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"Obras já". Relatório do LNEC aponta fissuras na Ponte 25 de Abril

por Cristina Sambado - RTP
A Infraestruturas de Portugal é uma empresa pública que gere e coordena a segurança da exploração rodoviária e ferroviária da travessia RTP

Um relatório do Laboratório Nacional de Engenharia Civil alerta para a necessidade de realizar obras urgentes na ponte que liga Lisboa a Almada. Se a intervenção não for feita terá de ser restringida a circulação de veículos pesados e comboios de mercadorias na travessia sobre o Tejo. A revista Visão revela que o Ministério das Infraestruturas esteve seis meses à espera de luz verde do Ministério das Finanças para avançar com as intervenções.

Na terça-feira a Infraestruturas de Portugal (IP) revelou que “vai lançar este mês uma empreitada de trabalhos de reparação e conservação da Ponte 25 de Abril, com um preço base de 18 milhões de euros e o prazo de execução de dois anos”.

“Esta empreitada tem por objetivo a realização de em conjunto de trabalhos identificados no âmbito das atividades de inspeção e de monotorização do comportamento estrutural da Ponte 25 de Abril, promovidas em contínuo pela IP, e executados pelo ISQ - Instituto de Soldadura de Qualidade e Laboratório Nacional de Engenharia Civil, respetivamente”, acrescenta a nota da Infraestruturas de Portugal. A Infraestruturas de Portugal é uma empresa pública que gere e coordena a segurança da exploração rodoviária e ferroviária da travessia e tem de dar informação regular ao Governo.

A decisão de avançar com as obras surgiu no dia em que a Visão denunciou riscos imediatos e problemas de segurança na Ponte 25 de Abril.

Segundo a revista, as anomalias em zonas mais sensíveis da travessia, precisamente nas “treliças da viga de rigidez” (local onde assenta o tabuleiro rodoviário e por dentro do qual circulam os comboios), começaram a ser detetadas há três anos.

Desde essa altura, os vários organismos que fiscalizam constantemente a Ponte 25 de Abril têm alertado o Governo para a necessidade de uma intervenção.

“Foram inúmeros os relatórios enviados para a Infraestruturas de Portugal”, avança a Visão.


Foto: RTP em agosto de 2016

Também os últimos relatórios do Instituto de Soldadura e Qualidade (ISQ) apontam, há vários meses, para o cenário de urgência de obras na ponte.

“As fissuras das treliças transversais aumentaram em número e em comprimento”, apontam os técnicos do ISQ, num relatório a que a Visão teve acesso. As treliças, conhecidas pelos técnicos como sistemas triangulados, são estruturas formadas por barras metálicas que se encontram unidas entre si por rebites (pregos especiais) ou soldaduras. Têm cerca de dez metros de comprimento e encontram-se ao longo da viga de rigidez, ligando-as aos cabos verticais.

A revista frisa ainda que nos documentos enviados ao Governo, “o ISQ chama constantemente à atenção para necessidade de brechas e para a necessidade de obras”.

No relatório de fevereiro, os técnicos do ISQ voltam a apontar para a necessidade de obras e referem “o aumento das rachas naquela zona” e explicam que a “anomalia já foi objeto de um relatório especial enviado à IP”.

Também a consultora norte-americana Parsons (detentora dos segredos da ponte, como atual detentora da empresa Steinman Boynton, Gronquist & Birdsall que a projetou nos anos 60) realizou, recentemente, um estudo que sugere a “realização de trabalhos imediatos”.

No documento, o ISQ recorda que a IP “está a preparar uma empreitada de reparação e manutenção da ponte”.

Empreitada que para o LNEC, entidade à qual o Executivo decidiu pedir opinião há alguns meses, confirma “ser, de facto, urgente”.

Segunda a Visão, “para chegar a essa conclusão, o LNEC usou um modelo matemático extremamente complexo que permite verificar o impacto dos esforços na ponte e analisar o risco de certas anomalias estruturais”.

Esse modelo, que utiliza um software específico, que o Laboratório Nacional de Engenharia Civil produziu o relatório “explosivo, em que define o que pode suceder caso não se faça a intervenção e continuem a aumentar as fissuras”.

O LNEC levanta a “possibilidade de se restringir o tráfego de veículos pesados e comboios de mercadorias”.

Os técnicos do LNEC não “afastam a possibilidade de um dia haver um perigo de colapso”.

Os peritos garantem, para já, que “não há risco e a Ponte é segura”. Mas “as obras têm de ser feitas já”.
Trabalhos durante a noite e fins de semana
A Infraestruturas de Portugal revelou que o prazo de dois anos para a realização das obras só se inicia após a adjudicação da empreitada, na sequência do concurso que será lançado no decorrer deste mês, e que os trabalhos de manutenção vão decorrer durante a noite e fins de semana.

“À semelhança das intervenções de manutenção anterior realizadas na Ponte 25 Abril, e de modo a minimizar eventuais impactos na normal circulação rodoviária e ferroviária, os trabalhos serão executados em períodos de menor fluxo de tráfego, nomeadamente em período noturno e em dias não úteis”, refere o comunicado da IP.

As intervenções previstas incidem sobre elementos metálicos da ponte suspensa e em elementos de betão armado e pré-esforçado do viaduto de acesso norte.


Foto: RTP em agosto de 2016

“Genericamente, trata-se da execução de trabalhos de construção metálica, soldadura, reposição localizada da proteção anticorrosiva, substituição de elementos não estruturais, limpeza, tratamento e pintura pontual de superfícies de betão”, acrescenta a Infraestruturas de Portugal.

O projeto de execução de suporte a esta empreitada contempla as soluções técnicas de reparação definidas pela empresa projetista americana Parsons e pela empresa projetista portuguesa TalProjecto, cujo desenvolvimento foi acompanhado e validado ao longo das suas diversas fases pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil.

"De referir que a Parsons é a empresa projetista que detém os direitos de autor do projeto de construção da Ponte que data da década de 60, e que é simultaneamente a autora do projeto de instalação do caminho-de-ferro, alargamento do tabuleiro rodoviário e de beneficiação geral da Ponte 25 de Abril, concretizada na década de 90", refere a Infraestruturas de Portugal.

A Talprojecto é uma empresa projetista portuguesa na área das estruturas metálicas.
Inaugurada em agosto de 1966
Em média, passam por dia 160 mil automóveis e 160 comboios (cerca de 80 mil passageiros) na Ponte 25 de Abril, é um dos principais acessos à cidade de Lisboa.

Foi inaugurada a 6 de agosto de 1966, com o nome de “Ponte Oliveira Salazar”, e na altura era apenas uma ponte rodoviária.

Dois dias depois da Revolução de 25 de Abril de 1974, um grupo que nasceu espontaneamente sob a designação de 1.º Comité de Ação Popular inscreve com tinta negra o nome com que deveria passar a ser conhecida a emblemática obra de engenharia: Ponte 25 de Abril.

A 29 de julho de 1999, os comboios começaram, pela primeira vez, a circular na Ponte 25 de Abril.



Composta por duas torres principais de aço carbono, com uma altura de 190,5 metros acima do nível da água, a 483 metros de cada margem, as torres assentam na rocha basáltica a mais de 80 metros abaixo da superfície das águas do Tejo.

Sendo uma ponte suspensa, com um comprimento total de cerca de 2.280 metros, o tabuleiro rodoferroviário foi inicialmente suportado por um cabo suspenso.
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