recriando Portugal".

“E esse valor único, singular, que nunca morreu, nunca se apagou, nunca se enfraqueceu, chama-se liberdade, democracia e vontade do povo. Então, reconheçamos essa força vital da democracia e tenhamos a humildade e a inteligência de preferir sempre a democracia, mesmo imperfeita, à ditadura”.

“Definitivamente, o caminho que queremos não é esse, o da ditadura. É outro, da democracia. Cada vez melhor, muito melhor, democracia, pelo futuro de Portugal”, terminou o presidente, recebendo aplausos de algumas das bancadas parlamentares.

PUB
Momento-Chave
por RTP

Marcelo saúda jovens capitães de Abril, os "únicos com poder militar para depor um regime"

O presidente da República é o último a discursar no Parlamento. "Cinquenta anos passaram desde que um império de cinco séculos acabou. Uma ditadura de 48 anos foi deposta", começou por dizer. "Parece que foi ontem ou anteontem, mas não foi, foi há meio século".

“Em menos de um ano, aqueles jovens militares organizaram-se, prepararam-se, concluíram que a ditadura devia cair e que deviam ser eles a derrubá-la. Não os políticos que governavam, não os grupos económicos (…), só eles, ligados a todos os mais, mas os únicos com poder militar para depor um regime”, declarou.

Marcelo Rebelo de Sousa saudou ainda António Ramalho Eanes e evocou Mário Soares, que “acabou por ser de facto o imediato vencedor civil da revolução”.

O presidente considera ainda que “nenhuma outra revolução ou golpe militar foram comparáveis [com o 25 de Abril] na nossa história contemporânea” e que “nenhum outro império europeu moderno enfrentou todos estes desafios ao mesmo tempo em menos de 30 ou 40 anos”.
PUB
Momento-Chave
por RTP

Presidente da Assembleia da República elogia a "coragem" dos Capitães de Abril e nomeia últimas vítimas do regime

Aguiar-Branco disse que se o 25 de abril tivesse falhado, havia várias coisas que poderiam ter ficado pior em Portugal, mas que se isso acontecesse quem de facto sofreriam eram os capitães de Abril que arriscaram sair à rua. "É a definição de coragem", diz o presidente do Parlamento, para a seguir nomear aquelas que foram as últimas vítimas do regime e da polícia política. "É tempo de dizer os seus nomes no Parlamento" e de lembrar que esta revolução não foi feita sem sangue como muitas vezes se afirma.

Segundo o presidente do parlamento, "foram as últimas vítimas da polícia política do regime e é tempo de dizer os seus nomes nesta sala:Fernando Giesteira, Fernando Barreiros dos Reis, João Arruda e José Barneto".

"Não basta dizer os seus nomes, é preciso expressar gratidão. Esta semana tomei a iniciativa de convidar as famílias para, pela primeira vez, estarem nesta sessão solene. O convite foi para que vissem com os próprios olhos o que o sacrifício dos seus conquistou. A ver-nos e a ouvir-nos. E aqui está, a família de Fernando Barreiros dos Reis", referiu. Palavras que levaram todos os deputados a aplaudirem.

"O país quer mais, exige mais e o país tem razão", continua a querer cumprir os seus sonhos, que são agora mais. E admite que as pessoas estejam desiludidas, zangadas e que haja polarização e populismo.

"A desilusão de uns resolve-se com boa governação e a polarização dos outros resolve-se com soluções", defendeu Aguiar Branco, chamando a atenção para o termo que usou: "resolver" e não "combater".

Lembra que o parlamento não pode ser um "castelo fechado em si mesmo" e que serve para construir a democracia, não para a guardar.

Elogiou Mário Soares pelo percurso de moderação e afirmou que é necssário o respeito pela diferença.
PUB
Momento-Chave
por RTP

PSD. Jovem deputada pede que se "renove o compromisso com o futuro"

O PSD foi o único que não escolheu o líder do partido para discursar. Chamou Ana Gabriela Cabilhas, de 27 anos, ao Parlamento. A deputada defendeu que os políticos devem estar ao serviço do povo e cabe ao parlamento concretizar as suas legítimas expetativas.

Ana Gabriela Cabilhas diz que se deve dizer "não a quem quer dividir o país", defendendo o combate ao populismo e o combate aos extremos de polos opostos.

Considera que não devemos aceitar que "a nossa melhor versão da democracia tenha ficado cristalizada no 25 de abril". 

"Não é apenas um marco na história, é uma revolução contínua e inacabada", que tem de ser "melhorada e reconciliada com o povo, que não se contenta em sobreviver".

"Há um Portugal por fazer", alerta.
PUB
Momento-Chave
por RTP

"Abril é mais do que história, Abril é mais do que memória, Abril é vitória. ", diz Pedro Nuno Santos

O líder do PS começou por saudar o Movimento das Forças Armadas e explicou que um regime fascista, “assente numa elite” acabou devido à força de um movimento de capitães.

“Com Abril não conquistámos apenas o direito de votar ou dizer o que pensamos sem medo. Com Abril os portugueses agarraram-se a uma ideia de país, de comunidade democrática, de povo, de prosperidade e de futuro”.

Pedro Nuno Santos lembrou que Portugal quis construir uma democracia plena e uma democracia económica e uma comunidade de liberdade para toda a população. “Abril é mais do que história, Abril é mais do que memória, Abril é vitória”.

“A concretização dos sonhos de Abril é um trabalho imperfeito e ainda inacabado mas os portugueses venceram”.

O líder do PS lembrou depois a criação do Serviço Nacional de Saúde e que permitiu a Portugal ter níveis de saúde ao nível dos países mais ricos. Lembrou também a escola pública pelos níveis de qualificação que muitos portugueses têm hoje.

Pedro Nuno Santos diz que o populismo não vai resolver problemas e que não consegue ser duro “com os fortes” e que se alimenta da angústia do povo devido a rápidas mudanças e relembrou que os portugueses são emigrantes.

“Hoje somos também um país de imigração. Há duas formas muito distintas de lidar com esta realidade. E nenhuma delas tem que ver com um slogan vazio das portas fechadas.”

O líder do PS lembrou que os portugueses conquistaram o direito à liberdade, a amarem quem quiserem e de não terem vergonha do que são.

“As mulheres emanciparam-se, libertaram-se e passaram a não ter de pedir licença para procurarem a sua felicidade. A partilha do poder e o fim da hegemonia do homem gera resistência e há quem na direita radical a promova e a explore mas já não há recuo possível. As mulheres em Portugal conquistaram o direito a perseguir os seus sonhos”.

Pedro Nuno Santos criticou as tentativas de retrocesso e afirmou que a memória viva deve reconhecer o que ainda falta fazer e que tenha um “pé no passado” e declarou que o 25 de Abril é o dia inicial e que “não há outro igual”.


PUB
Momento-Chave
por RTP

Ventura acusa Marcelo de "trair os portugueses" ao sugerir que Portugal seja responsabilizado pelo passado colonial

Dirigindo-se ao presidente da República, o presidente do Chega lamentou ter de dizer que este "traiu os portugueses" quando disse que "temos de ser culpados e responsabilizados pela nossa história, que temos de indemnizar outros países pela história que temos connosco".

“O senhor presidente foi eleito pelos portugueses, não foi eleito pelos guineenses, pelos brasileiros, pelos timorenses. Foi eleito por nós”, disse Ventura de forma fervorosa a Marcelo Rebelo de Sousa, que reagiu com um sorriso.

O deputado lançou também críticas ao Governo. “Há 50 anos, fizemos uma revolução. E essa revolução deu-nos a liberdade. Mas, ao longo do caminho, foi-nos tirando liberdade. Quem está em casa do que falo: gosta de olhar, fazer a festa, de saber que aqui estamos, mas sabe também que toda a liberdade que conquistámos ora a fomos perdendo, ora a fomos desiludindo”, começou por dizer.

André Ventura referia-se àqueles que “ainda não conseguiram sair do salário mínimo nacional” ou que “ao fim de anos de governação do PS e PSD tiveram de emigrar”.

O líder do Chega disse ainda ser irónico que, nos 50 anos de Abril, haja 50 deputados do seu partido na Assembleia da República.

“Dizia-se que Abril era justiça (…). Neste ano em que estamos, vimos um governo cair precisamente por suspeitas de corrupção”, frisou Ventura.

PUB
Momento-Chave
por RTP

"História não é dívida, não obriga à penitência", diz Rui Rocha

"E não, senhor Presidente, História não é dívida. E História não obriga a penitência". O dirigente e deputado da Iniciativa Liberal respondia assim às palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, que defendeu um pagamento às ex-colónias. "Atenta contra os interesses do país" e "afasta-se de representar a maioria dos portugueses", diz Rocha.

O deputado da Iniciativa Liberal quer que o programa de comemorações oficiais do Parlamento passe a incluir uma sessão solene para comemorar o 25 de novembro e afirmou que vai ainda hoje entregar uma deliberação no parlamento.

Rocha Rocha usou ao longo do discurso a simbologia da gaivota que voa como símbolo da liberdade e criticou quem queira "voar para trás", a voltar a perseguir mulheres e dizer o que elas devem ou não fazer.

"Há quem queira, por exemplo, ajustar contas com as mulheres do nosso país pela liberdade que conquistaram. Há mesmo quem queira, sob disfarces piedosos, voltar a perseguir mulheres, decidir o destino, dizer-lhes o que é e o que não é próprio delas", criticou.

Neste caso, diz não são as mulheres que voam demasiado alto. "É o caso desses que não têm asas para as acompanhar".

Usou vários exemplos de que agora "a gaivota voa mais baixo do que devia", criticando os "mesmos que se revezam no poder", a direita e a esquerda na forma como olham o 25 de Abril e os "saudosos do bafio, miséria e opressão". A estes diz que "saiam da frente que atrás vem gente".

Avisa os que têm agora o poder. Pede que "façam voar as gaivotas" e que se não tiverem ambição e coragem, haverá sempre outras gaivotas que vão voar para mudar.

Citando o programa de governo da AD, afirma que está frontalmente contra a plataforma de verificação de factos que aí é advogada.





PUB
Momento-Chave
por RTP

Mortágua alerta para o perigo dos saudosistas

Mariana Mortágua salienta que o Portugal anterior ao 25 de Abril estava vergado "à tristeza, à emigração forçada, à maldita guerra, à secundarização das mulheres".

“O nosso país só foi salvo pela revolução do 25 de Abril. Dizem-nos agora alguns, saídos do armário ao fim de 50 anos, que a revolução foi supérflua e um exagero. Que, afinal, a chibata sempre educada, que a masmorra moraliza, que o lápis azul ilustra”, declarou.

“As carpideiras do salazarismo não tão perigosas pela nostalgia do passado. Não será reconstruído nenhum império, o Tarrafal fechou para sempre, Aljube e Peniche são museus e devem ser visitados”, continuou a bloquista, recebendo aplausos de várias bancadas.

Para a coordenadora do Bloco de Esquerda, “os saudosistas são perigosos porque culpam a democracia e a Constituição pela pobreza que persistiu, pelo amargo das promessas não cumpridas, pela corrupção”.

“Os saudosistas são perigosos porque vivem para a mentira. Saibam, então, que nenhuma mentira ocultará que para Portugal, Abril foi o começo. Abril foi a torrente de alegria, foi a beleza de vencer o fascismo”, vincou Mortágua, falando num “salto assombroso que nos abriu o século XX”.

PUB
Momento-Chave
por RTP

Paulo Raimundo destaca a referência que constrói o presente e futuro do país

O líder do PCP falou de um acontecimento ímpar e que é uma referência para a “construção do presente e futuro do país”. Paulo Raimundo lembrou que a revolução consagrou a democracia e impôs mais “justiça social”.

“Consagrou a igualdade entre homens e mulheres e terminou com a guerra”, disse.

Paulo Raimundo lembrou que a revolução foi “sonho” e “construção” e que Abril é a “juventude ter a oportunidade de trabalhar”.

“Abril rejeita o ódio, racismo e a xenofobia”.

O líder do PCP lembrou que Abril trouxe a distribuição da riqueza para os que trabalham e o fim da promiscuidade entre poder político e poder económico. E lembrou que o ciclo de direita tem terminado com Abril.

Paulo Raimundo lembrou ainda Álvaro Cunhal e afirmou que o PCP foi o que esteve na primeira linha de luta contra o fascismo.

“25 de Abril sempre. Fascismo nunca mais. Viva o 25 de Abril!”, concluiu.

PUB
Momento-Chave
por RTP

Livre. Rui Tavares diz que a nossa Revolução "inspirou o mundo" e foi "a mais bela revolução do século XX"

Rui Tavares lembra que era o "medo que sustentava o regime" ditatorial e que foi o sonho que fez a mudança. Afirma que o 25 de Abril deu a volta ao mundo e marcou a terceira vaga de democratização do mundo. Lembra ainda que para se evitar os "pesadelos do passado", como teve a sua mãe, e para continuar a sonhar abril, temos de encher as conversas de "objetos de desejo político", imaginado novos projetos para o país.

O deputado do Livre diz que aqueles que querem "chamar a atenção", para o conseguirem, vão "menosprezar ou mesmo profanar o 25 de abril". "Não lhes demos esse prazer", advoga.

No discurso desta sessão comemorativa, lembrou que o que temos feito no último meio século foi "cumprir Abril", lembrando a alfabetização, o Serviço Nacional de Saúde ou o salário mínimo e acesso ao ensino Superior.

Em conclusão, lembrou que ao lado do edifício do parlamento há um pedestal vazio, que bem podia ser ocupado por uma "Celeste" uma mulher comum que participou na Revolução.
PUB
Momento-Chave
por RTP

CDS lembra 25 de Abril sem esquecer 25 de Novembro

Paulo Núncio, do CDS, é o segundo a discursar no Parlamento. "O 25 de Abril acabou com o regime onde não havia eleições livres, onde não havia liberdade de imprensa e onde se prendiam pessoas por razões políticas, e deve ser especialmente saudado por isso", começou por dizer.

O líder parlamentar do CDS-PP frisou que o seu partido quer desenvolver a matriz lusófona que complementa e acrescenta à dimensão europeia de Portugal. “Mas, no CDS, não sentimos necessidade de revisitar heranças coloniais. Não queremos controvérsias históricas nem deveres de reparação que parecem importados de outros contextos fora do quadro lusófono”, afirmou.

“A história é a história, e o nosso dever é o futuro construído e alicerçado entre Estados soberanos espalhados pelos quatro continentes”.

Por fim, Paulo Núncio considerou que “celebrar o 25 de Abril não esquecendo o 25 de Novembro é uma questão de memória histórica e o sentido de gratidão”.

“Se, com o 25 de Abril, caiu o Estado novo, o 25 de Novembro trouxe a democracia e a liberdade plenas”, declarou.
 

PUB
Momento-Chave
por RTP

PAN. Inês de Sousa Real quer "uma nova música"

A deputada única eleita pelo PAN relembrou as músicas que deram o mote ao início das operações militares da Revolução para concluir que é necessária uma "nova música" que proteja os direitos das pessoas, igualdade e também a natureza, mas que também impeça aqueles que "querem silenciar a voz de abril" e a multiculturalidade.

Inês Sousa Real garante que o seu partido se esforçará para "cantar Abril com novas estrofes", garantindo que a Revolução dos Cravos foi também a da "empatia" para defender todos os seres vivos.

Alerta para a "realidade" que preocupa e que tem assolado a Europa e agora também Portugal e que ameaça diretos conquistados e os valores da democracia.

Ainda assim, pede que se continue a acreditar num futuro melhor.
PUB
por RTP

Canta-se o hino à porta da Assembleia da República

Estão prestes a começar os discursos dos líderes parlamentares.
PUB
por Lusa

Arquivo de Otelo Saraiva de Carvalho doado ao arquivo Ephemera

Lusa

A família de Otelo Saraiva de Carvalho doou o arquivo do estratego do 25 de Abril ao Arquivo/Biblioteca Ephemera, o que ajudará a compreender "o ambiente de 1974/75", disse à Lusa o historiador Pacheco Pereira.

São "documentos fundamentais porque têm imensos manuscritos" do próprio e de outras pessoas, "notas de reuniões, correspondência", são "milhares de cartas enviadas a Otelo", afirmou José Pacheco Pereira, fundador do Ephemera, maior arquivo privado em Portugal.

O espólio de Otelo "é enorme", abrange o período inicial de 1974 em que está no Conselho da Revolução, o tempo do COPCON, e, até agora, foram recebidas no Ephemera duas estantes e muitos dossiês.

O historiador e ex-deputado do PSD afirmou que as duas estantes são "uma pequena parte" da documentação e descreve o que viu até agora: "São cartas muito diferentes, vão desde cartas de saudações, de parabéns, cunhas, a ameaças, insultos, informações e denúncias."

Este arquivo, segundo o autor da biografia de Álvaro Cunhal, "é de uma importância enorme", dado que o militar de Abril "tem um papel central na vida politica desde 74 até ao final do século XX".

Otelo Saraiva de Carvalho, acrescentou, "é uma personalidade marcante, primeiro porque é o autor do plano operacional do 25 de Abril, que todos os militares consideram um documento de grande qualidade do ponto de vista estratégico e militar".

"Depois, por todas aquelas vicissitudes do PREC, depois do 25 de Novembro, dos Grupos Dinamizadores de Unidade Popular (GDUP`s -- partido criado em 1976 e extinto no ano seguinte), da candidatura presidencial de 1976 e 1980", acrescentou.

Segundo informação do Arquivo Ephemera, trata-se de "um conjunto vasto e rico de documentação, manuscritos, fotografias, panfletos e brochuras, livros políticos, documentos oficiais de natureza militar e política (muitos deles secretos à altura), ofertas e objetos pessoais".

E "cobrem toda a carreira política e militar de Otelo, desde a sua ação como oficial nos teatros da guerra colonial, a revolução de 25 de Abril e o "ano de brasa" de 1975, o COPCON, as candidaturas presidenciais, os GDUPs, a FUP, a OUT, suas prisões e processos".

Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho nasceu em 31 de agosto de 1936 em Lourenço Marques, Moçambique, e teve uma carreira militar desde os anos 1960, fez uma comissão durante a guerra colonial na Guiné-Bissau.

No Movimento das Forças das Forças Armadas (MFA), que derrubou a ditadura de Salazar e Caetano, foi ele o encarregado de elaborar o plano de operações militares e, daí, ser conhecido como estratego do 25 de Abril. Foi ele, também, um dos militares que esteve no posto de comando de operações no Regimento de Engenharia n.º 1, na Pontinha, nos arredores de Lisboa.

Conotado com a esquerda radical, foi um dos membros do Diretório da revolução, com Costa Gomes, presidente, e Vasco Gonçalves, primeiro-ministro, a partir de maio de 1975.

É preso na sequência dos acontecimentos do 25 de Novembro, confronto entre a esquerda militar e os chamados "moderados", que ditou a normalização do país, e foi libertado depois. Concorre às presidenciais de 1976, conseguindo 16,4% dos votos.

Preso em 1985, em resultado do processo FP-25, organização que reclamou a autoria de vários atentados que fizeram fez 13 mortos ao longo de sete anos, foi condenado e libertado cinco anos depois, em 1989. Em 1996, o parlamento aprovou uma amnistia para os presos das FP-25.

Otelo Saraiva de Carvalho morreu em 21 de julho de 2021.

 

PUB
Momento-Chave
por RTP

"Era a primeira vez em 48 anos que se diziam aquelas palavras de ordem". Jornalista Adelino Gomes recorda a revolução

O jornalista Adelino Gomes viveu por dentro a revolução. Há 50 anos, por esta hora, estava debaixo do arco da Rua Augusta e prestes a acompanhar a coluna que partiu da Praça do Comércio.

"Quando a coluna começou a andar, as pessoas começaram a falar. Era a primeira vez em 48 anos que se diziam aquelas palavras de ordem: abaixo o fascismo, viva a liberdade, vitória", conta à RTP.

Emocionado, lamenta que tivessem sido "demasiados anos de silêncio", mas recorda que agora "têm sido 50 anos de democracia, que umas vezes é tão entusiasmante, outras vezes tem as suas crises".

"Mas nada substitui a democracia", vinca.
PUB
por RTP

Termina a cerimónia militar no Terreiro do Paço

As comemorações continuam em breve na Assembleia da República.
PUB
por RTP

Municípios dizem que é tempo de "trabalhar ainda mais pela consolidação da democracia"

A Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) defendeu hoje a necessidade de se "trabalhar ainda mais pela consolidação da democracia", alertando que "os tempos podem voltar a ser sombrios", numa mensagem sobre os 50 anos da Revolução de Abril.

"Comemorar Abril é tempo de festa, mas é também tempo de arregaçar as mangas e trabalhar ainda mais pela consolidação da democracia plural, solidária, livre de qualquer tipo de amarras, pela democracia fraterna", afirma a ANMP, numa mensagem relativa aos 50 anos da Revolução de 25 de Abril de 1974, que hoje se assinalam.

Na mensagem, a ANMP considera que o país não se pode "distrair com a espuma dos dias", caso contrário "os ideais do 25 de Abril de 1974 podem ser varridos para debaixo de um qualquer tapete e os tempos podem voltar a ser sombrios", salientando que "permiti-lo seria uma traição".

A ANMP recorda que, "antes do tempo que Abril abriu, a maioria da população portuguesa era analfabeta, pobre, não tinha acesso à saúde, à cultura, ao desporto, ao lazer", sendo que, em 50 anos, Portugal "mudou para melhor", principalmente devido ao facto de estar na União Europeia e, por essa via, poder recorrer aos fundos europeus, "e, em grande medida devido ao trabalho de proximidade desenvolvido pelos municípios e pelas freguesias".

Agência Lusa
PUB
Momento-Chave
por RTP

Cerimónias começam

O presidente da República passa agora revista às forças em parada, depois de se ter ouvido o hino nacional.
PUB
Momento-Chave
por Carla Quirino - RTP

José Ribeiro. O homem da rádio que sonorizou a madrugada da revolução

Carla Quirino - RTP

José da Silva Ribeiro trabalhava no Rádio Club Português como operador de som e, durante aquela madrugada de 1974, foi buscar os discos proibidos arrombando um armário. Diz-se "amante da palavra e de músicas com conteúdo político" e, por isso, criou uma sonoplastia para marcar a mudança e para que os ouvintes se apercebessem de que a liberdade estava a chegar.

Pela mão de José Ribeiro, há 50 anos, o Rádio Club Português (RCP) amanheceu com as músicas que deixaram de ser proibidas.

E quem é José da Silva Ribeiro? Operador de som, sonoplasta, realizador. Tem 85 anos, nasceu a 3 de dezembro de 1938 na aldeia de Cristêlo-Côvo, no concelho de Valença do Minho.

A residir em Odemira, orgulhosamente refere ser do Partido Comunista desde que nasceu. Resistência e Liberdade são palavras que sempre lhe ressoaram na cabeça e coração. Veste uma t-shirt branca onde está inscrito o número icónico: 46664. “É o número de prisioneiro de Nelson Mandela”, diz, ao receber a RTP.

Com um brilho nos olhos, desfolha de imediato uma pasta cheia de memórias e apresenta-se: “Sou o Zé Ribeiro, filho e neto de presos políticos”.

“A PIDE tentou sempre dar cabo da família dos Ribeiros. Aliás, o Silva Pais, na altura ainda inspetor das Finanças (último diretor da PIDE/DGS), ia muitas vezes à farmácia do meu pai. O meu pai era proprietário de uma farmácia em Paredes de Coura”.

O pai de Zé, Luís Ribeiro, nunca deixou que “lhe cortassem a raiz ao pensamento, sempre protestou e deixou essa herança para lutar pela liberdade”, argumenta.

"Nos dias como o 1.º de maio, a GNR andava sempre a rondar e levava muitos homens presos”, entre eles o pai e avô de Zé. Quando o pai Ribeiro era preso, os cinco filhos, ainda todos crianças, apercebiam-se e a mãe tentava confortá-los : “O papá foi preso mas um dia destes ele volta”.

“A minha avô materna, quando sabia que iam levar o meu pai, reunia-se com outras mulheres como ela e com enxadas e foices e faziam-lhes frente. Iam para a estação do comboio, para não deixarem passar os presos políticos. E gritavam: “mas vocês vão presos porquê”.

“E nós, crianças, ouvíamos as conversas. Aliás, nós tínhamos sempre uma escola política em casa. O meu pai contava-nos tudo, exceto uma coisa - nunca levou uma pancada, nunca levou um encontrão, nem os outros que estavam presos”. Já o avô contava as sessões de tareia quando esteve preso em Angra do Heroísmo, nos Açores, "de onde regressou tuberculoso", explica.

"Era uma coisa esquisita, estava tudo fechado, estando as portas abertas, havia sol e nós só tínhamos frio", decreve Zé.
O primeiro ato político durante a escola primária

Por cima do quadro de ardósia na sala aula estavam os retratos de Óscar Carmona, presidente da República, António Salazar, presidente do Conselho, e um crucifixo no meio. Para Zé (aluno da quarta classe), de ouvir as conversas em casa, já sentia que se tinha que combater aquelas figuras. E relembra: “a minha primeira atitude política foi quando tinha dez anos”.

Um dia, o professor Nogueira deixou Zé Ribeiro a tomar conta da turma pois o rapaz era respeitado por todos devido a sua “valentia”.  Durante esses momentos, Zé reparou que perto da escola tinha passado um rebanho. Decidiu então ir à rua apanhar “bosta de vaca” para trazer para dentro da sala. “Puxei uma cadeira e toca de borrar as fotografias do Carmona e de Salazar”, descreve. 

Quando o professor regressou deparou-se com um cheiro desagradável na aula e ao descobrir o feito, percebeu de imediato que o autor seria o Zé. De castigo, o rapaz teve que ir limpar tudo e o pai foi chamado ao professor. “Luís, olha que o teu filho borrou os quadros do Salazar e do Carmona. Eu estou de acordo, mas isto pode ser perigoso”. E aí o pai repreendeu o filho: "ó Zé, tu tens que ter cuidado. Embora concorde, há coisas que tu fazes que depois quem vai pagar por isso sou eu. Mais tarde, serás tu”.
Contacto com gente da palavra em Lisboa
No fim dos anos 40, o pai Ribeiro foi preso em Lisboa, ora no Aljube ora em Caxias. A mãe arrastada pela prisão do marido acabou por vir para a capital, seguindo-lhe os filhos. Luís Ribeiro acabou por morrer aos 38 anos, fora da prisão. Zé ainda era adolescente.

A par das questões políticas, Zé cresceu com o “sonho do teatro ou cinema que ouvia nas histórias da telefonia". Depois de trabalhar numa tabacaria, Zé descobriu um laboratório de cinema chamado Ulisseia Filmes, em Campolide, que fazia a revelação das peliculas. “Fui lá, bati à porta e pedi um emprego”, conta. “Um dos patrões era Aquilino Mendes”, um conhecido realizador e operador de imagem português.

No laboratório, cruzavam-se muitas pessoas ligadas às artes do palco, cinema e escrita. Um dia “conheci um homem espantoso, homem da palavra, era poeta e chamava-se José Gomes Ferreira. Ele apercebeu-se que eu era um analfabeto de poesia mas interessado. Falou comigo como um professor. Era o que me interessava, estar ao pé de pessoas que me dessem um curso sem ter que ir para as aulas, até porque eu não tinha hipótese nenhuma pois tinha que trabalhar. E o que eu gostava de o ouvir”.

Gomes Ferreira acabou por dizer umas linhas em tons de liberdade e Zé agradeceu e comentou: “a polícia não deve gostar dessa escrita”. Gomes Ferreira, admirado questionou-o. “Como sabes disso? Eu respondi que quando o meu pai falava em liberdade era preso”. Criou-se de imediato laços ideológicos entre os dois, dando a Zé ainda mais vontade em lutar contra a ditadura.

No percurso da adolescência do Zé, durante a década de 50, sucederam então várias etapas. Vai trabalhar no cinema com Aquilino Mendes que ia fazer um filme com Arthur Duarte (realizador). Aí conheceu Rogério Paulo e Fernando Curado Ribeiro, "meus grandes amigos", diz. 

No fim das filmagens, Curado Ribeiro leva o jovem para trabalhar no seu teatro para crianças, no ABC, no Parque Mayer. Depois de três anos, entre a venda de bilhetes e ajudar nos cenários, José acabou, mais uma vez, pela mão de Curado Ribeiro, por ser levado para a Rádio Renascença. Em 1958 entrou como telefonista mas rapidamente aprendeu a mexer com os gravadores e equipamento de som. Passou então para operador de som e a fazer as emissões.


Primeiro cartão de funcionário do RCP | Carla Quirino - RTP

No ano de 1965, é convidado para integrar os quadros do Rádio Club Português - RCP: “agora, eu já era um homem da rádio”. Sem esquecer a herança política, Zé mantinha-se com sede de liberdade. E as noites do Zé encheram-se de ainda mais ideais. Aproveitava as emissões de madrugada para colocar canções “proibidas”.
Encontros clandestinos
Na década de 60, já estava identificado pelo regime de Salazar como comunista.

Os dias e as noites de Zé levaram-no, cada vez mais, para os encontros antifascistas, muitas vezes vigiados pela polícia politica. Aproximou-o da resistência clandestina e dos que usavam a palavra como arma.

Entre as peças de teatro encenadas com Rogério Paulo, nas caves do Hospital de Santa Maria, que sonorizava com as músicas e poemas sobre a luta, Zé também frequentava concertos e tertúlias onde a palavra liberdade era repetida. José Afonso era um dos fios condutores. E os laços cresceram entre os resistentes.
O amigo Esoj Osnofa ou Zeca Afonso
A maioria dos discos proibidos pelo regime fascista estava guardada num armário trancado. Porém, Zé Ribeiro tinha alguns vinis que “escondia entre a roupa” do seu armário, nomeadamente, os de Zeca Afonso.
 
 
Fotocópia de lista de funcionários da rádio feita pela PIDE. À mão, está anotado junto ao nome de José da Silva Ribeiro: "diz-se abertamente elemento comunista" | Carla Quirino - RTP

Na época, o nome de código para se falar no cantor era Esoj Osnofa, ou seja José Afonso dito ao contrário. Este nome de código era referido no suplemento a Mosca do jornal Diário de Lisboa, com frequência, e utilizado por quem sabia o significado.

Muitas vezes era repreendido pelos censores que lhe lembravam: “há um edital no corredor com a lista das músicas que não podem ser passadas, mas eu dizia que não tinha visto”. Quando repetia certa faixa, “os censores vinham com o prego e riscavam o disco”, explica Zé.  

Entre os censores, Zé reporta que havia um que ganhou a "alcunha de Moita Divina".



Frequentador das mesmas reuniões ou concertos clandestinos, Zé tornou-se amigo do Zeca. Praticaram judo juntos e conta um dos episódios curiosos sobre a sua amizade. Passou-se na RCP ainda antes do 25 de abril. 

Um dia Zé estava a trabalhar e foi chamado à porta. Lá estava Zeca Afonso que lhe pediu para entrar para fazer a barba. Zé ficou admirado e disse-lhe: “Há uma barbearia mais acima” mas o cantor insistiu: “Arranja-me uma casa de banho com água, anda lá”. 

Zeca era sobejamente conhecido por ser um músico antifascista e já ter estado preso, por isso atraía os olhares. Zé acabou por acompanhá-lo. Com a maior das descontrações, lâmina em punho e sabonete na pele, Zeca lá desfez a barba. “Pronto, está porreiro” agradeceu e seguiu caminho. “O Zeca era assim”, descreve o sonoplasta, sorrindo.
Mensagem musical da revolução

Zé não estava a trabalhar nessa madrugada do 25 de Abril de 1974. Foi acordado com um telefonema da Clarisse Guerra (locutora e primeira mulher do RCP que leu comunicados do MFA) para avisar Zé para ouvir o RCP. A emissão deveria estar ocupada com o programa “A noite é nossa” de Ruy Castelar, porém em vez disso, estava a passar marchas militares. De imediato, Zé dirigiu-se à sede da RCP, na Rua Sampaio e Pina.

Quando chegou, viu o jornalista Joaquim Furtado que estava de serviço nessa madrugada e perguntou: “Quim, o que é que se passa?”. O jornalista respondeu que vários elementos das Forças Armadas tinham entrado rádio adentro a dizerem que “estão do lado do povo”.

Cerca das 3h15 o RCP tinha sido ocupada pelo Grupo de Comandos N.º 10. A ação foi apoiada por uma Companhia do Batalhão de Caçadores 5. Entre os oito oficiais estava o major José da Costa Neves.

Zé acabou por se aproximar dos militares a arriscar a pergunta: “de que lado estão”. “Viemos libertar o país do fascismo e da ditadura” deixou claro o major Costa Neves, recorda.

De acordo com a memória de Zé, estavam ainda Franklim Rodrigues e Fernando Humberto, que também eram operadores da rádio. O primeiro comunicado do Movimento das Forças Armadas (MFA) foi lido pelo jornalista Joaquim Furtado às 04h26, e o segundo vinte minutos depois. 

"O ambiente dento da rádio entre os militares era como uma família, todos muito amigos, o grupo agia na perfeição". Zé recorda que um outro militar, capitão Artur Mendonça de Carvalho, apontou uma arma a Joaquim – "Está descarregada. É só para caso, se alguém entrar, vai achar que eu estava a forçá-lo". 

Nessas primeiras horas prevalecia o receio de alguma coisa correr mal na operação contra o regime fascista e para proteger a equipa do RCP, era encenado um quadro de coação. "Não há nada como prevenir" concluiu o militar, e o "segundo comunicado foi lido", relata Zé.

Lembra-se que chorava e pensava que seria a melhor prenda para o falecido pai. Lembrou-se também que ninguém iria acreditar que estas movimentações militares eram antifascistas.

Era urgente alterar o tipo de música para os ouvintes reconhecerem os sinais de liberdade, e por isso Zé sugeriu aos oficiais: “vou buscar os discos que estão proibidos e começar a emiti-los. E também é preciso arranjar um indicativo para anteceder os comunicados”.

A escolha do sonoplasta para o tal indicativo recaiu sobre a marcha “A life on the ocean wave”, composta pelo britânico Henry Russel. Após acompanhar os comunicados do MFA em abril de 74, a música perdurou para além deste período e ficou associada ao Movimento, até aos dias de hoje.

Por sua vez, Zé Ribeiro precisou de arrombar as portas do armário para tirar os discos proibidos pela ditadura.

Esse episódio foi resgatado em 1977, quando a então recém-estação de rádio, a Rádio Difusão Portuguesa (RDP), emite um programa especial para assinalar três anos passados da revolução. Com realização e locução de Luís Filipe Costa (que também leu comunicados do MFA três anos antes), o programa chamado “A canção antes e depois do 25 de Abril”, entrevista José Ribeiro sobre a nova mensagem musical que se passou a ouvir nessa madrugada.


"Embrulho perfeito"
Na vésperas do 50.º aniversário do 25 de Abril, Zé Ribeiro explica à RTP a fotografia tirada por um fotógrafo do Diário de Lisboa que registou o momento de resgate dos vinis proibidos. Ao longo da conversa, José foi fazendo várias paragens para se recompor da emoção das memórias. 

Entre o conjunto de músicas e a marcha do MFA que cruzaram nessa madrugada pela mão de Zé, o sonoplasta sublinha: “esta foi a minha pequenina parte, que ofereci ao grupo que fez o 25 de Abril".

Se a operação militar arrancou ao toque de "E depois do adeus" e "Grândola Vila Morena", Zé acaba por revelar algumas das faixas que alinhou no gira-discos que composeram o “embrulho mais perfeito” de músicas que podia ter escolhido para marcar a mudança e enviar sinais aos ouvintes dos “Rumos Novos”. As primeiras escolhas passaram pelas palavras musicadas de Zeca Afonso, José Saramago e Manuel Freire, recorda.



Entre os papéis e fotos que tem em cima da mesa, Zé encontra uma nota manuscrita com alguns versos. Depressa conta que fazem parte de um poema escrito por Manuel Alegre e cantado por Adriano Correia de Oliveira, a "Trova do vento que passa". E a propósito destas palavras, este guardião de memórias acredita que haverá sempre alguém que diga não ao fascismo.



50 anos depois, Zé Ribeiro relembra que “as democracias estiveram sempre em risco. Uma democracia não é um símbolo de aço e ferro. É preciso estarmos de volta dela. É preciso haver um braço que esteja estendido ao outro braço para ela não se desmantelar”.


Vídeos: Imagem e edição de Carla Quirino
PUB
por Lusa

Associação de Sargentos apela para a participação no desfile na Avenida da Liberdade

A Associação Nacional de Sargentos apelou hoje à participação no desfile do 25 de Abril na Avenida da Liberdade, em Lisboa, e lembrou as condições das Forças Armadas, sublinhando que para proteger a paz a Defesa Nacional deve ser cuidada.

Numa mensagem dos 50 anos do 25 de Abril gravada em vídeo, o presidente da Associação Nacional de Sargentos (ANS), António Lima Coelho, disse que, entre outras razões, "foi também o desejo de alcançar a paz que trouxe a revolução da liberdade" e que, para proteger a liberdade deve ser cuidada a Defesa Nacional, que têm o seu "grande pilar" nas Forças Armadas.

Depois de citar o poema e Sophia de Mello Breyner sobre o 25 de Abril, Lima Coelho lembrou as "condições degradadas" dos homens e mulheres que servem o país nas Forças Armadas, considerando que é obrigação de todos guarnecer "a trincheira da defesa das condições para continuar a servir o país".

"Quando as condições dos homens e mulheres que servem o país nas Forças Armadas estão tão degradadas, e continuam a ser desrespeitadas, quando a liberdade está a ser questionada, quando a paz está tão ameaçada, é dever e obrigação de todos nós guarnecermos a trincheira da defesa das condições para continuar a servir o país, da defesa dos valores da democracia e da liberdade, e , principalmente, dos valores da paz", afirmou.

No vídeo, Lima Coelho apela ainda para a participação na manifestação popular na Avenida da Liberdade e nos eventos que se realizam por todo o país.

"Mas, acima de tudo, participemos diária e ativamente na defesa dos princípios e valores resultantes da Revolução de Abril e que estão plasmados na Constituição da República Portuguesa: a Constituição de Abril", acrescentou.

Considerou que a defesa de melhores condições de vida, dos valores da democracia, da liberdade e da paz são "uma permanente exigência" e disse que os sargentos de Portugal, "confiantes, determinados e unidos", continuarão "a lutar pelos seus direitos, mas, em simultâneo, a pugnar para que o 25 de Abril não se transforme num mero feriado no calendário".

"Viva o 25 de Abril! Viva a liberdade!", disse.

 

PUB
por Inês Moreira Santos - RTP

50 anos do 25 de Abril. Outras Estórias do dia da Revolução dos Cravos

Foto: Inês Moreira Santos - RTP

No final da década de 1990, Herman José tornou célebre, com a personagem Artista Bastos e a frase "onde é que tu estavas no 25 de Abril?". A citação é repetida desde então e são poucos os que não a conhecem. E se em Lisboa as movimentações do dia da Revolução dos Cravos eram bem notórias, no resto do país os ventos de mudança sentiram-se de maneira bem diferente. De mais longe ou de bem perto da capital, como é que as crianças e os jovens portugueses viveram, há 50 anos, a Revolução de Abril?

O epicentro da Revolução dos Cravos foi Lisboa e o Largo do Carmo é conhecido como um dos principais palcos das movimentações daquele dia. Mas para uma miúda de 13 anos como Maria João, que se preparava para uma dia de aulas normal, a agitação da cidade e as posições militares não foram bem compreendidas ao início.

O rádio era sempre ligado por volta das seis da manhã, todos os dias. Os pais de Maria João gostavam de ouvir os noticiários ao pequeno-almoço, antes de saírem para a rotina laboral. Naquele dia, começou a “ouvir-se sistematicamente o Paulo de Carvalho” a tocar.

Ao tomar o habitual caminho de casa, em Algueirão, para Lisboa, a família notou que havia movimentações pouco habituais na zona.

“Viemos para Lisboa sempre com o rádio ligado no carro, sem saber o que estava a acontecer. Contudo, sempre com a mesma canção. A famosa música ‘E depois do adeus’”, começou por contar.

Antes de ir para o Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho, o pai deixava a mulher na Casa da Moeda, onde era conferente, e a filha que ficava a aguardar, na zona do Arco do Cego, pela carrinha da escola. O pai de Maria João seguia depois para Alvalade, onde se localizava a empresa onde trabalhava. Naquele dia solarengo de abril, quando atravessavam a antiga autoestrada de Lisboa-Sintra, atual IC19, viram “uma coluna de militares com G3, capacetes, jipes, em toda a linha e em ambos os lados” do Palácio de Queluz.

Pelo caminho, a jovem de 13 anos ia questionando-se porquê que havia militares em Queluz e a rádio só passava a canção do Paulo de Carvalho. Nada sabia, mas hoje reconhece que, na altura, a mãe “tinha um bocadinho a noção daquilo que se passava”, principalmente pelos relacionamentos “que tinha com a Judite Barroso, a Maria Barroso, o Mário Soares, e pessoas dessa geração”.

“A minha mãe tinha um bocadinho a noção do que é que aquilo podia ser, mas não veiculou, ou o que veiculou para o meu pai, eu não percebi”, afirmou.

Excerto da publicação especial ilustrada do jornal "O Século", publicado a 27 de abril de 1974

Ao entrar na capital não reparou em nada de estranho ou pouco habitual, mas chegada ao Arco do Cego, viu que estavam “militares de G3 em punho” a receber os funcionários da Casa da Moeda.

“Passar pelos militares no Palácio de Queluz (…) não era muito traumático”, declarou Maria João. “Agora quando cheguei à Casa da Moeda e vejo militares de G3 em punho, eu confesso que os meus 13 anos ficaram muito ofendidos”.

Hoje com 63 anos, a jurista recorda a própria reação entre risos e gracejos.

“O curioso é que eu não fiquei com medo. Eu fiquei furiosa”, expressou. “A título de que santo é que nos estavam a receber a nós (…) de armas em punho?!”.Depois daquela receção, Maria João ficou na entrada do edifício a aguardar, como de costume a carrinha para o liceu. E se já estava furiosa, como admitiu, ficou mais inquieta quando os militares se “sentaram nas escadas de pedra com as G3 ao lado, tipo Copacabana”.

“Lembro-me que tremia furiosa. Não me metiam medo, não estava assustada. Mas achava que aquilo era excessivo. Era um teatro tão aparatoso e excessivo para pessoas normais”, descreveu então. “Hoje percebo, mas naquela altura não. (…) Até porque sempre aprendi que [os militares] eram uma autoridade para respeitar. Para mim aquilo era uma contradição de termos”.

Entretanto a carrinha chegou e foi para a escola. No trajeto para o liceu não se recorda de ter notado algo de diferente. Não havia trânsito cortado ou movimentações anormais. Qual não é o seu espanto quando repara que a entrada das alunas para o liceu feminino Maria Amália Vaz de Carvalho estava também cercada por militares com G3.

“Os militares estavam na porta onde nós entrávamos e não nos deixavam entrar e queriam que nós entrássemos pela porta principal [dos professores]”, relatou não escondendo a apreensão que sentiu naquele momento. “Como se não bastasse, vieram dois militares dar-nos ordens como se fossemos da tropa também. (…) Aquilo estava a maior confusão possível”.

Relutante, acabou por seguir os militares, entrar na escola e por ficar com as colegas no pátio interior.

“Não tive aulas. Não vi os professores nem a diretora”, retorquiu, recordando ainda que durante a manhã, os militares que estavam no pátio foram ao ginásio “buscar raquetes e andaram a jogar badminton e pingue-pongue”, deixando as “armas encostadas à parede”. Ação que Maria João ainda hoje considera que foi de alguma irresponsabilidade, porque ninguém sabia o que se passava e algumas raparigas estavam receosas com aquele aparato militar no recinto escolar.

Na escola ninguém “falava de nada, até porque a maioria das pessoas não tinha a noção do que estava a acontecer”. Até porque “a maior parte das miúdas estava aterrorizada, não havia conversas”.

“Naquele dia ninguém falava. E como o corpo docente também não apareceu, acho que acentuou mais as fragilidades”.
Só ao final da manhã é que as alunas foram “informadas de que naquele dia iriam para casa”. Sem ter como contactar os pais, Maria João acabou por se dirigir para casa da madrinha Elisa, como se refere à madrinha da mãe, que vivia perto do liceu. 

Durante o resto do dia, ouvia falar-se “daquilo que não tinha sido conseguido em março anterior, falou-se em nomes de pessoas que poderiam passar algumas informações, tentou-se ter as televisões sempre ligadas, para ver os desenvolvimentos e ficou-se à espera de saber o que ia acontecer”.

O General Francisco da Costa Gomes era primo da madrinha Elisa, como lhe chamava Maria João, e “já lhe teria passado algumas informações”, que por ser ainda jovem não compreendeu logo.

Para Maria João, a revolução foi em parte um “aproveitamento de um grupo de militares, que tinham direito às suas reivindicações”, mas acredita que apesar disso “resultou numa coisa muito positiva”.

“Teve a grande positividade de não haver derramamento de sangue”.
"Amarrámos a professora com a bandeira nacional"
A poucos quilómetros de distância, ainda na Grande Lisboa, José Pedro não vivenciou o 25 de Abril da mesma maneira. Com apenas oito anos, estava em casa, perto de Algés, quando se soube que havia movimentações diferentes na cidade e que pediam para que as pessoas não saíssem.

Ao rever o caderno da segunda classe, que frequentava na época, José Pedro confirmou que só tinha registadas as “aulas até dia 24” e que só retomou à escola na segunda-feira a seguir ao 25 de Abril”.

“Isto aconteceu cedo o suficiente para eu não ir às aulas”, brincou.

Antes da Revolução dos Cravos “já tinha havido uma tentativa de golpe de Estado”, começou por recordar. 

“Portanto, já havia um certo nervosismo no ar”. Mas segundo as próprias memórias, o mais estranho naquele dia “foi a rádio passar ininterruptamente a Grândola Vila Morena”.
Excerto da publicação escpecial ilustrada do jornal "O Século", publicado a 27 de abril de 1974

Embora reconheça que era muito novo, lembra-se de “uma certa apreensão” que se sentia em casa ao longo do dia, enquanto os pais tentavam perceber a situação.

“Não sabiam bem o que é que aquilo ia dar”, referiu. “Mesmo em Algés havia movimentações, qualquer coisa a acontecer”, lembrou-se também, não esquecendo os “jatos das Forças Armadas” que viu passar.

Nos dias seguintes, “as conversas tornaram-se muito mais políticas”. E ao reviver esses tempos, contou que a “a única coisa que fazia era desenhos dos militares e de explosões”.

Agora com 58 anos, o antigo professor de Biologia nos Estados Unidos, destaca que o episódio que mais o marcou aconteceu na segunda-feira seguinte quando voltou à escola.

“Quando voltámos à sala de aula, (…) a professora fez uma sondagem sobre alguns partidos políticos e depois, para simbolizar o fim do Estado Novo, nós agarrámo-la à cadeira com o cordão da bandeira [de Portugal]”, contou com alegria.No pós 25 de Abril, a família de José Pedro enfrentou grandes mudanças, principalmente porque grande parte vivia em Angola.

“Passaram de uma vida bastante boa para uma situação relativamente precária. E isso refletiu-se na família de forma óbvia”.


Além disso, um dos tios tinha sido “um agente de fronteira da PIDE” e por isso “havia uma certa preocupação” quanto ao seu futuro.

Aos oito anos, achava que o que se passava à sua volta e o que via nas notícias era normal.

“Nunca tinha passado por uma revolução, portanto parecia-me uma revolução perfeitamente normal”, concluiu.
Janela com vista para a Revolução

O movimento dos capitães de Abril, transformado depois em Movimento das Forças Armadas (MFA), que derrubou o regime ditatorial de 48 anos, fundado por António Salazar, teve como palco principal a cidade de Lisboa. Mas o impacto da Revolução chegou a outras zonas do país.

Em Coimbra, uma cidade onde a agitação política e estudantil já se fazia sentir muito antes daquele mês de abril 1974, há relatos de multidões a sair à rua. E foi desde a janela de casa que Jorge, aos 12 anos, assistiu às celebrações da Revolução de Abril na rua Antero de Quental.

Era um dia normal de primavera, estava sol e Jorge saiu pela manhã em direção ao Liceu José Falcão. Enquanto caminhava pela rua onde cresceu, foi se apercebendo que as “pessoas começaram a juntar-se ao edifício” da PIDE. Vivia, desde 1970, na Antero de Quental, num prédio mesmo em frente à antiga PIDE/DGS de Coimbra, onde foi “praticamente o epicentro das ações do dia 25 de Abril” na cidade.

Quando chegou à escola apercebeu-se de “uns burburinhos, umas conversas sobre um golpe de Estado”.

“Eu tinha 12 anos. Um golpe de Estado, para mim, era uma coisa estranha de ouvir”, descreveu, e embora não soubesse o que se passava em Lisboa, sentia que na “escola já havia agitação”.

Só no regresso a casa à hora de almoço é que teve “alguma dificuldade a passar” na rua até chegar à porta do prédio.

“A tropa já tinha tomado conta desta zona, porque já se começava a acumular aqui uma série de pessoas”, explicou enquanto mostrava o largo que separa a residência da sua família e o edifício da PIDE. “Já estavam a controlar a chegada das pessoas. Como eu era morador deixaram-me passar”.

“Vivíamos nesta casa mesmo em frente. No andar de baixo”, indicou, acrescentando que a partir do momento em que entrou, nesse dia, pela porta de casa ficou a “assistir a tudo o que se desenrolou” naquela rua pela janela.

“Isto era um mar de gente”, recordou.

Monumento ao 25 de Abril, em frente ao antigo edíficio da PIDE/DGS em Coimbra. Foto: Inês Moreira Santos - RTP

A rua estava cortada desde o quartel-general, uns metros mais acima. Ninguém conseguia passar ou chegar mais perto do local.

“Durante duas ou três noites, se não estou em erro, as pessoas não saíram daqui. Ficaram aqui, sem condições, em pé. Eram civis”. E os militares, continuou a contar enquanto descia a mesma rua, “começaram a tomar posição porque estava a começar a ficar perigoso, visto que os funcionários da PID/DGS estavam lá dentro”.

“Começaram a ver que isto mais tarde ou mais cedo ia dar mau resultado”, porque a multidão “aguardava a saída dos funcionários da PIDE para irem para a prisão”.

As forças de segurança, por isso, “tomaram posição aqui de forma a evitar que houvesse um assalto ao próprio edifício”. Era uma situação perigosa, sublinhou, considerando que os “funcionários da PIDE também tinham armas e cá fora estavam os militares a tentar evitar que as pessoas se aproximassem”.

E parando em frente ao edifício contou como os militares preparam a saída dos agentes da PIDE, com “camiões tipo berliet”. Apesar dos tropas tentarem manter a tranquilidade da multidão “houve apedrejamentos, as pessoas tentavam aproximar-se deles”.

Da janela de casa viu ainda, segundo contou, alguns carros dos agentes da Polícia Internacional e de Defesa do Estado a serem incendiados por civis.

“Estavam estacionados por aqui. Os carros foram vandalizados, incendiados, totalmente destruídos”, memoriou ainda. 

“Aqui foi realmente o epicentro do 25 de Abril em Coimbra”, repetiu, com entusiasmo ao recordar como vivenciou o dia da Revolução “na fila da frente”.

Nos dias seguintes, ainda houve pessoas que se foram manifestar na rua do especialista em Finanças e Contabilidade, hoje com 62 anos, junto ao quartel-general.

“Foi uma experiência in loco”, disse Jorge em tom de brincadeira.

Apesar da ânsia dos civis conimbricenses em querer apanhar à saída os funcionários da PIDE, em consequência da repressão que os próprios representavam, “sentia-se um ambiente festivo”, embora “difícil de explicar”.

Coimbra já na altura era uma cidade muito jovem”, reconheceu. E recordando aqueles primeiros dias que se seguiram ao 25 de Abril, contou que “algumas pessoas estavam em cima das árvores”.

“Algumas passaram a noite nas árvores, porque era um sítio bom para ver. Ninguém arredava pé. O espaço era caro”, gracejou ainda.

O pai era militar, tinha sido destacado para a Guiné-Bissau, mas naquela altura estava por casa de férias.

“Nunca sentimos receio algum nesse dia. Até porque conhecíamos bem a atuação e dávamo-nos bem com os militares. O meu pai era militar”, explicou. “Era um ambiente diferente, de leveza. As pessoas estavam à vontade, invadiam-nos a casa e depois saíam. Estávamos à janela e estava aqui uma multidão de gente”.

Mesmo no centro da cidade e com a Universidade de Coimbra perto, aquela rua era de habitação para muitos estudantes.

“Havia muitos quartos arrendados a estudantes”, argumentou. “Havia pessoas muito jovens com alguma consciência política e nos dias seguinte estavam todos aqui”.
Invasão árabe à Península Ibérica

Num distrito um pouco mais acima, no interior do país, a Revolução chegou mais calmamente aos portugueses. Na conservadora cidade de Viseu, foi pela rádio que muitos souberam das movimentações em Lisboa, sem perceber logo que sopravam aí ventos de mudança.

Rosa tinha 10 anos em abril de 1974 e lembra-se “de haver bastante agitação em casa” quando acordou.

“Do que me recordo, não chegamos a ir à escola porque os pais tinham sido entretanto avisados de que não havia aulas nesse dia”
, contou, recordando o hábito do pai de ligar o rádio todas as manhãs bem cedo, quando se levantava.

“Por isso ele soube cedo e acordou-nos para nos dizer que não iríamos à escola”.

Rosa e as irmãs mais velhas não foram à escola, mas também não ficaram em casa à espera de notícias, “porque era naquela altura em que, quando não havia escola, vinha toda a gente para a rua brincar, não havia televisão”.

“Vestimo-nos normalmente e viemos para a rua”, revelou, embora não soubesse o motivo porque não havia escola naquele dia. “Havia uma grande incerteza. Em minha casa, a situação era bastante nervosa porque não se sabia o que se estava a passar”.

Sem noção do que era uma revolução ou que evento estava a mudar a rotina normal daquele dia, Rosa começou, juntamente com as crianças que com ela brincavam na rua, a teorizar sobre a situação.

“Na altura em história estávamos a aprender as guerras de expulsão dos árabes da Península Ibérica. (…) Na minha cabeça o que fazia sentido era que os árabes tinham invadido novamente a Península Ibérica”, relatou entre gargalhadas animadas, ao recordar o que a imaginação de criança a levou pensar.

Aos 60 anos, a Especialista em Avaliação de Ensino Superior reaviva estas memórias salientanto que, naquela altura, era “aquilo que conhecia de mais extremo, de mais diferente”.

“Lembro-me de conversarmos entre nós, todos muito jovens, e de eu insistir claramente que isto era novamente uma invasão da Península Ibérica pelos árabes e, por isso, teríamos de voltar a fazer todo aquele processo de guerra e expulsão para reconquista da nação”, continuou a contar em tom de brincadeira.

“Foi isso que me pareceu na altura. Tive consciência de que foi uma coisa muito importante e trazia uma mudança muito grande. Na minha imaginação era isso que estava a acontecer”.

À medida que as horas foram passando, as crianças começaram a receber “muitas indicações para não falar, para estar caladas, para não dizer parvoíces”.

“Havia um bocado a sensação de que as coisas tinham mudado, mas que era importante não se falar muito acerca disso. Não havia ainda a perceção clara do que tinha acontecido”, explanou Rosa.

Ainda sem certezas do que tinha acontecido, nos dias seguintes viu que foram “buscar um senhor que vivia perto e que era um dos responsáveis da Mocidade Portuguesa”.

“Era uma pessoa de quem as pessoas mais velhas – nomeadamente as minhas irmãs mais velhas e os amigos delas – não gostavam muito. Era ele que organizava aquelas marchas, em que tinham de ir todos fardados. (…) [Era] quase tipo milícias”, testemunhou. “Lembro-me de vir um carro buscá-lo a casa. E de mais uma vez me ter sido dito ‘não fales nisso’”.

Só soube exatamente o que tinha acontecido na manifestação do 1º de Maio, “onde depois foi organizada uma manifestação, as pessoas manifestaram-se livremente”.

“E, se bem me lembro, depois vi alguns pais de colegas meus (…) com uma posição de protagonismo nessa manifestação”, acrescentou. 

“Foi aí que comecei a perceber que havia casas diferentes da minha. Em minha casa (…) não se falava do regime nem nada disso”.
No dia do 25 de Abril, o pai de Rosa “estava muito receoso de falar disso, de ouvir falar disso e que nós falássemos disso”.

“Não estava de todo seguro de que já se pudesse falar”.


Excerto da publicação especial ilustrada do jornal "O Século", publicado a 27 de abril de 1974

Rosa admite que sentiu muita diferença após a Revolução de Abril porque “Viseu era, de facto um meio muito conservador, socialmente muito estratificado”.

Para mim essa perceção começou na escola, notou-se logo uma grande diferença a todos os níveis. Começámos a perceber que afinal não era só estar sentado, quieto e calado. (…) Depois havia professores que já eram muito politizados que começaram a falar abertamente sobre isso nas aulas, o que levou muito rapidamente a uma mudança bastante grande dos currículos e daquilo que nós aprendíamos”.

Apesar de Viseu ser uma cidade conservadora, Rosa conta que houve “muitas manifestações” organizadas por pessoas que clandestinamente pertenciam ao Partido Comunista Português e que começaram “a falar livremente”.

“Mais tarde, Viseu foi também palco daqueles movimentos de assalto às sedes dos partidos em que se viam edifícios a arder e coisas a ser lançadas das janelas”.

“Naquela idade, eu vivia aquilo com imensa alegria”, confessou com entusiasmo. “Tudo aquilo era fantástico, muito positivo. Tive muita sorte de poder viver uma revolução, que trouxe tantas mudanças. Não é todos os dias que acontece uma revolução como o 25 de Abril”.
"A canção da professora"

Não se pode falar do 25 de Abril sem se referir o Alentejo e a “Grândola Vila Morena”. A realidade no sul do país era distinta da que se observava na capital. Não era o epicentro da Revolução, mas a ânsia e o desejo por um país democrático e livre eram os mesmos.

A três dias de fazer 11 anos, Maria Rosa estava em casa, num monte alentejano no concelho de Portel, quando entrou em pânico ao ouvir, na televisão, a canção que marcou o início das operações militares.

“Eu andava na quarta classe, numa escola rural da Atalaia, e tinha uma professora nova. Era o primeiro ano que ela dava aulas”, começou por relatar. “A professora Mariana era muito nova, muito jovem”.

Naquela altura, Maria Rosa e os irmãos tinham sempre aulas ao sábado, onde faziam “outras coisas que não o ensino normal”. As raparigas, descreveu então, aprendiam costura ou croché. Já os rapazes faziam as limpezas do espaço e do recreio, ou tratavam das hortas. “Era sempre um dia diferente”.

No fim de março de 1974, se a memória não lhe falha, a professora Mariana, que tinha o marido no Ultramar, anunciou aos alunos que iam “aprender uma canção nova e que essa canção era um segredo da escola”.

“Um segredo que nós não podíamos dizer em casa, nem cantar a canção na rua”, revelou a atual professora de História, com perto de 61 anos. “E na altura, a palavra do professor era sagrada”. E qual era a canção secreta? Era a “Grândola Vila Morena”.

“Os sábados todos que antecederam o 25 de Abril, a professora Mariana ensinava-nos a ‘Grândola Vila Morena’. Aprendemos a canção de fio a pavio, cantávamos na escola porque ninguém lá estava por perto, porque estávamos num descampado onde só se ouviam as ovelhas ou as vacas”, brincou ainda. “Cantávamos a plenos pulmões a ‘Canção da Professora’, que era assim que a identificávamos”.

“Nós não dizíamos nada em casa”, repetiu. “Aprendíamos ali a canção, mas passando o portão da escola ninguém mais falava daquilo”.

Na quinta-feira em que a Revolução saiu à rua, pela hora do pequeno-almoço, que no monte alentejano da família de Maria Rosa se chamava hora do café, os mais novos quiseram ver desenhos animados. A televisão era a bateria e, como não era fácil recarregar, o tempo de uso diário do aparelho era limitado.

Naquela manhã, aproveitando que a mãe estava lá fora a tratar da horta, Maria Rosa e a irmã mais nova decidiram ligar a televisão antes de irem para a escola.

“A televisão não estava a dar nada. Apareciam imagens estranhas e nós não estávamos a perceber o que era”, estranharam as crianças de então. “A determinada altura a minha mãe vem para dentro e liga o rádio. Ouviu qualquer coisa que nós não percebemos e disse-nos logo que não havia aulas”.

De repente, as irmãs entraram em pânico. “Do nada, a ‘Canção da Professora’ estava a dar na rádio e na televisão”.
“Entrámos em pânico as duas. Era um segredo nosso e nós olhávamos uma para a outra”, descreveu. A questão que as assolava era: “Quem é que falou na ‘Canção da Professora’? Quem é que teve a ousadia de deixar que a canção passasse na rádio?”.

“Tínhamos um mundo tão pequenino que nem conseguíamos perceber que era possível que a música que estávamos a aprender podia estar numa dimensão muito superior, num meio de comunicação. Para nós aquilo era um segredo só nosso, restrito ao nosso sítio, restrito àquela professora e àqueles alunos”.

No meio da agitação que sentiam, as duas crianças começaram a acusar-se mutuamente de terem denunciado a professora Mariana e a canção alegadamente secreta.

“A minha mãe veio ver o que se passava, que gritaria era aquela. E tivemos de contar que a professora Mariana nos tinha ensinado aquela canção que agora estava a passar na rádio e na televisão”, contou ainda. “Já pensávamos que tinha sido um colega qualquer a contar”.

Do 25 de Abril, o que recorda com carinho é “a ingenuidade, esta forma de olhar para as coisas”. Os horizontes que tinha, confessa, “eram extremamente curtos”.

“Não tínhamos a noção de nada”,
disse ainda.
De Gândra a Elvas
Há 50 anos, os meios de comunicação eram mais escassos. Nem toda a gente tinha telefone ou uma televisão em casa, os rádios não estavam sempre ligados e os contrastes entre regiões do país eram notórios.

Na freguesia de Gandra, mais a norte de Portugal, a notícia de que havia uma revolução não chegou logo de manhã. Tudo indicava ser um dia normal para Maria, que só “soube da revolução na escola”.

“Chegámos à escola e mandaram-nos embora porque não havia aulas. E depois estivemos em casa uns dias”, começou por contar, admitindo que o 25 de Abril quase que lhe passou despercebido. “Disseram-nos que não havia aulas porque os professores não apareceram, mas não explicaram porquê”.

Como “em casa não disseram nada”, a adolescente de 14 anos continuou sem saber o verdadeiro motivo daquela pausa letiva. Todavia, confessa que “ficou contente” por não ir à escola uns dias.

Só uns dias depois, quando regressou às aulas, é que se apercebeu “que havia qualquer coisa de diferente”.

“Foi uma rebaldaria. Os alunos que tinham antes chumbado nos exames da Páscoa estavam todos passados. A sala de aulas estava diferente: já não havia as fotografias do Salazar e do Marcelo Caetano”, lembra-se. 
“Os alunos estavam todos contentes, porque mesmo os que tinham reprovado já tinham passado”.

E rindo-se, acrescentou: “depois os alunos é que mandavam nos professores e era isso que eu achava estranho”.

“Se não queriam aulas, não tinham aulas. Se não queriam aquele professor, não tinham aquele professor. E achávamos piada áquilo”, continuou.

Já o irmão, um ano mais velho, estava no Forte de Elvas quando se deu o 25 de Abril. Embora a quilómetros de distância e num contexto diferente, António também testemunhou que vivenciou o dia da Revolução quase sem conhecimento do que realmente se passava.

“De madrugada foram acordar-nos”, recordou, sublinhando que normalmente pernoitavam num quartel da cidade e não no Forte. “E diziam-nos: ´vamos embora! À prevenção!’. Mas ninguém sabia para quê que era a prevenção”.

“Ficámos fechados no quartel, não se podia sair. E tinham lá a televisão ligada e só se ouviam marchas militares, mas não havia uma explicação qualquer”
, explicou. “Só quando transmitiram o primeiro comunicado é que ficámos a saber. Mas ficámos todo o dia ali fechados”.

Em Lisboa os militares marcavam passo, mas para os tropas destacados em Elvas “era impensável sair” porque estavam “de prevenção” até serem chamados “para um serviço oficial”.

Começaram por ouvir que havia “uma marcha por Lisboa”, mas para seu lamento o “comandante era de gancho” e não deixava os milicianos “ouvir as notícias”. António e os restantes soldados não sabiam “o que pensar” sobre o “pouco que sabiam”.


Havia, contudo, um motivo para a prevenção: “o Forte de Elvas era uma prisão militar [e política], onde estava inclusivamente Saldanha Sanches”.

Os dois jovens naturais de Gandra tiveram consciência dos acontecimentos e dos tempos de mudança já mais perto do 1 de Maio. António admite até que pouco mudou na freguesia depois do 25 de Abril e que as mudanças eram lentas a chegar.

“Os pais continuavam a fazer o que a Igreja mandava. O padre mandava. Tudo continuava praticamente igual”, comentou.

E a irmã acrescentou que, mesmo passando a haver eleições democráticas, ainda “era o padre que dizia em quem se devia votar”.

“O padre dizia-nos: ‘não votem nos comunistas’”, sublinhou Maria.
PUB
Momento-Chave
por RTP

Portugal comemora 50 anos da Revolução dos Cravos com programa alargado

Portugal celebra hoje o 50.º aniversário do 25 de Abril com um programa de comemorações alargado que inclui a tradicional sessão solene no parlamento e o desfile na avenida da Liberdade, em Lisboa, mas com iniciativas em todo o país.

O programa da Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril começa com uma cerimónia militar no Terreiro do Paço, em Lisboa, com a presença do Presidente da República.

Marcelo Rebelo de Sousa segue depois para a Assembleia da República, a partir das 11:30, para assistir e encerrar a tradicional sessão solene comemorativa da Revolução dos Cravos.

Para assinalar no parlamento a passagem de meio século sobre o golpe de estado que pôs fim à ditadura de Oliveira Salazar e Marcello Caetano, o PS, Chega, Iniciativa Liberal, BE, PCP e Livre escolheram os seus líderes para discursar.

O PSD, partido presidido pelo atual primeiro-ministro, Luís Montenegro, que assiste mas não discursa na sessão, tomou uma opção diferente e vai colocar na tribuna de oradores a jovem deputada Ana Gabriela Cabilhas, de 27 anos.

No caso do CDS-PP, força política liderada pelo ministro da Defesa, Nuno Melo, foi designado o presidente do grupo parlamentar, Paulo Núncio.

Como é habitual, as intervenções vão seguir a ordem crescente de representação parlamentar cabendo o primeiro discurso à deputada do PAN, Inês de Sousa Real, seguindo-se Paulo Núncio (CDS), Rui Tavares (Livre), Paulo Raimundo (PCP, Mariana Mortágua (Bloco de Esquerda), Rui Rocha (Iniciativa Liberal), André Ventura (Chega), Pedro Nuno Santos (PS) e Ana Gabriela Cabilhas e terminando com o presidente do parlamento, José Pedro Aguiar-Branco, e de Marcelo Rebelo de Sousa.

No final da sessão solene, o Presidente da República desloca-se ao Salão Nobre do parlamento para uma visita à exposição, intitulada, "A Nós a Liberdade", organizada com a Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva e que foi oficialmente inaugurada na terça-feira.

À tarde, o parlamento abre portas ao público para um programa gratuito que inclui exposições, teatro e música.

O primeiro-ministro assinala também o aniversário do 25 de Abril num almoço com 50 jovens de diversas áreas, da cultura ao desporto ou ao voluntariado, na residência oficial de S. Bento, que estará aberto ao público a partir das 15:30 com um programa cultural que incluiu uma atuação musical de António Zambujo.

O Presidente da República vai abrir Palácio de Belém ao público e estará, a partir das 18:00, numa cerimónia com os seus homólogos dos países de língua e expressão portuguesa no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, que além da revolução em si celebrará a independência daqueles países. Nesta sessão estará também o primeiro-ministro.

À tarde decorrerá o habitual desfile na avenida da Liberdade, que juntará líderes políticos e este ano contará com a presença, simbólica, do presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar Branco.

O Terreiro do Paço vai ser um ponto central das comemorações oficiais, acolhendo a partir das 09:40 uma recriação histórica da "Operação fim de regime", iniciada no dia anterior na Escola Prática de Cavalaria, em Santarém.

Uma réplica da coluna comandada pelo capitão Salgueiro Maia, que há 50 anos saiu de Santarém rumo a Lisboa, chega ao Terreiro do Paço a tempo de desfilar perante Marcelo Rebelo de Sousa e restantes entidades.

As antigas viaturas do Exército irão permanecer no Terreiro do Paço até às 12:00, proporcionando a interação dos cidadãos com os militares de Abril presentes.
PUB
Momento-Chave
por RTP

Marcelo acredita que Portugal deve assumir responsabilidades sobre crimes cometidos na era colonial

O Presidente da República afirmou também que Portugal devia assumir a responsabilidade sobre os crimes cometidos durante a era colonial. Marcelo Rebelo de Sousa foi o primeiro chefe de estado a admitir que não basta um pedido de desculpa e essa declaração desencadeou várias reações no Brasil, onde se pede ações concretas, por parte de Portugal.

A reportagem é do correspondente da RTP Pedro Sá Guerra.
PUB
por RTP

Foram muitos os homens e mulheres que participaram na Revolução de Abril

Foram várias as figuras que ficaram nesses dias para a História: Otelo Saraiva de Carvalho, Vasco Lourenço e o herói Salgueiro Maia.

PUB
por Joana Raposo Santos - RTP

25 de Abril. Os portugueses que encontraram no exílio a fuga à ditadura

Foto: AFP

Hoje, sair livremente de Portugal é um direito ao qual a generalidade da população tem acesso. Há 50 anos, porém, as restrições acumulavam-se, começando a ser eliminadas progressivamente apenas após a Revolução dos Cravos. A RTP falou com antigos exilados portugueses que viram na saída do país - muitas vezes complexa e arriscada - a única solução para a fuga à ditadura que lhes roubava a liberdade de dizerem "não" à guerra colonial, ao serviço militar e à vigilância constante.

“Para mim, a escolha foi sempre muito fácil desde o início: o exílio era preferível a ir alistar-me e ir para a guerra em Angola, Guiné, Moçambique, o que fosse na altura”. É com firmeza que Rui Mota, antigo exilado na Holanda, relembra a sua relutância em cumprir o serviço militar nas então colónias portuguesas em África.

A sua saída deu-se em 1966. Tinha 20 anos e a determinação em virar costas ao regime ditatorial de Salazar levou-o a atravessar a fronteira até Londres, onde tentou pedir asilo político. A aventura, porém, começou mal, já que a Inglaterra não reconhecia, na altura, os portugueses refratários ou desertores, que saíam de Portugal por motivos da guerra colonial, justificando-o com o facto de ambos os países serem membros da NATO.

O plano teve, então, de mudar: “Contactei os meus amigos que eram daqui de Portugal, da escola secundária e que já estavam na Holanda. Eles informaram-me que, à partida, o Governo holandês reconhecia os portugueses que fugiam da guerra e dirigi-me para lá”, conta Rui Mota.

Agora com 78 anos, este antigo exilado lembra bem a sensação de recomeçar a vida num lugar estranho, mas também a convicção de que essa era a escolha certa e, acima de tudo, a única possível para si.

“Não fiquei muito angustiado por ficar por tempo indeterminado no estrangeiro. Desde logo porque não queria fazer a tropa e a guerra colonial que estava implícita e, portanto, a escolha era fácil entre ir para África combater por um exército colonial e ficar exilado por tempo indeterminado”, explica.

“Para mim, a escolha foi sempre muito fácil desde o início: o exílio era preferível a ir alistar-me e ir para a guerra em Angola, Guiné, Moçambique, o que fosse na altura. Portanto isso para mim nunca constituiu um grande problema”.

Apesar de nunca saber “quanto tempo é que teria de ficar no exílio - podiam ser meses, anos – (…) estava de alguma forma mentalizado para ficar o tempo que fosse preciso”, conta.

Acabou por ficar, inicialmente, oito anos. A 25 de Abril de 1974, estava a caminho das aulas quando recebeu a notícia: um golpe de Estado tinha deitado abaixo o regime opressivo que há décadas ensombrava Portugal.

Manifestação de apoio aos prisioneiros políticos, Haia, 1972. Fotografia de Rui Mota.
A primeira reação não foi, no entanto, de alívio, mas sim de “uma certa incredibilidade”. “Eu pensei - eu e a maior parte das pessoas que estavam exiladas como eu - que era mais um golpe ou uma tentativa de golpe militar da chamada direita”, recorda Rui Mota.

Houve ali umas horas de expectativa para sabermos se realmente era um golpe militar progressista ou não, e só ao final do dia 25 de Abril é que percebemos que realmente se tratava de um golpe democrático e que, portanto, o governo fascista tinha caído ou estava em vias de cair”.

Depois de várias entrevistas dadas a órgãos de comunicação neerlandeses, foi a hora de pensar em fazer as malas. Rui voltou a Portugal no verão e sentia ainda “uma certa tensão no ar”, pelo que a estadia não durou muito tempo.

“Dado que a situação ainda era muito periclitante e não se sabia muito bem no que é que iam dar aqueles movimentos sociais, e também porque não tinha preparado o meu regresso a curto prazo, não quis arriscar. E, uma vez que já tinha uma situação relativamente estabilizada na Holanda - já lá vivia há oito anos, tinha uma bolsa de estudo, tinha relações sentimentais - optei por ficar lá, terminar o curso primeiro e só depois, mais tarde, regressar”.
“Comecei a ser vigiado”
Para Joaquim Saraiva, o motivo de saída do país foi idêntico: “Eu era completamente contra a guerra colonial e também contra o sistema vigente em Portugal. Só pelo facto de ter algum contacto com alguns amigos meus que eram do [Instituto Superior] Técnico, comecei a ser vigiado”, começa por contar à RTP. O IST, em Lisboa, era então palco de vários movimentos estudantis antifascistas.

“Eu mais três amigos decidimos deixar o país e pedir asilo. Tinha um conhecimento na Suécia e eu ia para Malmo. Essa decisão deveu-se ao sistema vigente, à falta de liberdade de expressão, ao facto de qualquer atividade associativa ser problemática”.

“Quando queríamos conversar um bocado à vontade, tínhamos que nos afastar dos sítios normais, do café… porque havia sempre a desconfiança que houvesse o que se chamava na altura ‘os bufos’, que acabavam por denunciar qualquer conversa que ouvissem contra o sistema”, recorda.

A partida não aconteceu, no entanto, da forma que esperava. No dia 28 de abril de 1970, com 20 anos acabados de fazer, Joaquim acabou por ter de atravessar a fronteira a salto sozinho, já que os seus três companheiros desistiram – um deles na noite da véspera.

“Foi um choque, porque é completamente diferente irmos acompanhados com amigos ou nem que fosse mais um amigo do que ir sozinho para um desconhecido”, confessa.

“Hoje ninguém tem noção que sair de Portugal era muito complicado naquela altura, sem documentação, sem passaporte, sem licença militar. E para quem nunca tinha saído aqui da zona de conforto - eu era da zona de Benfica e pouco mais conhecia do que Lisboa - dar um passo daqueles no escuro… Foi muito difícil, só quem viveu esse período é que poderá contar as dificuldades que eram”.

Manifestação em Copenhaga, 1973. Fotografia de Joaquim Saraiva.
A 2 de maio chegou à Suécia, num comboio que apanhou em França, com um passaporte falso. Ia mentalizado para poder ter de ficar no país nórdico durante meses, anos ou até décadas. Quando lá chegou pediu asilo político mas, tal como aconteceu a Rui Mota em Londres, o pedido foi recusado. A polícia sueca colocou-o, então, na Dinamarca, onde voltou a fazer o pedido, desta vez com sucesso.

“Fui o primeiro português a chegar à cidade onde estava, que era a segunda maior cidade dinamarquesa, Aarhus. Depois começaram a chegar mais portugueses e nós organizámos um comité de apoio aos desertores e desenvolvemos atividades de luta para a favor dos povos das colónias”.

Teve conhecimento do golpe militar em Portugal quando chegou ao trabalho no dia 25 de Abril. “Nesse dia não se consegue imaginar: só se esperava que acabasse o dia de trabalho para me poder encontrar com o resto dos companheiros, para discutirmos e saber mais notícias do que se passava em Portugal”, relembra.

Também à semelhança de Rui Mota, este exilado teve dúvidas quanto ao que se passava. “Aquelas caras, aquela Junta de Salvação Nacional, deixavam-nos um bocado duvidosos porque tínhamos a experiência do que se tinha passado no Chile no ano anterior, com o golpe do Pinochet. Sentíamos a preocupação de saber mais coisas para ver se em Portugal não se iria passar a mesma coisa. Felizmente que não”.

Assim que as notícias se confirmaram, não teve dúvidas. “A decisão sempre esteve tomada de que, assim que fosse possível regressar a Portugal, regressava-se. Era todo o objetivo quase. Foi uma debandada, porque éramos quase todos desertores, refratários que estávamos ali na Dinamarca e estávamos todos ansiosos para, assim que pudéssemos, regressar a Portugal”.

Para Joaquim, esse regresso aconteceu em junho de 1974.
As mulheres exiladas
“Um exílio querido”. É assim que Merita Andrade, agora com 80 anos, classifica a sua saída de Portugal, em 1971. Namorava com “um rapaz que não queria fazer a guerra” e que, por isso, saiu do país. Por amor, Merita seguiu-o.

“Era um exílio, digamos, querido, um exílio ao qual eu aderi por vontade própria”. Como mulher e, portanto, isentada do serviço militar, conseguiu sair mais facilmente. “A saída de Portugal para mim não era difícil. Eu ia no comboio normalmente, como toda a gente - tinha de levar passaporte, mas pronto, íamos de comboio e passávamos as fronteiras normais”, explica.

Foi nesse comboio que chegou a Grenoble, mas todos os anos vinha a Portugal de carro. “Aí era mais complexo, porque trazíamos as coisas escondidas no carro. Vínhamos com livros contra a ditadura. Eu fazia parte de um grupo que não era propriamente o grupo do governo português nesse ponto, e portanto algumas dessas viagens a Portugal foram complexas”, recorda.

Em França, a ideia era ficar pelo tempo que fosse preciso, até que a ditadura acabasse. Quando chegou o 25 de Abril, ia a caminho da escola onde dava aulas de português. À saída de casa encontrou um amigo que a impediu. “Não vais nada para a aula, hoje vamos festejar”, disse ele. “Festejar o quê?”, perguntou Merita.

Sem televisão em casa, não tinha visto ainda as notícias sobre Portugal. Assim que soube, os planos para o dia – e para os tempos seguintes – alteraram-se. “Realmente já não fui dar a aula. Voltei para casa a dizer ao Zé Carlos (então seu namorado) ‘olha, está uma revolução em Portugal’, e ninguém queria acreditar”.

Foram a correr pela vizinhança, onde viviam vários portugueses fugidos à guerra, para dar a boa nova. Nesse dia “já não houve trabalho para ninguém”. Começaram então os planos para o regresso a Portugal, que para Merita não pôde ser imediato, pois estava grávida.

O companheiro, que tinha ido para Portugal pouco depois da revolução, regressou para o nascimento da filha. Voltaram depois, já com a família completa, e fizeram a festa da liberdade em Vila Nova de Ourém, para onde foram viver.

Eu e ele fazíamos parte de um movimento revolucionário, digamos. E tínhamos encontros, reuniões com muita gente desse movimento e, portanto, não era propriamente uma festa contínua, mas encontrávamo-nos muitas vezes nas reuniões e falávamos disso”, afirma.

Foi nesses encontros que discutiam o que poderiam fazer por Portugal, já que “o país estava com necessidade de que houvesse uma grande revolução cultural e até de instrução”.
Uma peça-chave da revolução
A revolução fez-se em Portugal, mas não teria sido a mesma sem aqueles que estavam lá fora. “Eu penso que o papel [dos exilados], apesar de passivo, no sentido em que não estávamos diretamente ligados ao país - estávamos a viver no estrangeiro, portanto, não era uma atividade explícita - foi bastante importante no sentido em que nós estávamos organizados”, considera Rui Mota.

O antigo exilado explica que grande parte dos desertores e refratários estavam organizados em comités, organizações sociais, coletividades, associações, órgãos de comunicação. “E aqueles mais ativos, que eram uma minoria, objetivamente, estavam frequentemente nas notícias holandesas. Davam entrevistas, eram chamados a colóquios, à televisão, à rádio, etc. Eu próprio dei uma série de entrevistas durante aqueles anos em que estive exilado”, conta.

“Porque na Holanda, na altura, existia um grande movimento anticolonial, não só relativamente às colónias portuguesas, mas relativamente ao Vietname, à guerra da Argélia, etc. E, portanto, os holandeses estavam muito empenhados nessa altura e havia comités de solidariedade muito fortes que divulgavam as lutas anticoloniais, entre elas as portuguesas”.

Para Joaquim Saraiva, os exilados tiveram “uma quota-parte para que fosse possível o 25 de Abril naquela altura”. Uma das razões era o facto de a ausência desse grande número de portugueses provocar falta de mão-de-obra, o que, por sua vez, agravava o descontentamento em Portugal e contribuiu para acelerar o processo revolucionário.

Merita Andrade acredita que o grande número de desertores e refratários ajudou a esclarecer a opinião pública. “Já ninguém queria aquela guerra colonial, já ninguém acreditava naquilo e, portanto, a revolução era qualquer coisa que vinha trazer a mudança”, frisa.

Depois do 25 de Abril, muitos dos exilados que iam regressando continuavam a ter um papel ativo e fulcral para o pós-revolução. “Ainda me lembro que em Ourém, que foi onde eu vivi quando viemos de França, a gente sentia na população em geral uma vontade de fazer coisas a favor dos ditos pobres da altura, das pessoas que não eram fascistas”.

Nesse sentido, fez alguns cursos de alfabetização e, como assistente social, chegou a acompanhar casos “muito dramáticos” de crianças. São tempos que lembra com tristeza e que espera que não se repitam. “Que a Revolução dos Cravos te mantenha forever. Que a gente nunca mais volte atrás”, espera.
PUB
Momento-Chave
por Andreia Martins - RTP

Entrevista RTP. Marcelo diz que persistência de "pobreza" na sociedade é o maior fracasso dos últimos 50 anos

Foto: José Sena Goulão - Lusa

Em entrevista à RTP, o presidente da República considerou que o envelhecimento e a persistência da pobreza são os maiores fracassos do país desde o 25 de Abril. Marcelo Rebelo de Sousa recorda ainda as semanas que antecederam a revolução e como viveu tudo o que se passou, na altura enquanto jornalista, ao mesmo tempo que o pai era ministro do regime.

Nas últimas décadas, Portugal não conseguiu acabar com a pobreza, ainda que esta não esteja ao nível de “outros tempos”. Marcelo Rebelo de Sousa considera que ficou na sociedade um “núcleo duro” de pobreza que chega atualmente perto de dois milhões de portugueses.

É esse o principal fracasso que o presidente da República aponta quando questionado sobre os últimos 50 anos, ainda que seja uma pobreza diferente à que existia anteriormente. O chefe de Estado menciona também o envelhecimento da população portuguesa.

Na entrevista a António José Teixeira, gravada no Palácio de Belém na última terça-feira, Marcelo Rebelo de Sousa recordou como viveu os dias da revolução. Na altura, como jornalista do Expresso, sentia os efeitos da censura e integrava-se em grupos onde se “conspirava para a democracia, a descolonização e a integração na Europa”, incluindo também a SEDES.

A nível familiar, recorda que se vivia, na altura, com “o relacionamento familiar que era possível estando em lados diferentes”. Baltazar Rebelo de Sousa, pai do presidente da República, era à época ministro das Colónias de Marcelo Caetano.

Marcelo recorda que, a poucos dias do 25 de Abril, o pai já tinha noção do desgaste do regime. Quando tiravam uma fotografia em família, a 16 de Abril, o pai do presidente já se via como “passado”.

O chefe de Estado, na altura jornalista, também tinha essa noção. “Não pressentia, sabia”, referiu nesta entrevista, recordando os contactos que havia com o general Spínola. Tudo não passava de uma questão de “acerto de datas” e estava-se atento ao que aconteceria “mais semana menos semana”.

Do lado do regime, a informação era “nula”. “Sabia que havia um movimento, não controlava o movimento, mas a própria polícia política não teve a noção”, algo que atribui ao “talento do Movimento dos Capitães” e à “amplitude das ligações e da organização”.

A 25 de Abril, contou a organização dos militares mas também o “apoio popular”, assinalou Marcelo.
“Implantar uma democracia demora tempo”
Marcelo Rebelo de Sousa fez, neste entrevista, um balanço positivo dos 50 anos da Revolução. Considerou que a “liberdade” e a “democracia” são as principais conquistas de Abril, muito pela emancipação que trouxeram.
Sobre o futuro, o presidente da República considerou que uma “sociedade democrática e livre é dinâmica, portanto muda”.

Apesar da pobreza persistente, Marcelo Rebelo de Sousa argumentou que o país “mudou muito” em 50 anos, mas que “implantar uma democracia demora tempo”.

Nestas últimas décadas, Portugal passou rapidamente por várias transformações. “Fizemos tudo ao mesmo tempo, terminámos um império de cinco séculos, terminámos uma ditadura de 50 anos, criámos um estado com liberdade e democracia”, com várias mudanças económicas e uma veloz integração na Europa, nomeadamente com a integração na Zona Euro.

“Em 12 anos fizemos o percurso que grandes economias fizeram em 40”, ressalvou.

Destacou, como positivo, o “juízo global” dos portugueses que continuam a considera que o 25 de Abril “valeu a pena”, ainda que discordem de “milhentas coisas”.

Com uma opinião “esmagadoramente favorável” aos ideais de Abril, Marcelo Rebelo de Sousa reconheceu que este é um trabalho “imperfeito e inacabado”, sendo que o mundo “mudou muito” e os desafios de hoje “são completamente diferentes”.

“A tarefa dos mais jovens é serem insatisfeitos, quererem muito mais e muito melhor”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa sobre as gerações mais novas.
PUB