Nas redes sociais e na Igreja: ser jovem católico "não está assim tão fora de moda"

por Inês Moreira Santos, Nuno Patrício - RTP
Foto: Nuno Patrício - RTP

Da vila de Oliveira de Frades, na Beira Alta, chegou a Lisboa um grupo de 37 peregrinos para a Jornada Mundial da Juventude. A liderar o grupo vem Paulo Vicente, padre em três paróquias deste concelho português do distrito de Viseu e um reconhecido influenciador entre os paroquianos e os milhares de seguidores nas redes sociais. Aos 31 anos, este pároco acredita que os jovens são o futuro e que, por esse motivo, a Igreja Católica tem de saber adaptar-se às novas formas de chegar a essas gerações.

A imagem típica dos membros do clero tem mudado. E os mais de 15 mil seguidores do perfil do padre Paulo Vicente no TikTok são prova disso. Sozinho, com jovens paroquianos e até com outros párocos, como o padre Guilherme (apelidado comumente por “Padre DJ”), este sacerdote aderiu às tendências online, com músicas, coreografias e pequenos vídeos sobre temas relacionados à religião e tem agregado uma legião de seguidores – nas redes sociais e nas suas paróquias.

O padre Paulo Vicente não tem dúvidas de que a “Igreja tem de aproveitar, cada vez mais as redes sociais, porque os jovens são o nosso futuro e os jovens estão muito presentes nas redes sociais”.

E se, atualmente, há menos população jovem a ter educação religiosa ou a assumir-se católica, o pároco da Beira Alta vê nas redes sociais uma “ferramenta importante” para chegar aos mais novos e mostrar que a Igreja Católica também pode ser moderna.

“É mais fácil se calhar transmitir a mensagem do Evangelho com um vídeo de dez segundos ou um vídeo pequeno (…) para chegar a eles, porque se calhar alguns andam afastados mas estão presentes nas redes sociais”, admitiu o também jovem padre em entrevista à RTP.

As redes sociais têm de ser uma ferramenta importante para (…) transmitir e levar a mensagem do Evangelho”, continuou, acrescentando: “desde de que começamos a trabalhar com o TikTok temos tido muitos seguidores”.

No TikTok e no Instagram de Paulo Vicente, os seguidores e as visualizações têm crescido a olhos vistos. Nas paróquias de Arcozelo das Maias e Ribeiradio, no concelho de Oliveira de Frades, onde serve, também há mais aproximação aos paroquianos mais pequenos, que querem contribuir com os conteúdos publicados, participar nas danças que são tendência nas redes sociais e sugerir novas ideias para outros vídeos.

JMJ: “Uma semente que vamos lançar aos jovens portugueses”
Padre em três paróquias de Oliveira de Frades e, ao mesmo tempo, capelão militar em Lamego e Vila Real, Paulo Vicente veio a Lisboa para a Jornada Mundial da Juventude e trouxe consigo um grupo de 37 pessoas. As redes sociais, como confirmou, foram essenciais para a preparação para a vinda dos participantes que se quiseram juntar.

“Venho com dois grupos de jovens das minhas paróquias”, disse. “São dois grupos de jovens das paróquias de Arcozelo das Maias e Ribeiradio, no concelho de Oliveira de Frandes, e mais algumas pessoas que se juntaram a nós para vir à Jornada”.

Os mais novos deste grupo de peregrinos que vem das paróquias do distrito de Viseu são adolescentes de 16 anos. Mas a maioria dos que se juntaram a Paulo Vicente têm entre 20 e 30 anos e há ainda, pelo menos, duas pessoas com mais de 40 anos.

Para Paulo Vicente já não é uma estreia na Jornada Mundial da Juventude. Foi a Cracóvia e ao Panamá, antes. Agora veio à aguardada JMJ de Lisboa.

“Quando eu cheguei do Panamá, lancei o desafio e começamos logo a trabalhar. Estamos a trabalhar desde 2019, a angariar fundos, a preparar as catequeses, a fazer este caminho com os jovens”, contou com entusiamo. “Por isso, também vem um número consideravelmente grande para as paróquias que eu tenho – porque são paróquias rurais, do interior” – e virem 37 pessoas dessas paróquias “é bastante bom”.

Sacerdote há seis anos, manifesta ter esperança que esta JMJ seja uma “boa forma de mostrar aos jovens portugueses” algumas realidades dos jovens estrangeiros.

“Isto já se viu nas pré-jornadas. Eu vejo no meu concelho que os jovens às vezes estão um bocadinho parados (…) e agora com as influências que tivemos [do estrangeiro], viram que se calhar o catolicismo não está assim, como nós costumamos dizer, tão fora de moda”.

Por isso, continuou, “é bom haver esta partilha de culturas, haver esta partilha de fé”, porque estão representados na Jornada centenas de países do mundo, com o mesmo objetivo: “o Evangelho de Jesus e transmitir esse evangelho a todas as pessoas”.

“Nós costumamos dizer que lançando as sementes, depois vêm árvores e depois o fruto”, explicou. “A Jornada Mundial da Juventude é isso mesmo: é uma semente que vamos lançar aos jovens portugueses”.

O padre e influenciador nas redes sociais referiu que as expectativas para esta edição da JMJ “são grandes, desde o anúncio no Panamá, porque acolher o maior evento – que é a Jornada Mundial da Juventude – no nosso país, na forma que nós acolhemos em Portugal, torna-o diferente".

"Porque o povo português, como sabemos, é um povo acolhedor, logo mostrar a nossa cultura a todos os países é bastante interessante. Vai ser bastante belo”.

O caminho até Lisboa, de preparação para o evento e o percurso com os peregrinos até à Jornada Mundial da Juventude, tem sido documentado por Paulo Vicente nas suas contas nas redes sociais - com vídeos, canções e uma coreografia preparada especialmente para o hino oficial da JMJ 2023. O jovem padre promete continuar a animar os seguidores e a conquistar mais paroquianos na igreja e com as tendências da Internet.
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