As principais figuras políticas nacionais foram hoje unânimes no pesar pela morte de Jorge Sampaio, lembrado como um "homem bom", um "estadista" e um lutador pela liberdade e pelos direitos humanos.
Presidente da República entre 1986 e 1996, Jorge Sampaio morreu hoje aos 81 anos e o Governo decretou três dias de luto nacional, entre sábado e segunda-feira, estando a ser ultimados os detalhes das cerimónias fúnebres, que terão honras de Estado.
Quase cinco anos depois da morte de Mário Soares, em janeiro de 2017, hoje antes das 09:00 foi anunciada a morte de Jorge Sampaio, que estava internado desde 27 de agosto no Hospital de Santa Cruz, em Lisboa, na sequência de dificuldades respiratórias.
O Presidente da República recordou-o como "um homem bom" e destacou a sua luta pela "liberdade na igualdade", apelidando-o de "furacão ruivo" pelo seu empenho no movimento estudantil dos anos 60.
"Nasceu e formou-se para ser um lutador, e a causa da sua luta foi uma: a liberdade na igualdade", destacou Marcelo Rebelo de Sousa, que lembrou as suas várias causas, incluindo a independência de Timor-Leste, recordada por muitos outros protagonistas políticos.
A segunda figura do Estado, o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, lamentou a perda de "um amigo de longa data" e, para Portugal, de "um dos seus mais prestigiados cidadãos, que sempre serviu o seu país com distinção e honra".
Na mesma linha, o primeiro-ministro, António Costa, destacou o sentido cívico, militância e convicção com que Jorge Sampaio desempenhou múltiplas funções, desde a liderança do movimento estudantil contra a ditadura, a Presidência da República e o auxílio aos refugiados sírios.
"Para Jorge Sampaio, o exercício dos seus múltiplos cargos políticos foi sempre e só mais uma forma de exercer a sua cidadania", sustentou o primeiro-ministro.
O ex-Presidente da República Cavaco Silva considerou que o dia é de "profunda tristeza nacional" e sublinhou que o povo português "tem todas as razões para admirar e honrar" o antigo chefe de Estado Jorge Sampaio.
"Inclino-me perante a memória do Presidente Jorge Sampaio", afirmou Aníbal Cavaco Silva.
O outro antigo chefe de Estado, António Ramalho Eanes, remeteu para sábado uma declaração.
Entre os partidos, foi unânime o elogio às qualidades pessoais e políticas de Jorge Sampaio, com o presidente do PS, Carlos César, a recordá-lo como um "combatente pela democracia", para além de um "militante cívico inconformado".
O presidente do PSD, Rui Rio, destacou o sentido de Estado do antigo Presidente da República, fazendo "um balanço excecionalmente positivo" daquilo que foi a sua vida pública.
Catarina Martins, coordenadora do BE, lembrou-o como "figura central da democracia", que "soube fazer pontes à esquerda" e que lutou sempre por um Portugal "aberto, cosmopolita, solidário e defensor dos direitos humanos".
Em comunicado, o PCP destacou "o percurso democrático e de resistência ao fascismo no qual releva o papel desempenhado na defesa nos tribunais plenários, nos anos da ditadura, de numerosos antifascistas" e o PEV reconheceu "o papel absolutamente relevante para as respostas políticas que se impunham".
A porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, salientou o "legado histórico" e a "forma de fazer política" do antigo autarca de Lisboa.
Já o líder do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, agradeceu o papel desempenhado pelo antigo Presidente da República na libertação de Timor, na defesa dos refugiados e dos oceanos, "apesar das mais profundas divergências políticas que o separavam" do seu partido.
Na mesma linha, o Chega reconheceu o "papel de relevante protagonista" de Jorge Sampaio no regime democrático português, apesar de considerar que o "pensamento político" do estadista está "nos antípodas" do partido.
A Iniciativa Liberal apontou Sampaio como um "participante ativo na política portuguesa antes e depois do 25 de Abril", enaltecendo a sua defesa dos direitos humanos.
O secretário-geral das Nações Unidas e antigo primeiro-ministro António Guterres recordou-o como uma figura "central" da democracia de Abril, um "incomparável homem de Estado" que deixou uma marca "decisiva" na luta pela paz e no diálogo entre civilizações.
Outro antigo primeiro-ministro socialista, José Sócrates, salientou a sua admiração por Jorge Sampaio, dizendo que foi sempre um profundo respeitador e um cidadão atento à reputação da institucionalidade democrática e um defensor dos direitos individuais e constitucionais.
No campo do PSD, o antigo primeiro-ministro e presidente da Comissão Europeia Durão Barroso recordou Jorge Sampaio como uma "personalidade realmente empenhada nas causas da democracia" e "comprometida com o desenvolvimento social", quer em Portugal, quer no plano internacional.
Outro antigo chefe do Governo do PSD, Francisco Pinto Balsemão, recordou-o como um amigo "desde a infância", considerando que Portugal perdeu um dos maiores estadistas.
Também o ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho considerou a morte de Jorge Sampaio "uma grande perda" para Portugal e destacou o "agudíssimo sentido cívico moldado por grande humanidade" do antigo Presidente da República.
Pedro Santana Lopes destacou o relacionamento sempre "cordial" que manteve com Jorge Sampaio, por quem manteve o "respeito e admiração", apesar da "enorme divergência" registada quando o antigo chefe de Estado dissolveu o parlamento na altura em que ele era primeiro-ministro.
Foram também várias as figuras internacionais que lamentaram a morte de Sampaio, entre elas o ex-Presidente de Timor-Leste José Ramos-Horta, que o recordou como "o grande defensor da causa timorense".
O rei de Espanha, Felipe VI, já anunciou que vai estar presente nas cerimónias fúnebres do antigo Presidente da República Jorge Sampaio, depois de também ter assistido ao funeral do antigo Presidente da República Mário Soares.