O presidente da Câmara Municipal de Lisboa admite rever os custos do altar-palco para a Jornada Mundial da Juventude, acima dos quatro milhões de euros. No entanto, Carlos Moedas insiste na ideia de que este será um grande evento para a capital. Marcelo Rebelo de Sousa apela à simplicidade e da Igreja sai um lamento: D. Américo Aguiar confessa que o valor do ajuste direto o “magoou”.
“Com tudo isso, o projeto pode evoluir”.
A Jornada Mundial da Juventude vai decorrer entre 1 e 6 de agosto e são esperadas em Lisboa mais de milhão e meio de pessoas.
O autarca assume a responsabilidades e afirma que as decisões são tomadas em conjunto.
“Aquilo que for apontado pelo senhor presidente da República e da Igreja, eu farei. Eu assumo as responsabilidades que tiver que assumir. Estou muito contente em assumir essa responsabilidade”, acrescentou.
Para o presidente da Câmara de Lisboa, o “que vamos ter é um evento único e extraordinário”. No centro da polémica está o valor anunciado para a construção do altar da Jornada Mundial da Juventude, mas Carlos Moedas garante que todos os custos estão a ser levados em conta.
Na quinta-feira, a comunicação social avançava que o valor da construção do palco-altar para receber o papa na Jornada Mundial da Juventude seria de cerca de 4,2 milhões de euros.
“Aquilo que admito é que fui o primeiro político a referir o cuidado com os custos. Quando cheguei, há um ano à presidência da câmara, a minha preocupação foi limitar os custos”, recordou. “Fui eu que disse que a Câmara Municipal não pagaria mais de 35 milhões de euros”, sublinhou.
“Se é quatro milhões, se é três milhões, se é cinco milhões, aquilo que o presidente da Câmara se comprometeu é que não custará mais do que 35 milhões”, salientou.
Carlos Moedas deu o exemplo do caso de Espanha que em 2011 investiu 60 milhões de euros e com a Jornada Mundial da Juventude e teve um retorno de 350 milhões.
Valor do altar “magoou” D. Américo Aguiar
O presidente da Fundação Jornada Mundial da Juventude, D. Américo Aguiar, afirmou na quinta-feira, em conferência de imprensa, que teve conhecimento do valor do altar para a Jornada Mundial da Juventude pela comunicação social e confessou que o valor do ajuste direto o “magoou”.
“Confesso que o número do ajuste direto me magoou”, disse D. Américo Aguiar, admitindo que 4,2 milhões de euros é “um número que magoa”.
O bispo responsável pelas Jornadas indicou que a Igreja está disponível para prescindir de algumas parcelas para que o valor total da obra possa descer. “É nossa obrigação sentarmo-nos com o autor do projeto para perceber porque custa 4,2 milhões e ver o que da nossa responsabilidade possa ser eliminado para que o custo seja menor”, afirmou.
Não há tempo para mudar projeto
Por sua vez, o vice-presidente da Câmara de Lisboa, Anacoreta Correia, referiu na noite de quinta-feira, em declarações à SIC Notícias, que já não há tempo para mudar o projeto do altar-palco para a Jornada Mundial da Juventude.
“Realisticamente parece-me difícil. Até porque neste momento temos um contrato assinado”, esclareceu.
Contudo, Anacoreta Correia admite alterações, embora complicadas e recorda que “estamos a 186 dias do evento acontecer”.
O vice-presidente da câmara da capital diz ainda que o retorno económico proporcionado por este evento é muito superior ao valor investido na construção deste palco.
Marcelo pede obra simples e pobre
Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que isso seria à imagem do papa Francisco e garantiu à RTP que, quando conheceu o projeto, não foi informado sobre o valor do custo do palco.
“Ele próprio é um exemplo e uma forma de ser e de pensar, que mesmo que não estivéssemos em guerra nem na situação em que nos encontramos. Convida à simplicidade”, afirmou na quinta-feira o Presidente da República. Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, “certamente que na situação final, que vier a ser encontrada, para as várias cerimónias se procurará uma fórmula de respeitar o que é o pensamento do papa”.
Primeiros esboços custavam menos de dois milhões
Os requisitos para o palco da Jornada Mundial da Juventude são conhecidos há mais de dois anos.
O anterior executivo da Câmara de Lisboa, liderado por Fernando Medina, tinha um esboço que respondia às indicações dadas pela Santa Sé, mas a obra ultrapassou os cinco milhões de euros por causa da pala que foi entretanto acrescentada.
José Sá Fernandes, que era vereador da Câmara de Lisboa com o pelouro do urbanismo, afirmou à RTP que há dois anos já se sabia que o palco ia receber mais de duas mil pessoas.
Segundo o ex-vereador, “a estrutura” pensada na altura “era feita com contentores reutilizados”.
José Sá Fernandes revelou ainda que os projetos do anterior executivo camarário “não exigiam fundações”. Segundo o ex-vereador o novo projeto “exige fundações. E logo aí são mais um milhão de euros. Mais a estrutura da própria pala estamos a falar de dois milhões. A diferença é esta”.