Perdas na aprendizagem durante covid-19 podem ser permanentes sem intervenção séria

por Lusa
Manuel Bruque - EPA

Algumas perdas na aprendizagem provocadas pela pandemia de covid-19 poderão ser permanentes e outros problemas poderão persistir para lá de 2030, segundo vários investigadores, que defendem mais apoios aos alunos, melhorias na avaliação e currículos mais exigentes.

Estas são algumas das conclusões do livro que será hoje divulgado e que contou com a participação de analistas de 12 países, entre os quais Portugal, que voltaram a olhar para os efeitos da suspensão do ensino presencial durante a pandemia e para as diferentes formas de tentar superar os desafios educativos.

Os resultados estão no "Improving National Education Systems After Covid-19 - Moving Forward After PIRLS 2021 and PISA 2022", que mostra que "houve perdas generalizadas, que são graves, desiguais e que acentuam clivagens mesmo dentro dos mesmos meios sociais e das mesmas turmas", disse à Lusa Nuno Crato, investigador da Universidade de Lisboa e um dos autores do livro que hoje é lançado no ISEG.

Os investigadores alertam para a urgência de medidas e defendem que, sem uma intervenção séria e intensiva, serão precisos vários anos para que os alunos consigam recuperar as aprendizagens perdidas.

No capítulo sobre Inglaterra, por exemplo, o investigador teme que os problemas possam persistir até 2030 ou até mais tarde. "Existe um risco substancial de que as perdas se tornem permanentes", acrescentam os investigadores Nuno Crato e Harry Anthony Patrinos, no prefácio do livro, baseando-se nos resultados dos 12 países.

À Lusa Nuno Crato resumiu as principais recomendações das diferentes experiências e que apontam para a necessidade de voltar a olhar para os currículos, que deverão centrar-se nas disciplinas básicas e ser mais exigentes, aumentando o nível de conhecimentos ensinados e o rigor de cada disciplina.

"O exemplo mais claro é a leitura: Se os jovens não desenvolverem a fluência de leitura na idade apropriada vão ter dificuldades por ai adiante", explicou Nuno Crato, do Centro de Matemática Aplicada à Previsão e Decisão Economia do ISEG (CEMAPRE/ISEG).

Os investigadores recomendam também uma melhoria do sistema de avaliação. O investigador do Equador, por exemplo, destaca a importância das avaliações para ajudar os alunos com mais dificuldades. Já João Marôco, que assina o artigo sobre Portugal, critica a quebra na avaliação, lembrando a substituição da avaliação externa no final dos três ciclos do ensino básico por provas de aferição a meio dos ciclos de ensino.

O livro recorda ainda a "surpresa" dos maus resultados dos alunos portugueses em provas internacionais pouco depois de outros resultados aparentemente positivos.

A avaliação inicial do impacto dos confinamentos escolares em Portugal "parecia excessivamente otimista, com base nas avaliações internas da escola", recorda o autor do artigo sobre Portugal.

No entanto, em comparação com países semelhantes, as perdas de aprendizagem em Portugal duplicam as dos países com durações equivalentes de bloqueios escolares: "A Hungria registou uma quebra de 10 pontos na Matemática, enquanto Portugal registou um declínio de 20 pontos entre as edições do PISA de 2018 e 2022", escreve o investigador do ISPA-Instituto Universitário.

"Não cair na tentação de baixar os padrões" é outra das recomendações citadas no prefácio, que aponta também o sucesso de medidas como dar incentivos aos professores que dão explicações a alunos com baixo desempenho.

É preciso ajudar os alunos com mais dificuldades oferecendo-lhes tutorias, como acontece em Itália em que há aulas voluntárias para estudantes universitários. Já em Portugal, alerta João Marôco, tem havido uma tendência para substituir a tutoria cognitiva apenas pela mentoria emocional.

As explicações `online` e outras soluções tecnológicas de baixo custo também funcionaram bem durante a pandemia.

Os estudos apontam também para um aumento da "brandura e complacência" com o desempenho dos alunos em países como o Chile, a Estónia, Portugal e Espanha.

"Os professores e as escolas tornaram-se mais tolerantes com os esforços dos alunos, o que significou que, embora as notas aumentassem, a aprendizagem real alcançada - tal como medida por padrões padronizados avaliações como o PISA -- diminuíram", refere o estudo.

Em Portugal, por exemplo, passou a ser mais difícil chumbar um aluno, critica João Marôco.

Na análise dos 12 países, apenas a Estónia se destacou pela positiva, segundo Nuno Crato, que aponta o que diz parecerem ser "três características importantes": Uma avaliação sistemática; um currículo muito bem estruturado e a autonomia das escolas com grande responsabilidade.

Os países analisados foram o Chile, o Equador, a Inglaterra, a Estónia, a Itália, França, os Países Baixos, a Polónia, Portugal, África do Sul, Espanha e Estados Unidos.

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