Otelo Saraiva de Carvalho, coronel de artilharia, morreu este domingo aos 84 anos. Foi responsável pelo plano de operações militares do 25 de Abril de 1974.
Figura carismática do Movimento das Forças Armadas e da Revolução de 1974, Otelo Saraiva de Carvalho encabeçou o sector operacional da Comissão Coordenadora e Executiva do Movimento dos Capitães. Foi autor do plano de operações do 25 de Abril, golpe que derrubou Marcelo Caetano e o que sobejava do regime do Estado Novo.
A partir do posto da Pontinha, no Regimento de Engenharia n.º 1, dirigiu com outros militares as operações daquele dia. Ali esteve desde o anoitecer de 24 de abril até ao dia 26.Otelo Saraiva de Carvalho era reconhecido como um militar particularmente vocacionado para a tática de artilharia.
Após a Revolução, foi nomeado comandante da Região Militar de Lisboa e do COPCON. Integrou o Conselho dos 20 e o Conselho da Revolução.
Foi candidato às presidenciais de 1976.
Otelo Saraiva de Carvalho nasceu em Lourenço Marques, atual Maputo, a capital de Moçambique, a 31 de agosto de 1936. Foi mobilizado para Angola em 1961, como capitão de artilharia, e lá permaneceu em comissão de serviço até 1963.
Entrevistado há cerca de sete anos na Antena 2, Otelo reconhecia a marca deixada na História de Portugal. Antena 1
“Figura maior do que a vida”
Conhecida a notícia da morte de Otelo Saraiva de Carvalho, o jornalista da RTP Jacinto Godinho relembrou o estratega da Revolução de 1974 como um “figura maior do que a vida”. “Apesar dos conflitos e de algumas divergências, continua a ser uma figura de grande afeto”, assinalou.
Por sua vez, o jornalista Adelino Gomes recordou Otelo como um nome que fica para a História de Portugal. “Era a figura para onde todos olhávamos naqueles primeiros meses”, evocou o jornalista, recuando aos dias da Revolução de 1974. “Conheci o Otelo ainda nos tempos da Escola do Exército”, lembrou, por seu turno, o general Garcia dos Santos, que evocou igualmente a própria participação na Revolução dos Cravos, no domínio das comunicações.
Questionada, na RTP3, sobre o legado de Otelo Saraiva de Carvalho, a historiadora Irene Flunser Pimentel afirmou que o estratega do 25 de Abril deixa "a maior das marcas do século XX português, que foi o derrube da ditadura". Paulo Moura, jornalista e autor da biografia de Otelo Saraiva de Carvalho, falou do "contacto muito próximo" que manteve com o estratega do 25 de Abril. O autor de Otelo, o Revolucionário salientou as "qualidades humanas".
Isabel do Carmo recordou Otelo Saraiva de Carvalho como "o herói do 25 de Abril". "Foi o homem que planeou e dirigiu as operações do movimento militar e eu digo movimento porque não foi um golpe militar, foi um movimento que veio de baixo", assinalou a médica e antiga dirigente do Partido Revolucionário do Proletariado, movimento que operou clandestinamente por meio das Brigadas Revolucionárias.
"É ainda cedo para a História o apreciar com a devida distância"
No portal da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa apresenta condolências "à família e à Associação 25 de Abril".
"Um dos mais ativos capitães de abril, exerceu funções muito relevantes durante a revolução e candidatou-se à Presidência da República em 1976. Afastado do poder na sequência do 25 de novembro de 1975, viria a ser considerado, pela Justiça, envolvido nas FP25, condenado e amnistiado", lê-se na nota do Presidente da República.
"É ainda cedo para a História o apreciar com a devida distância. No entanto, parece inquestionável a importância capital que teve no 25 de abril, o símbolo que constituiu de uma linha político-militar durante a revolução, que fica na memória de muitos portugueses associado a lances controversos no inicio da nossa Democracia, e que suscitou paixões, tal como rejeições", lê-se no mesmo comunicado.
"Maior símbolo individual do MFA"
O presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, homenageia Otelo Saraiva de Carvalho, "o maior símbolo individual do Movimento das Forças Armadas", que concretizou o sonho de todos os que "ansiavam por viver em liberdade".
"Apesar dos excessos que se possam apontar, nomeadamente no período pós 25 de Abril, Otelo Saraiva de Carvalho foi, e será sempre considerado, o maior símbolo individual do Movimento das Forças Armadas", pode ler-se numa mensagem de pesar do presidente da Assembleia da República, citada pela agência Lusa.
"Por todos os democratas, que ansiavam por viver em liberdade e em democracia, Otelo Saraiva de Carvalho concretizou esse sonho".
"No momento do seu desaparecimento, e pelo seu decisivo contributo, é justo render-lhe a mais sentida homenagem", enaltece.
"O que hoje somos"
O Governo veio também lamentar a morte de Otelo Saraiva de Carvalho, endereçando "as mais sentidas condolências à sua família, assim como à Associação 25 de Abril".
"Otelo Saraiva de Carvalho foi o coordenador operacional da ação militar do Movimento das Forças Armadas, que, no dia 25 de abril de 1974, derrubou o regime do Estado Novo, pondo fim à mais longa ditadura do século XX na Europa e abrindo caminho à democracia", destaca o Executivo.
"A capacidade estratégica e operacional de Otelo Saraiva de Carvalho e a sua dedicação e generosidade foram decisivas para o sucesso, sem derramamento de sangue, da Revolução dos Cravos. Tornou-se, por isso, e a justo título, um dos seus símbolos. Neste dia de tristeza honramos a memória de Otelo, como um daqueles a que todos devemos a libertação consumada no 25 de Abril e, portanto, o que hoje somos".