"Não aceitamos esmolas". Sindicatos dos bombeiros rejeitam propostas do Governo

por Joana Raposo Santos - RTP
Pelo menos três centenas de sapadores de várias zonas do país manifestaram-se junto à sede do Governo. Foto: Miguel A. Lopes - Lusa

Os sindicatos dos bombeiros rejeitaram esta terça-feira todas as propostas avançadas pelo Governo durante uma reunião que durou cerca de duas horas até ser interrompida. No exterior da sede do Executivo, onde decorria o encontro, centenas de sapadores manifestavam o seu descontentamento. Ao som de petardos e gritos com pedidos de "respeito", os profissionais exigiram a revisão da carreira e o aumento do subsídio de risco.

A proposta “tinha um ligeiro avanço [em relação] à proposta anterior do Governo, mas aquém daquilo que nós nos comprometemos convosco, e por esse mesmo motivo nós recusámos aquela proposta”, avançou ao início da tarde um dos dirigentes sindicais.

Falando aos bombeiros ainda reunidos junto ao Campus XXI, onde se encontra a sede do Executivo, este sindicalista avançou outras das propostas recusadas. “Em relação ao suplemento de função, o Governo queria que a troco de dez por cento nós trabalhássemos mais 31 horas e meia por mês, e nós recusámos”, acrescentou.

Quanto ao subsídio de risco, o Executivo terá proposto um aumento “para chegar ao valor de 100 euros daqui a três anos”, algo que os sindicatos também recusaram por não aceitarem “esmolas”.

“Não aceitamos esmolas. Estamos a falar de uma carreira que não é revista há 22 anos e o Governo não vem com 100 euros comprar-nos”, declarou este representante dos bombeiros. “A nossa posição nunca seria aceitar qualquer proposta que venderia a dignidade dos bombeiros”.

O delegado sindical disse que a partir de agora será discutida a próxima posição a tomar, com vários dos sapadores ao seu redor a sugerirem uma greve geral.
Negociações suspensas por manifestação "não ordeira"
As declarações chegaram após uma manhã de intensos protestos, com pelo menos três centenas de sapadores de várias zonas do país a iniciarem uma concentração em Alvalade, percorrendo depois a Avenida de Roma até chegarem ao Campus XXI, junto ao Campo Pequeno. Com tochas e petardos, provocaram nesse local uma grande nuvem de fumo.

Ao final de aproximadamente duas horas de reunião, o Governo acabou por suspender as negociações por não aceitar negociar perante formas não ordeiras de manifestação.
Já ao início da tarde, um delegado sindical comunicou aos bombeiros no local que “não entendeu” a que condições o Governo se referia quando suspendeu o processo negocial. “Questionámos se eram as condições de segurança (…) e foi-nos informado que não, [que eram] as condições gerais da negociação”, declarou.

Segundo o Executivo, uma jornalista terá sido ferida no contexto da manifestação. Os sapadores disseram, por sua vez, ter-se tratado de um incidente menor, após o disparo de um petardo perto do pé de uma jornalista.
"Não somos arruaceiros"
Questionado sobre os petardos lançados pelos sapadores em protesto, um dos sindicalistas respondeu que, “conhecendo os bombeiros, a segurança nunca está em causa. Os bombeiros são soldados da paz, não são soldados da guerra”.

Está a haver uma tentativa de descredibilizar a imagem dos bombeiros sapadores. Não somos arruaceiros, não houve agressões a jornalistas, não houve agressões à polícia”, disse, por sua vez, a bombeira Frederica Pires em declarações à RTP.

Ao início da manhã, outro dos sapadores no protesto explicou que em causa está, fundamentalmente, a valorização da carreira, “estagnada há mais de 22 anos”.

“Neste momento estamos a chegar a um ponto de não retorno. A carreira, pura e simplesmente, deixou de ser apelativa, temos dificuldades muito grandes de recrutamento”, lamentou.
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