Lisboa, 20 Jan (Lusa) -- Pedro Adão e Silva, um dos socialistas que elaborou a moção do secretário-geral do PS, defendeu na segunda-feira que se deve "taxar mais os rendimentos muito elevados" e acabar com as deduções para esses contribuintes.
Num jantar-debate sobre a crise promovido pela plataforma de reflexão política do social-democrata Pedro Passos Coelho, na noite de segunda-feira, em Lisboa, Adão e Silva defendeu ainda que os beneficiários de pensões que não decorram da sua carreira contributiva e que tenham outras fontes de rendimento deixem de as receber.
Na sua intervenção, o sociólogo e ex-dirigente nacional do PS afirmou que as crises são oportunidades para responder a problemas estruturais e apontou o "nível muito elevado de desigualdades" como "o principal problema estrutural" de Portugal.
"É momento de não termos hesitações em taxar mais os rendimentos muito elevados", defendeu o ex-membro da direcção socialista de Ferro Rodrigues.
Pedro Adão e Silva considerou que é justo em teoria que quem ganha 3.500 euros por mês pague 42 por cento de IRS, mas questionou a justiça de aplicar a essas pessoas a mesma taxa aplicada a quem ganha 20 mil euros.
"Tenho dúvidas de que assim seja. A compressão dos rendimentos mais altos é uma responsabilidade política e moral. A crise veio expor ainda mais essa necessidade", reforçou o socialista.
A moção do secretário-geral do PS, José Sócrates, ao Congresso socialista, para a qual Pedro Adão e Silva contribuiu, propõe limitar as deduções para os contribuintes com maiores rendimentos, em benefício da classe média, apoiando-a "nas suas despesas essenciais e estimulando a natalidade".
Hoje, Adão e Silva defendeu que é preciso "acabar simplesmente com as deduções para os escalões mais altos de rendimentos", reiterando a ideia de que "as classes médias devem poder deduzir mais com despesas sociais do que aqueles que estão no topo dos rendimentos".
Ainda em matéria de política fiscal, o socialista defendeu que alguns dos actuais pensionistas deixem de receber pensões, quando estas não resultam dos seus descontos para a Segurança Social e têm outros rendimentos, uma medida que disse ser "talvez mais impopular".
Adão e Silva afirmou depois aos jornalistas que "há muitos pensionistas que são pobres, mas há muita gente que recebe pensões baixas e que não é pobre, tem outras fontes de rendimento" porque investiu "noutros mecanismos de poupança", como o "imobiliário", ou recebe pensões pelo seu trabalho no estrangeiro.
Segundo o socialista, essas pessoas não devem receber pensões pagas pelo Estado.
Por outro lado, Adão e Silva discordou de Passos Coelho, que propôs como forma de combate à pobreza " um plano que permitisse a toda a sociedade -- não apenas ao Estado -- responder atempadamente a todos aqueles ficar de fora das prestações públicas", a "construir" pelo Governo em conjunto com as instituições de solidariedade social.
De acordo com Adão e Silva, a resposta à pobreza não consiste num "programa envolvendo a sociedade civil".
"Isso é o que Portugal anda a fazer há séculos. Não me parece que seja só por aí", disse, contrapondo que se impõe uma "redistribuição de rendimentos" no país e só há um mecanismo para o fazer: "os instrumentos fiscais".
Cerca das 01:00 de hoje, Passos Coelho encerrou o debate e precisou que o programa a que se referia corresponde a "respostas de emergência e de urgência" às situações de pobreza porque "o Governo sozinho não consegue monitorizá-las e não consegue responder-lhes".
No debate, que foi moderado pelo jornalista Carlos Magno, participou também o historiador Rui Ramos.