Noite de Lisboa mais segura

por Rosário Lira - RTP
Sibeko Siphiwe - Reuters

A Operação Fenix, que desmantelou a rede ligada à SPDE de Eduardo Silva, responsável pela segurança no Dragão, também trouxe mais segurança a Lisboa mas continuam a existir agressões nas discotecas da capital por seguranças e pessoal não identificado.

A PSP garante que Lisboa tem vindo a tornar-se mais segura no que se refere a eventos criminosos associados à segurança privada em estabelecimentos noturnos. O decrescimo dos crimes associados à criminalidade violenta e grave na Área Metropolitana de Lisboa fala por si.

O desmantelamento de redes criminosas, no âmbito da Máfia da Noite, Máfia Brasileira, Operação Fénix e as operações Mercúrio, tem permitido à PSP eliminar os grupos mais expressivos que se movimentavam em torno de estabelecimentos de diversão noturna, instrumentalizando a prestação de serviços de segurança privada e levando a efeito outras práticas criminosas, nomeadamente com recurso à violência. 

Uma segurança que nas palavras do Intendente Resende da Silva, da Divisão de Investigação da PSP, tem vindo a aumentar "gradualmente e a olhos vistos". 
No entanto, o Intendente Resende da Silva lembra que a noite aparece sempre associada a um ambiente de festa, lazer e álcool que potencia situações de violência e insegurança e reconhece que para quem é vítima uma qualquer estatística não tranquiliza. 
Queixas não registadas

Com efeito, a estatística nem sempre é reveladora da realidade porque há jovens que, apesar de terem sido agredidos em discotecas por vigilantes identificados e não identificados, não apresentam queixa. Ou porque não querem que os pais saibam ou porque acham que perderam a razão ao beber para além da conta e é normal. Ou até porque se sentem diminuídos junto dos amigos por não terem conseguido responder na mesma medida. 

João e Tiago (nomes fictícios) são dois desses casos. 

João foi agredido por um segurança do Urban. O caso verificou-se há cerca de um ano à entrada do recinto. "Estava uma fila enorme para entrar. Tudo a empurrar. Eu também comecei a empurrar para não ser esborrachado.  Atrás de mim estava um segurança que me apertou o pescoço, fez-me uma chave, só me lembro de acordar no chão com os meus amigos a olharem para mim". 

João perdeu os sentidos. O rapaz não sabe se o segurança estava identificado. Sabe apenas que mais tarde entrou na discoteca e voltou a vê-lo. Optou por não apresentar queixa porque considerou que de nada adiantaria. O caso foi tão rápido que nem os amigos que estavam no mesmo grupo se aperceberam do que acontecera antes de o ver caído no chão. 

Há 2 meses Tiago estava no Urban acompanhado por um grupo de amigos que começou a ser empurrado por um segurança para o exterior. Não gostou da situação e quando foi pedir ao segurança para não expulsar os amigos ele deu-lhe um murro, provocando um hematoma interno no rosto que obrigou a tratamento médico e fisioterapia. 

Confessa, agora em tom de brincadeira: "Um murro daqueles ainda aleija". E pergunta-se: Então porque não apresentou queixa? Adianta que já tinha bebido um pouco e que terá usado uma linguagem menos própria com o segurança. Reconhece que nada justificava a agressão do segurança mas mesmo assim optou por não apresentar queixa. Revela: "Nunca mais ponho lá os pés. São muito mal educados e agressivos". 

Outros casos podiam aqui ser relatados. Cada um destes jovens conhece outras situações. E esses também já ouviram falar de outros. Por ano a PSP e a GNR registam uma média de 1000 queixas contra seguranças, identificados ou não. Mas para além destes, há outros, que não sabemos quantos são, igualmente agredidos, mas objetivamente calados. 

Confrontado com estas situações, o Intendente Resende da Silva não se pronuncia sobre nenhum estabelecimento noturno em concreto mas garante que "havendo uma incidência particular de casos" a PSP fica atenta e poderá mesmo analisar a correlação dessas situações com outro tipo de crimes. 

Lembra que estabelecimentos que estão mais na moda têm mais afluência, ultrapassam muitas vezes a lotação permitida e consequentemente geram um potencial de conflito maior. Refere também que a PSP já tem sido chamada a intervir em situações de grupos que se organizam para agredir seguranças em retaliação de atos anteriores. 
"Vão ter a polícia à perna"

Em Lisboa, desmantelada a rede ligada à SPDE, de Eduardo Silva, no âmbito da Operação Fénix, a PSP tem concentrado a sua atuação na vigilância e nas ações preventivas para tentar evitar a formação de novos grupos que venham a ocupar o terreno deixado vago por aqueles que foram detidos. 

A PSP, garante o Intendente Resende da Silva, vai continuar "atenta analisando a correlação entre os atos violentos e os outros fatores a considerar". Avisa mesmo: "Quem pense em cometer determinados crimes terá de estar preparado para ter a polícia à perna, como se costuma dizer".
Contactos com elementos que conhecem a noite e dados que constam dos processos já em curso permitem concluir que as agressões levadas a efeito por seguranças contra clientes são instrumentais, ou seja, têm por objetivo ganhar nome, impor serviços e ascender na hierarquia de uma organização. Muitas vezes os elementos ao serviço de empresas de segurança agridem para dar lições, demonstrar força e poderem gabar-se junto dos seus pares.

No entanto, fazer prova nestes casos também não é fácil, sendo que a prova testemunhal é a mais difícil. As testemunhas acabam muitas vezes por ser pressionadas e condicionadas. 

Num mercado onde há muita concorrência, os esquemas ilegais para controlar os espaços noturnos proliferam e passam muitas vezes pela simulação de agressões contra o estabelecimento ou pessoas dos estabelecimentos que permitem ao interessado em controlar vir posteriormente a oferecer um serviço que garante que a situação registada com a sua empresa, nunca se verificaria. 

Quem está no meio chama-lhe "jagunçada", que funciona a coberto de um alvará para dar aparente legitimidade. E quem não tem alvará para funcionar muitas vezes aproveita empresas já constituídas e em dificuldades para se infiltrar e ficar com o negócio, ganhando força e criando uma rede.
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