A viagem começa num edifício que representa o futuro – o primeiro bairro social do país construído com classe energética A+, onde conhecemos Maria Laura. Apesar da gratidão pela nova casa, sente falta da antiga habitação, num sentimento que o antropólogo Fernando Matos Rodrigues ajuda a contextualizar ao explicar as vantagens desta nova construção.
Mas a pobreza energética esconde-se em várias esquinas. O arquiteto António Fontes alerta-nos para a complexidade do problema, que vai muito além das casas frias. Os custos dos impostos, as áreas obrigatórias mínimas e o rendimento das famílias constituem peças fundamentais deste puzzle.
Nas históricas ilhas de São Vítor, as vozes de Teresa e Filomena dão corpo às estatísticas. Nas suas casas antigas, sem isolamento térmico adequado, o frio e a humidade são companheiros indesejados. As contas de energia consomem fatias significativas dos seus rendimentos, obrigando a escolhas difíceis no dia-a-dia.
João Pedro Gouveia, coordenador científico do Centro Europeu de Aconselhamento sobre Pobreza Energética, contextualiza o problema: milhões de pessoas na União Europeia são afetadas por esta realidade, com Portugal entre os países mais vulneráveis.
A sua mensagem é clara – este tema tem de saltar para o topo das prioridades políticas. Só uma abordagem integral permitirá quebrar o ciclo da pobreza energética. "O frio mora aqui" é uma viagem pelos lares onde o frio não é apenas uma sensação, mas uma realidade diária com impactos profundos na qualidade de vida dos portugueses.