"Não fez nada". Ministra do Trabalho acusa provedora da Santa Casa de "total inação"

por Joana Raposo Santos - RTP
A ministra garantiu que não se tratou de um "saneamento político", mas sim de uma demissão "por razões absolutamente de gestão". Foto: Filipe Amorim - Lusa

A ministra do Trabalho declarou esta terça-feira que a exoneração da Mesa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa se deveu a razões de gestão e à ausência de um plano de reestruturação. Em entrevista ao Telejornal da RTP, Maria do Rosário Palma Ramalho acusou a Mesa e a provedora de se beneficiarem "a si próprios" e acusou Ana Jorge de não ter feito "nada" para resolver a situação difícil daquela instituição.

Questionada sobre o despacho do Governo onde são referidas “atuações gravemente negligentes” na Santa Casa que levaram à exoneração, a ministra garantiu que não se tratou de um “saneamento político”, mas sim de uma demissão “por razões absolutamente de gestão”.

“Não teve nada a ver com o perfil da senhora provedora, que eu muito prezo (…), mas sim com a convicção que o gabinete e o Governo foram formando de que ela não tinha capacidade e não possuía as qualidades necessárias”, explicou.

Maria do Rosário Ramalho declarou que, quando o Governo tomou posse, encontrou na Santa Casa uma “situação muito difícil” que não constava na pasta de transição.

“A senhora provedora foi imediatamente chamada. A conversa que tivemos (…) não evidenciou nenhum sentido de urgência relativamente à situação que se vivia”.

Segundo a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, “não havia um plano de restruturação” e houve uma “total inação”.

[A provedora] não fez nada (…). Nem me passava pela cabeça que ela não tivesse um plano de restruturação financeira, que não tivesse nenhum dado sobre execução orçamental do primeiro trimestre, que não tivesse feito nada”, revelou à RTP.
"Beneficiaram-se a si próprios"
A ministra acusou ainda a Mesa e a provedora de se terem beneficiado “a si próprios” e àqueles que gerem a Santa Casa. “Não beneficiaram de todo as pessoas que estão na operação”, muitas delas a receber perto do salário mínimo, argumentou.

Maria do Rosário Ramalho disse ainda ter estranhado que a provedora fale em calúnias e má-fé, já que, na reunião que tiveram previamente, Ana Jorge lhe transmitiu que o seu lugar estava “à disposição”.

Segundo a ministra do Trabalho, houve ainda “falhas de comunicação” com a provedora e a restante direção da Santa Casa, que nunca responderam ao conjunto “muito básico” de perguntas colocadas pelo Governo.

Por estas razões, a governante disse ter perdido “absolutamente” a confiança na provedora e revelou que ofereceu a Ana Jorge e à restante mesa a possibilidade de se demitirem, mas tal não aconteceu, pelo que foi necessária a exoneração.

Questionada sobre por que razão mantém a provedora em funções, a ministra respondeu que é “uma obrigação de qualquer pessoa que exerce funções públicas (…) manter-se em gestão corrente até ser efetivamente substituído”.
Acordo com parceiros sociais “é para cumprir”, por enquanto
Na entrevista ao Telejornal da RTP foi também abordada a primeira reunião de Luís Montenegro com os parceiros sociais, esta terça-feira.

A ministra, que também esteve presente, esclareceu que revisitar o acordo selado pelo anterior Executivo “quer dizer exatamente aquilo que está na palavra: olhar para ele juntamente com os parceiros sociais” e ver “o que é que está a correr bem na execução” e o que é que se pode melhorar.

Maria do Rosário Ramalho declarou ainda que “este Governo tem um novo paradigma no olhar para os aumentos salariais”, já que não se foca apenas no salário mínimo, mas também no salário médio. “O que temos hoje é um grande achatamento, uma diferença muito pequena entre o salário mínimo e o salário médio”, explicou.

De acordo com a governante, o Governo vai manter as metas salariais porque “o acordo que existe é para cumprir” pelo menos “até ser substituído, ou melhorado, ou revisitado”.

Também no caso das pensões “a fórmula que existe é para manter”, até porque o problema de pobreza em Portugal está “muito ligado à idade”, referiu a ministra.

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