Perfil de Sottomayor Cardia

por Agência LUSA

Fundador do PS, ex-deputado, ex-ministro da Educação de Mário Soares e resistente anti-fascista, chegando a ser expulso da universidade por decisão de Salazar, Mário Sottomayor Cardia morreu hoje aos 65 anos, vítima de doença prolongada.

Mário Augusto Sottomayor Leal Cardia nasceu em Matosinhos a 19 de Maio de 1941 e o seu envolvimento na política começou cedo, o que lhe valeu a primeira expulsão de um liceu no Porto.

Depois de participar na campanha eleitoral do general Humberto Delgado, Sottomayor Cardia vem estudar para a Universidade de Lisboa, em 1959, onde se formaria em Filosofia pela Faculdade de Letras em 1968, após várias peripécias que incluem uma expulsão por trinta meses por decisão de Salazar.

Nesse período, envolve-se activamente no movimento associativo estudantil e foi preso por diversas vezes. Numa delas, em 1970 é violentamente agredido pela PIDE, sofre uma ruptura da retina e fica cego durante dois meses, nunca recuperando totalmente.

Entretanto, Sottomayor Cardia aderiu ao PCP e é candidato a deputado, primeiro pela Oposição Democrática, em 1965, e depois pela CDE (Comissão Democrática Eleitoral) em 1969.

Trabalhou na revista "Seara Nova", onde é chefe de redacção entre 1968 e 1972.

Em 1971 abandona o PCP, saindo em divergência com Álvaro Cunhal, e torna-se militante do PS desde a sua fundação, em 1973, tendo colaborado na redacção do programa do partido.

Após o 25 de Abril, torna-se porta-voz dos socialistas e director do jornal do partido "Portugal Socialista".

Integrou os I e II Governos constitucionais, liderados por Mário Soares, como ministro da Educação e Investigação Científica (entre `76 e `78) e ministro da Educação e Cultura (entre Janeiro e Agosto de 1978), respectivamente.

Autor de um livro de teorização do socialismo democrático "Socialismo sem Dogma" (1982), foi o primeiro dirigente do PS a propor, em 1980, a retirada do marxismo do programa socialista.

Em 1978 abandonou a direcção do PS e só regressou à Assembleia da República, como deputado, em 1983, aí permanecendo até 1991.

Nesse ano, já com o PS sob a liderança de Jorge Sampaio, não volta a ser candidato a deputado, mas recebe das mãos do Presidente da República Mário Soares a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.

Só regressa à vida política em 1994 quando anuncia uma candidatura à Presidência da República, que acabaria por não concretizar.

As últimas funções que exerceu foram as de professor de Filosofia Política da Universidade Nova de Lisboa.

O corpo do ex-dirigente socialista vai estar em câmara ardente na sede nacional do PS, largo do Rato, em Lisboa, a partir do final da tarde de hoje.

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