Politécnicos temem extinção do sector por falta de alunos

por Agência LUSA

Responsáveis de várias escolas dos Institutos Politécnicos de todo o país alertaram hoje em Leiria o Governo para o risco de extinção de algumas instituições devido à falta de alunos.

Em causa estão as novas regras de acesso ao ensino superior aprovadas pela tutela, que impediram o acesso de cerca de dez mil alunos às universidades e politécnicos, uma situação que prejudica em particular os institutos.

Este ano lectivo, vários politécnicos do interior possuem apenas 30 por cento das vagas ocupadas, já que muitos dos cursos que exigiam provas de matemática, física e química não preencheram os lugares disponíveis.

"No futuro, a lei da oferta e da procura vai favorecer o sistema universitário" e levar ao "encerramento de escolas", vaticinou Gastão Marques, um dos docentes que intervieram hoje no Encontro Nacional de Escolas Politécnicas, que contou com a presença do secretário de Estado do sector, Manuel Heitor.

Por seu turno, Vicente Ferreira, presidente do Politécnico de Lisboa, defendeu medidas para ultrapassar o "desvio dos alunos da área da ciência para as áreas das humanidades", uma situação que penaliza fortemente os institutos, mais vocacionados para cursos tecnológicos.

"A formação tecnológica tem estado confiada no essencial aos institutos politécnicos e ela é posta em causa por razões que têm a ver com o sistema de acesso que temos", afirmou Luciano Almeida, presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP), que organizou o encontro.

Para este responsável, as críticas feitas por vários docentes não significam que os politécnicos estejam em risco de fechar, mas resultam de uma "situação de estado de choque" perante a fraca adesão dos alunos.

Alguns "tinham esperança que os resultados não fossem tão maus", mas "não penso que esteja em risco a sobrevivência das instituições" que, no entanto, "têm de ter disponibilidade para intervir noutras áreas", defendeu Luciano Almeida.

No seu entender, "as instituições têm estado numa situação de alguma passividade", mas "têm de passar a ser pro-activas", procurando novos públicos e novas áreas de actuação, definindo como "vocação essencial contribuir para o desenvolvimento das suas regiões".

Além disso, "as instituições terão de passar a intervir de forma activa também na formação dos jovens que depois hão-de ser seus alunos", defendeu.

Nesse sentido, o CCISP anunciou terça-feira a criação de um ano preparatório destinado a todos os alunos que não conseguiram entrar no ensino superior por não terem, pelo menos, 9.5 valores na prova de acesso.

A conquista de mais trabalhadores-estudantes inscreve-se também numa estratégia para permitir que "públicos hoje excluídos possam ser inseridos depois no ensino superior".

Aquele ano preparatório destina-se a 2.700 alunos que não tenham entrado este ano no ensino superior e as aulas deste projecto inovador vão começar já em Outubro, englobando as disciplinas de português, inglês, metodologias de estudo e pesquisa, tecnologias de informação, bem como aulas dos exames de acesso de cada estudante.

No total, das quase 13 mil vagas por ocupar no sistema de ensino superior, 7.859 pertencem aos institutos politécnicos, em muitos casos penalizados por terem provas de acesso mais difíceis como matemática ou física, nas quais muitos alunos têm notas inferiores a 95 valores em 200.

Outro dos problemas que os politécnicos querem ver resolvidos é a discrepância de médias das notas do secundário e das provas de acesso, que avaliam as competências adquiridas nesses três anos.

"Os alunos que têm a média de 8.1 na prova de matemática são os mesmos alunos que têm, em avaliação contínua no ensino secundário, nota média de 12,7", explicou Luciano Almeida.

Além disso, "é fundamental que se determine que os conhecimentos a que eles são avaliados nas provas de ingresso são os conhecimentos que são efectivamente necessários para poder frequentar com sucesso os cursos de ensino superior", disse, defendendo também a responsabilização do ensino secundário.

Embora salientando que o "ensino superior ainda não fez tudo o que seria possível fazer" nesta matéria, existe uma "responsabilização dupla" a que o Ministério da Educação não pode ficar alheio, nomeadamente na formação das ciências exactas.

"É escandalosa a falta de oferta de cursos tecnológicos e profissionais no ensino secundário", exemplificou.

Na reunião de hoje, o secretário de Estado do Ensino Superior manifestou a abertura da tutela para uniformizar as provas de acesso de cada curso, impedindo situações em que a ocupação de vagas é facilitada porque os exames são mais fáceis para os alunos.

Exemplo disso são os Institutos Superiores de Contabilidade e Administração (ISCA), que em Aveiro, Coimbra e Lisboa têm um máximo de 20 por cento de vagas ocupadas porque o exame de acesso é matemática, enquanto que no Porto 80 por cento dos lugares estão preenchidos porque a prova é de economia.

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