A Operação Fenix, que desmantelou a rede ligada à SPDE de Eduardo Silva, responsável pela segurança no Dragão, também trouxe mais segurança a Lisboa mas continuam a existir agressões nas discotecas da capital por seguranças e pessoal não identificado.
O desmantelamento de redes criminosas, no âmbito da Máfia da Noite, Máfia Brasileira, Operação Fénix e as operações Mercúrio, tem permitido à PSP eliminar os grupos mais expressivos que se movimentavam em torno de estabelecimentos de diversão noturna, instrumentalizando a prestação de serviços de segurança privada e levando a efeito outras práticas criminosas, nomeadamente com recurso à violência.
Uma segurança que nas palavras do Intendente Resende da
Silva, da Divisão de Investigação da PSP, tem vindo a aumentar "gradualmente
e a olhos vistos".
No entanto, o Intendente Resende da Silva lembra que a noite
aparece sempre associada a um ambiente de festa, lazer e álcool que potencia
situações de violência e insegurança e reconhece que para quem é vítima uma
qualquer estatística não tranquiliza.
Queixas não registadas
No entanto, fazer prova nestes casos também não é fácil, sendo que a prova testemunhal é a mais difícil. As testemunhas acabam muitas vezes por ser pressionadas e condicionadas.
Num mercado onde há muita concorrência, os esquemas ilegais para controlar os espaços noturnos proliferam e passam muitas vezes pela simulação de agressões contra o estabelecimento ou pessoas dos estabelecimentos que permitem ao interessado em controlar vir posteriormente a oferecer um serviço que garante que a situação registada com a sua empresa, nunca se verificaria.
Com efeito, a estatística nem sempre é reveladora da
realidade porque há jovens que, apesar de terem sido agredidos em discotecas por
vigilantes identificados e não identificados, não apresentam queixa. Ou porque
não querem que os pais saibam ou porque acham que perderam a razão ao beber
para além da conta e é normal. Ou até porque se sentem diminuídos junto dos
amigos por não terem conseguido responder na mesma medida.
João e Tiago (nomes fictícios) são dois desses casos.
João foi agredido por um segurança do Urban. O caso
verificou-se há cerca de um ano à entrada do recinto. "Estava uma fila
enorme para entrar. Tudo a empurrar. Eu também comecei a empurrar para não ser
esborrachado. Atrás de mim estava um
segurança que me apertou o pescoço, fez-me uma chave, só me lembro de acordar
no chão com os meus amigos a olharem para mim".
João perdeu os sentidos. O
rapaz não sabe se o segurança estava identificado. Sabe apenas que mais tarde entrou na discoteca e voltou a vê-lo. Optou por não apresentar queixa porque
considerou que de nada adiantaria. O caso foi tão rápido que nem os amigos que
estavam no mesmo grupo se aperceberam do que acontecera antes de o ver caído no
chão.
Há 2 meses Tiago estava no Urban acompanhado por um grupo
de amigos que começou a ser empurrado por um segurança para o exterior. Não
gostou da situação e quando foi pedir ao segurança para não expulsar os amigos
ele deu-lhe um murro, provocando um hematoma interno no rosto que obrigou a
tratamento médico e fisioterapia.
Confessa, agora em tom de brincadeira:
"Um murro daqueles ainda aleija". E pergunta-se: Então porque não
apresentou queixa? Adianta que já tinha bebido um pouco e que terá usado uma
linguagem menos própria com o segurança. Reconhece que nada justificava a
agressão do segurança mas mesmo assim optou por não apresentar queixa. Revela:
"Nunca mais ponho lá os pés. São muito mal educados e agressivos".
Outros casos podiam aqui ser relatados. Cada um destes jovens
conhece outras situações. E esses também já ouviram falar de outros. Por ano a
PSP e a GNR registam uma média de 1000 queixas contra seguranças, identificados
ou não. Mas para além destes, há outros, que não sabemos quantos são, igualmente
agredidos, mas objetivamente calados.
Confrontado com estas situações, o Intendente Resende da
Silva não se pronuncia sobre nenhum estabelecimento noturno em concreto mas
garante que "havendo uma incidência particular de casos" a PSP fica
atenta e poderá mesmo analisar a correlação dessas situações com outro tipo de
crimes.
Lembra que estabelecimentos que estão mais na moda têm mais afluência,
ultrapassam muitas vezes a lotação permitida e consequentemente geram um
potencial de conflito maior. Refere também que a PSP já tem sido chamada a
intervir em situações de grupos que se organizam para agredir seguranças em
retaliação de atos anteriores.
"Vão ter a polícia à perna"
Em Lisboa, desmantelada a rede ligada à SPDE, de Eduardo Silva, no âmbito da Operação Fénix, a PSP tem concentrado a sua atuação na vigilância e nas ações preventivas para tentar evitar a formação de novos grupos que venham a ocupar o terreno deixado vago por aqueles que foram detidos.
Em Lisboa, desmantelada a rede ligada à SPDE, de Eduardo Silva, no âmbito da Operação Fénix, a PSP tem concentrado a sua atuação na vigilância e nas ações preventivas para tentar evitar a formação de novos grupos que venham a ocupar o terreno deixado vago por aqueles que foram detidos.
A PSP, garante o Intendente Resende da Silva, vai continuar "atenta analisando a correlação entre os atos violentos e os outros fatores a considerar". Avisa mesmo: "Quem pense em cometer determinados crimes terá de estar preparado para ter a polícia à perna, como se costuma dizer".
Contactos com elementos que conhecem a noite e dados que constam dos processos já em curso permitem concluir que as agressões levadas a efeito por seguranças contra clientes são instrumentais, ou seja, têm por objetivo ganhar nome, impor serviços e ascender na hierarquia de uma organização. Muitas vezes os elementos ao serviço de empresas de segurança agridem para dar lições, demonstrar força e poderem gabar-se junto dos seus pares.
No entanto, fazer prova nestes casos também não é fácil, sendo que a prova testemunhal é a mais difícil. As testemunhas acabam muitas vezes por ser pressionadas e condicionadas.
Num mercado onde há muita concorrência, os esquemas ilegais para controlar os espaços noturnos proliferam e passam muitas vezes pela simulação de agressões contra o estabelecimento ou pessoas dos estabelecimentos que permitem ao interessado em controlar vir posteriormente a oferecer um serviço que garante que a situação registada com a sua empresa, nunca se verificaria.
Quem está no meio chama-lhe "jagunçada", que funciona a coberto de um alvará para dar aparente legitimidade. E quem não tem alvará para funcionar muitas vezes aproveita empresas já constituídas e em dificuldades para se infiltrar e ficar com o negócio, ganhando força e criando uma rede.