Nove em cada dez portugueses desconhecem que arritmias cardíacas podem ser fatais - estudo
Lisboa, 17 Fev (Lusa) - Nove em cada dez portugueses desconhece que as arritmias cardíacas podem ser fatais e apenas uma minoria (2,6 por cento) admite estar preocupada com esta doença, a principal causa de morte súbita, revela um estudo hoje divulgado.
Realizado pelo Instituto Português do Ritmo Cardíaco (IPRC), a Associação Portuguesa de Arritmologia, Pacing e Electrofisiologia (APAPE) e a Associação Portuguesa de Portadores de Pacemakers e CDI´s (APPPC), o estudo inquiriu uma amostra de 771 pessoas com mais de 18 anos, residentes em Portugal continental.
O estudo indica que 39,3 por cento dos portugueses não reconhece qualquer sintoma das arritmias cardíacas, enquanto 81,6 por cento afirma que já ouviu falar desta doença.
Em declarações à agência Lusa, o cardiologista Carlos Morais afirmou que "os portugueses sabem muito pouco sobre as arritmias cardíacas e desconhecem a sua gravidade".
Uma arritmia é uma perturbação do ritmo dos batimentos cardíacos e pode ter consequências fatais quando não tratada, alerta o médico, informando que os sintomas de alerta são as palpitações, fadiga, vertigens, tonturas, transpiração irregular, enfraquecimento, falta de ar, dor de peito e ansiedade.
Como muitas vezes as arritmias não provocam sintomas, grande parte da população em geral desconhece os seus riscos.
"Metade dos doentes que morre de causa cardíaca é por arritmia", disse o médico, estimando que morram anualmente em Portugal entre 125 e 200 pessoas por morte súbita.
Segundo a investigação, a dor súbita e intensa na zona do peito é o principal motivo que levaria os portugueses a recorrer a um cardiologista (40,5 por cento), logo seguido pelas dificuldades respiratórias (18,3 por cento).
As palpitações ou batimentos cardíacos estranhos são apenas o terceiro motivo para uma eventual consulta a um especialista (17 por cento).
O estudo demonstra ainda que quase metade dos inquiridos (45,5 por cento) associa a morte súbita ao enfarte do miocárdio, seguido dos acidentes vasculares cerebrais (AVC) (23,2 por cento), ou insuficiência cardíaca (11,9 por cento).
Apenas 5,4 por cento dos inquiridos relaciona a morte súbita com as arritmias cardíacas.
Apesar de serem a primeira causa de mortalidade em Portugal, apenas um em cada 10 portugueses elege as doenças cardiovasculares como as doenças mais graves no contexto de outras patologias.
Assim, as doenças cardiovasculares são consideradas a quarta doença mais grave (10,2 por cento) pelos inquiridos, depois do cancro (54 por cento), da doença de Alzheimer (14,4 por cento) e do VIH/Sida (14 por cento).
Para o presidente do IPRC, Daniel Bonhorst, "é preocupante saber que os portugueses não têm a percepção da relação entre os problemas de ritmo cardíaco e as suas consequências fatais", sublinhou.
Carlos Morais acrescenta que uma grande parte dos casos de morte súbita poderia ser evitada através de estratégias preventivas e de diagnóstico e terapêutica.
"Há uma série de situações de arritmia cardíaca que são potencialmente graves e limitativas para a qualidade de vida dos doentes e que podem ser tratadas como os meios de diagnóstico e terapêutica adequados, mas muitas vezes os doentes não têm o seu acesso tão facilitado como deveriam ter", sublinhou o cardiologista à Lusa.
Para uma resposta mais adequada, o médico defendeu a criação de uma "rede de referenciação" para os doentes que necessitem deste tipo de procedimento para que sejam diagnosticados a tempo e orientados para os centros onde os tratamentos e diagnósticos sejam feitos adequadamente.
O estudo analisa ainda o conhecimento que os portugueses têm sobre os dispositivos médicos cardíacos, revelando que um em cada sete inquiridos demonstra ter um bom conhecimento sobre pacemakers (uma pilha que se implanta na zona peitoral e que mantém ou regula o ritmo cardíaco).
No entanto, apenas 13,8 por cento dos portugueses já ouviu falar em desfibrilhadores, um dispositivo que permite controlar os ritmos rápidos do coração e prevenir a morte súbita.
Por outro lado, apenas 14 por cento dos portugueses que já ouviram falar de dispositivos médicos cardíacos considera que existem actividades proibidas aos portadores de pacemaker ou desfibrilhador, entre as quais fazer esforços físicos ou de alta competição (10,6 por cento), utilizar os aparelhos eléctricos domésticos (1,4 por cento), utilizar o telemóvel (0,8 por cento) ou viajar de avião (0,5 por cento).
A amostra do estudo apresenta uma margem de erro de 3,46 por cento para um intervalo de confiança de 95 por cento.