Pedro Passos Coelho voltou esta segunda-feira a sair a público para pedir “desculpa por ter usado uma informação que não estava confirmada”, referindo-se a declarações deixadas horas antes em Castanheira de Pêra. Naquele concelho do centro do país, o líder do PSD afirmara ter conhecimento de casos de “pessoas que puseram termo à vida, em desespero”, por falta de “apoio psicológico que lhes devia ter sido prestado”.
“Temos que falar com grande seriedade porque se trata da maior tragédia humana que o país viveu. Isso exige-nos a todos uma grande prudência e uma grande responsabilidade”, reagiu António Costa, ao tomar conhecimento das declarações do líder do PSD em Castanheira de Pêra.
Passos Coelho diria mesma ter “conhecimento de vítimas indiretas deste processo, de pessoas que puseram termo à vida, em desespero”. Cidadãos que, nas palavras do dirigente do PSD, “não receberam a tempo o apoio psicológico que lhes devia ter sido prestado”.
A controvérsia não tardou. Pouco depois das afirmações do líder do maior partido da oposição, quer a Administração Regional de Saúde do Centro, quer a autarquia de Pedrógão Grande, onde as chamas fizeram 64 vítimas mortais e mais de duas centenas de feridos, vinham negar a existência de quaisquer casos de suicídio.
Mais tarde, seria a vez de o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Pedrógão Grande, João Marques, que é também o candidato laranja à Câmara local, assumir que fora ele mesmo a passar “má informação ao doutor Passos Coelho”.
Já em Odivelas, o presidente do PSD dirigiu-se uma vez mais aos jornalistas para “pedir desculpa”: “Eu não tenho nenhuma dificuldade em pedir desculpa quando me engano e, sinceramente, peço desculpa por ter usado um dado que não estava confirmado”.
“Os vossos colegas que assistiram a essa declaração sabem que um deputado da minha comitiva chamou a atenção, logo no momento, de que essa informação não estava ainda confirmada oficialmente e portanto logo no momento foi dito que não havia indicação para essa informação. E a responsabilidade por tê-la utilizado coube-me apenas a mim e não a qualquer outra pessoa que me pode ter dado essa informação de boa-fé, com certeza”, continuou.
“O essencial”
Em seguida, Passos afirmaria esperar que a admissão do erro não fizesse “esquecer o essencial da observação” da manhã.
“E o essencial dessa observação é, em primeiro lugar, que temos hoje a confirmação clara de que o Estado falhou quando as pessoas perderam a vida nas condições em que perderam. Era muito importante que houvesse um mecanismo rápido de reparação dessa situação. Eu recordei que há vários anos atrás, por sinal até num governo socialista, portanto nem era essa a questão que aqui, agora, é pertinente, houve no caso de Entre-os-Rios um mecanismo expedito em que, estando em causa a responsabilidade objetiva do Estado, ao cabo de quatro dias, o Governo tomou a decisão de criar um mecanismo que visava reparar junto das famílias, das vítimas, essa responsabilidade objetiva do Estado”, insistiu o ex-primeiro-ministro.
“E isso não tem nada que ver com a atribuição de culpas sobre serviços, ou de culpas políticas do que aconteceu”, acrescentou.
“Aproveitamento emocional”
Vozes socialistas acusaram entretanto o líder do PSD de ensaiar um aproveitamento da calamidade que se abateu sobre a Região Centro, em particular sobre Pedrógão Grande. Em declarações à agência Lusa, a deputada do PS Júlia Rodrigues falou de “um aproveitamento emocional da tragédia”, ao passo que no Facebook a secretária-geral do partido do atual chefe do Executivo, Ana Catarina Mendes, considerou “inqualificável que um ex-primeiro-ministro difunda um boato com esta gravidade”.
Confrontado pelo repórter da RTP Tiago Contreiras com as críticas do Rato, Pedro Passos Coelho escusou-se a comentar.
“Quero apenas concluir dizendo que há uma responsabilidade objetiva, independentemente da culpa ou da responsabilização política, que era importante, junto das famílias, que o Estado pudesse reparar prontamente e disse, na altura - e volto a repetir -, espero que essa mensagem possa ser escutada, que o Governo tome essa iniciativa rapidamente. Pode fazê-lo de uma forma muito mais expedita do que se tiver de aguardar por uma iniciativa no Parlamento”, reforçou.
“Se de hoje a amanhã acontecer um ataque suicida, que a gente espera que nunca aconteça, em Portugal e pessoas perderem a vida na sequência disso, há uma responsabilidade objetiva do Estado, mesmo que se possa chegar à conclusão de que não era possível ter evitado essa circunstância”, exemplificaria adiante.
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