Mulher de João Rendeiro detida pela PJ

por RTP
As diligências estenderam-se ainda à residência de Florêncio de Almeida e do filho, que foi motorista de João Rendeiro durante vários anos. Rui Cardoso - RTP

Maria de Jesus Rendeiro, mulher de João Rendeiro, foi detida pela Polícia Judiciária no âmbito da Operação "D'Arte Asas". A detenção aconteceu enquanto prosseguiam as buscas na Quinta Patino, residência do antigo presidente do BPP e da mulher. Ambos estão envolvidos no inquérito do DCIAP num caso em que há suspeitas de um alegado crime de branqueamento de capitais.

Os inspetores foram preparados com um mandado de detenção dirigido a Maria de Jesus Rendeiro, por terem considerado existir “um forte perigo de fuga”, mas também “para a aquisição e conservação da prova e para a descoberta da verdade”.

Depois de João Rendeiro ter, em setembro, fugido do país e estar agora em parte incerta, a sua mulher acaba detida e será apresentada, no prazo de 48 horas, “a primeiro interrogatório judicial com vista à aplicação de medidas de coação adequadas”.

A PJ esteve também, durante a manhã, a realizar buscas na casa de Florêncio de Almeida, presidente da Antral, no âmbito do caso de João Rendeiro.

As diligências estenderam-se ainda à residência do filho de Florêncio de Almeida, que foi motorista de João Rendeiro durante vários anos. Estas buscas estão relacionadas com suspeitas de relação entre a família do presidente da Antral e a família de João Rendeiro na aquisição de imóveis.

Ambas as residências da família Almeida localizam-se na zona de Santos-o-Velho, em Lisboa. Os inspetores procuraram documentação que pudesse servir de prova para o processo.

O Ministério Público avançou entretanto que foram nove os mandados de busca domiciliária e oito os de busca não domiciliária, nas zonas de Lisboa e Cascais.

“Tais mandados foram emitidos no âmbito de inquérito a correr termos no DCIAP e que tem por objeto, entre outros, a prática de crimes de branqueamento e de descaminho, relacionados com fundos que se suspeita terem sido retirados do Banco Privado Português, assim como com as obras de arte apreendidas a João Rendeiro no âmbito de processo no qual se encontra condenado”.

Algumas das suspeitas estão relacionadas com a possibilidade de crime de branqueamento de capitais. Florêncio de Almeida poderá ter atuado como "testa de ferro" do ex-presidente do Banco Privado Português. Também o filho, Florêncio Correia de Almeida, estará envolvido.

Segundo o MP, “a operação desencadeada visa a recolha da prova dos factos e a recuperação de produto do crime”. A investigação dirigida pelo DCIAP conta com a colaboração dos inspetores da Unidade Nacional de Combate à Corrupção da Polícia Judiciária, assim como da Autoridade Tributária.

Em comunicado entretanto divulgado, a Polícia Judiciária dá conta de detalhes da operação denominada "D'Arte Asas", referindo que "foi cumprido um mandado de detenção emitido pelo DCIAP".

A PJ disse ainda que as buscas em Lisboa, Oeiras, Estoril e Alcáçovas envolveram cerca de cinquenta inspetores e peritos.
A “teia” entre família de Rendeiro e de Florêncio de Almeida
A compra e venda de imóveis agora sob suspeita foi um tema alvo de várias reportagens do programa Sexta às 9, da RTP.

Em 2015, João Rendeiro terá vendido uma propriedade em Campo de Ourique, uma casa que foi herança de família, a quase três vezes abaixo do preço de mercado. Mas, na verdade, Florêncio de Almeida pode não ter pago nada por esta casa.

Na escritura de compra e venda consta apenas que João Rendeiro “recebeu” 503.500 euros.

Três anos depois, mais concretamente a 11 setembro de 2018, o casal, Florêncio Almeida e Dolores Correia doaram parte desta casa ao filho, Florêncio Correia de Almeida.

Dias depois, a 19 de setembro de 2018, Florêncio Correia de Almeida vende a casa de Campo de Ourique à Turtle Quotidian por cinco vezes o valor a que o pai tinha comprado o mesmo imóvel a João Rendeiro. Em três anos, este negócio permitiu que a família Florêncio encaixasse 1 milhão 166 mil 470 euros.

Essa quantia terá servido para comprar uma propriedade no Alentejo, mas também para comprar um apartamento na Quinta Patino. A 18 de dezembro de 2020, o motorista cedeu o direito de usufruto do apartamento por 15 anos à mulher de João Rendeiro, mediante o pagamento de 200.976 euros.
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