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Planta que matou jovem no Funchal existe nos jardins públicos - especialista

por Agência LUSA

A planta que alegadamente causou a morte de um jovem, quarta-feira, no Funchal, existe nos jardins portugueses e é utilizada com fins ornamentais, apesar da ingestão de algumas bagas ser suficiente para causar a morte, alertou um especialista.

O acidente ocorreu quarta-feira na localidade de Papagaio Verde, no Funchal, quando quatro jovens, com idades entre os 15 e os 19 anos, fizeram um chá para alegadamente experimentarem os efeitos alucinogénios de uma planta conhecida como "erva do diabo".

Um deles acabou por falecer por alegada intoxicação e os outros três ficaram em observação nos cuidados intensivos do Hospital da Cruz de Carvalho, tendo tido alta esta manhã.

Trata-se da Beladona, planta com o nome científico de "Atropa belladonna L.", que pode provocar efeitos psicoactivos, como alucinações, náuseas ou cegueira e a morte, quando ingerida em quantidades elevadas.

Carlos Cavaleiro, professor da Faculdade de Farmácia de Coimbra, explicou à Lusa que esta planta é frequente no centro e sul da Europa e em África.

A Beladona foi cultivada pelas suas propriedades medicinais e cosméticas, tendo sido assim baptizada pelos seus efeitos tonificantes na pele das mulheres no século XVIII.

Da família das Solanaceaes, a Beladona tem na sua composição um alcalóide (a hiosciamina) que é muito activo e desencadeia efeitos tóxicos na planta.

A hiosciamina é um alcalóide do grupo químico a que pertence a cocaína e a morfina.

Segundo Carlos Cavaleiro, o consumo de 10 a 60 miligramas de hiosciamina (entre uma e nove gramas de bagas de beladona) é mortal.

O especialista adiantou que a intoxicação revela-se pela diminuição das secreções, sede forte, náuseas e a dilatação da pupila.

à medida que a intoxicação vai ocorrendo, regista-se um aumento da actividade nervosa, tremores musculares e, eventualmente, alucinações com delírio que podem culminar no aumento do ritmo cardíaco e respiratório, coma e posterior morte.

Carlos Cavaleiro adiantou que a beladona é ainda matéria-prima para a produção de atropina, um medicamento fundamental para a oftalmologia, como as gotas utilizadas para a dilatação da pupila, fundamentais na observação ocular.

A Lusa apurou junto do Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento (Infarmed) que a atropina é um alcalóide que consta da composição de vários medicamentos comercializados em Portugal, nomeadamente para o tratamento de intoxicações e para o desenvolvimento dos músculos e ossos.

Outros componentes da Beladona fazem parte da composição de fármacos à venda em Portugal, como a escopolamina, que pode encontrar- se em medicamentos administrados para os espasmos do aparelho gastrointestinal.

Segundo Carlos Cavaleiro, trata-se de medicamentos "muito seguros" e que são conhecidos há anos.

O especialista revelou que já se registaram vários acidentes com a ingestão de bagas de Beladona, nomeadamente com crianças que são seduzidas pelo seu aspecto (redondo e colorido).

Sobre a sua utilização premeditada para fins alucinogénios, Carlos Cavaleiro disse desconhecer a sua aplicação, uma vez que até chegar à fase do delírio o consumidor passa por um "grande sofrimento físico".

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