"O cartoon é feito para desafiar os poderes instituídos"

Assim começou a "acumular funções", à semelhança de Tiago Albuquerque e André Carrilho, "somos desenhadores, animadores, realizadores". Os temas do Spam Cartoon são "sobre atualidade política, com humor" e sempre em cima da atualidade, "o princípio é estarmos bem informados", lembra Cristina Sampaio.

Até porque os cartoonistas também comentam "a atualidade através do desenho, através da sátira (que é) inerente ao nosso trabalho de cartoon". Cristina Sampaio considera “normal” que as pessoas se ofendam. No entanto, “quando os políticos reagem mal estão a ignorar que eles têm que ser escrutinados” porque estão em cargos “alegadamente para servir quem os elegeu”. Por isso, Cristina Sampaio defende que, cumprindo a lei, "nas democracias não pode haver linhas vermelhas" para fazer cartoons. Sendo a atualidade “um terreno minado (…) temos que saber onde pôr os pés” por causa desta “distopia em que estamos a viver” reconhece a cartoonista.Nós fazemos humor sobre coisas muito sérias e muito graves”, às vezes “o trabalho de cartoonista é muito deprimente, mas o humor vem naturalmente, não fazemos um esforço”.

No entanto, foi “muito mais fácil fazer humor sobre os disparates do Donald Trump, no primeiro mandato, do que fazer humor sobre o que se passa em Gaza ou no Afeganistão”, explica Cristina Sampaio.

É neste ponto que surge a ética dos cartoonistas que é “avaliarem até onde eles querem ir ou não”. Mas nunca “por uma imposição externa”.

Esta conversa, no estúdio de trabalho de Cristina Sampaio, segue agora o fio dos “pontos cegos” dos cartoons. Ou seja, as reações que surpreendem o próprio cartoonista.

No caso de Cristina Sampaio, isso aconteceu com o Spam Cartoon “Carreira de Tiro” que “a polícia portuguesa achou que era sobre ela e indignou-se”. Daí que a ilustradora aponte o problema que representa a descontextualização dos cartoons, “sejam eles animados ou não, (…) sobretudo nas redes sociais”. Sendo o cartoon uma “fantasia baseada na realidade”, Cristina recorre muito à pesquisa, à documentação. E guarda tudo o que cria a partir dessas pesquisas. Neste momento, são algumas centenas as imagens “com todas as coisas que eu posso vir a reutilizar, por exemplo, armas (…) também tenho um banco de imagens com bombas. Temos uma entrevista muito bélica [risos], mas é o ar dos tempos”. A animação sobre as guerras mundiais nasceu de um cartoon único, fixo, premiado, feito por Cristina Sampaio. A dedicação que tem ao trabalho quando faz pesquisas também deu origem a um banco de imagens de caricaturas. Foi a essa sua base de dados que recorreu para a caricatura de Marcelo Rebelo de Sousa no Spam Cartoon “Conversa de mesa”.

Cristina explica que “o meu desenho é bastante geométrico” e mostra-nos “as várias expressões” que desenhou do Presidente da República para fazer a animação. Cristina Sampaio também guarda vários cartoons animados que já fez, mas que ainda não foram transmitidos. Estão à espera que a realidade chame por eles.

"A intenção de um cartoonista não é fazer mal a alguém"

"Liberdade confinada a um retângulo"