Passadiços de Arouca a arder num combate "inglório" e "sem meios"

por Lusa

Parte do troço de madeira dos Passadiços do Paiva, em Arouca, está a arder e, embora nessa zona não haja risco habitacional, a autarquia diz que o combate ao restante incêndio está "sem meios" suficientes e é "inglório".

O fogo nesse concelho do distrito de Aveiro e da Área Metropolitana de Porto deflagrou a partir daquele que teve início em Castro Caire, no distrito de Viseu, e está a lavrar desde as 23:00 de terça-feira, sendo que ao fim da manhã envolvia o trabalho de cerca de 100 operacionais, apoiados por 25 veículos.

"Isto é totalmente inglório", declarou à agência Lusa a presidente da Câmara Municipal de Arouca, Margarida Belém.

"Estamos sem meios, precisamos de muito mais gente aqui a combater o fogo e quem está a fazer a gestão destes recursos a nível nacional tem que ter noção do terreno e atuar de acordo com o ele exige, sob pena de, a esta velocidade de propagação, se repetir aqui o que aconteceu em 2016", realça.

A referência da autarca é ao incêndio que, em agosto desse ano, consumiu numa semana cerca de 8.600 hectares de floresta em Arouca e outros 17.000 no concelho contíguo de São Pedro do Sul. Só no primeiro desses municípios, os prejuízos foram na altura estimados em mais de 100 milhões de euros.

É com base nessa memória que a presidente da câmara defende agora: "Já cá deviam estar mais operacionais de outras corporações. E isto não é desvalorizar o que está a acontecer nos outros concelhos -- é sim realçar a gravidade do que está a acontecer no nosso".

A secção destruída do passadiço ao longo do rio Paiva é a do extremo junto à praia fluvial do Areínho: "Está a arder a escadaria próxima da Ponte de Alvarenga e ainda não temos noção exata da extensão da área queimada, mas prolonga-se para lá da ponte suspensa".

Margarida Belém defende, contudo, que essa não é a situação que mais aflige as autoridades. "Claro que é património valioso que se perde, mas muito mais valiosa é a vida humana e é essa que nos preocupa, já que o fogo está a circundar alguns povoados e nós não conseguimos ter bombeiros em todos os pontos onde há casas", justifica.

A mancha verde do concelho agrava os riscos: com 329,11 quilómetros quadrados, o território classificado como geoparque da UNESCO é composto em 85% por área florestal e parte dessa "está a arder com uma intensidade brutal" nas três frentes ativas do incêndio, nomeadamente em Alvarenga, na zona de Covêlo de Paivó e Janarde, e também na de Canelas e Espiunca.

A zona que gera mais inquietação é Ponte de Telhe, já que, se o fogo transpuser o rio Paivó, poderá a partir daí alastrar para novas frentes -- como aconteceu, aliás, em 2016.

Ao início desta manha já estavam confinadas as aldeias de Telhe, Covelo de Paivô, Meitriz, Regoufe, Silveiras, Vila Galega, Vila Nova, Santo António, Travessa, Várzeas, Vilarinho, Vila Cova e Serabigões, de onde foram retirados os habitantes com mobilidade reduzida, assim conduzidos para casa de familiares, noutras localidades.

Pela mesma altura, a câmara municipal fechou todos os estabelecimentos de ensino da rede pública do concelho, afetando as escolas-sede dos agrupamentos de Arouca e Escariz ao acolhimento exclusivo de "filhos e dependentes a cargo dos profissionais diretamente envolvidos nas operações de socorro no âmbito dos incêndios", entre os quais os da área da saúde, das forças de segurança e dos serviços de socorro.

Quatro estradas foram também cortadas ao trânsito nos dois sentidos: a EN 326-1, no troço entre Alvarenga e a saída para Castelo de Paiva; a EM 510, no trajeto entre Ponte de Telhe, Covêlo de Paivó e Janarde; a EM 505, na secção entre Canelas e Espiunca; e o CM 1227, desde o Espírito Santo até Bustelo.

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