De acordo com o despacho a que a RTP teve acesso, o Ministério Público deu autorização para a apreensão de computadores, telemóveis e outros suportes informáticos relevantes face à gravidade dos crimes em investigação, num processo com o nome de código "Mais Valia".
Segundo o diretor nacional da PJ, Luís Neves, as buscas estão relacionadas “com a venda da antiga sede da Federação Portuguesa de Futebol”.
Há suspeitas de corrupção, recebimento indevido de vantagem, participação económica em negócio e fraude fiscal, tendo a investigação começado em 2021 com suspeitas de negócios imobiliários relacionados com a venda da antiga sede da Federação Portuguesa de Futebol, na Avenida Alexandre Herculano, em Lisboa.
O edifício da sede da Federação Portuguesa de Futebol foi vendido em 2018, altura em que Fernando Gomes era presidente da FPF, por mais de 11 milhões de euros.
Entre os suspeitos está o empresário António Gameiro, mas também Paulo Lourenço, ex-secretário geral da Federação, que já foi constituido arguido neste processo.
Ainda se falou no nome de do ex-presidente da FPF, Fernando Gomes, mas o diretor nacional da PJ, Luís Neves, afirmou, em declarações aos jornalistas, que o ex-presidente não faz parte dos investigados, bem como Tiago Craveiro, diretor-geral da Federação Portuguesa de Futebol.
Durante o dia de hoje foi também cumpridos 20 mandados de busca em casas, uma instituição bancária e sociedades de advogados localizados nos distritos de Lisboa, Setúbal e Santarém.
As diligências foram executadas por 65 inspetores e 15 especialistas de polícia científica da PJ, contando ainda com a participação de cinco juízes de instrução criminal, seis magistrados do Ministério Público e quatro representantes da Ordem dos Advogados.
A investigação está a cargo do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa e vai continuar “com a análise à prova agora recolhida e com os competentes exames e perícias”.
Dois arguidos para já
O antigo deputado do PS, António Gameiro e o antigo secretário-geral da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) Paulo Lourenço são os dois arguidos constituídos na Operação Mais Valia, confirmou hoje à Lusa fonte judicial.
Lourenço, o advogado, trabalhou como secretário-geral entre 2012 e 2018, na federação, e como assessor jurídico do então presidente, Fernando Gomes, enquanto António Gameiro, doutorado em Direito, foi deputado do PS eleito cinco vezes por Santarém, tendo saído da Assembleia da República em 2023.
Estes dois são os arguidos constituídos para já, podendo haver mais, num dia em que a Polícia Judiciária (PJ) efetuou buscas em vários locais, entre eles a sede da FPF, e o diretor nacional, Luís Neves, confirmou que Fernando Gomes e o antigo diretor-geral Tiago Craveiro não são arguidos na operação.
Federação Portuguesa de Futebol surpreendida com buscas
Entretanto a Federação Portuguesa de Futebol emitiu um comunicado em que refere a surpresa destas buscas por parte do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa.
Neste comunicado pode ler-se que "a Direção da Federação Portuguesa de Futebol foi surpreendida com a realização de buscas na sua sede por parte de elementos da Polícia Judiciária, no âmbito de um processo que envolve a investigação de negócios relativos a anteriores mandatos, nomeadamente aos anos entre 2016 e 2020, “por factualidade suscetível de integrar crimes de corrupção ativa, recebimento indevido de vantagem, corrupção passiva, participação económica em negócio e fraude fiscal qualificada”, segundo o mandado de busca e apreensão.
A Federação Portuguesa de Futebol diz-se "totalmente inflexível na defesa dos interesses da instituição e intensificará as medidas de auditoria entretanto iniciadas pela consultora internacional PWC, no passado dia 17 de março, e constituir-se-á assistente em todo e qualquer processos que lesem os interesses patrimoniais e/ou reputacionais da FPF."
A FPF informa ainda neste comunicado que "irá até às últimas consequências face a qualquer prática ilícita ou criminal que venha a ser apurada e agirá de forma absolutamente intransigente relativamente a todas e quaisquer pessoas que tenham lesado os seus interesses", conclui.