Morreu o "Companheiro Vasco"

por Agência LUSA
RTP

O antigo primeiro-ministro Vasco Gonçalves, que morreu hoje aos 83 anos, foi uma das figuras ligadas ao período revolucionário do 25 de Abril que mais paixões e ódios suscitou por ser um político controverso.

O "companheiro Vasco", como era aclamado nas manifestações de rua no "Verão quente" de 1975, foi chefe dos II, III, IV e V Governos Provisórios, entre 18 de Julho de 1974 e 10 de Setembro de 1975.

O seu nome surgiu nas manifestações e comícios populares do chamado PREC (Período Revolucionário em Curso) em slogans como "força, força, companheiro Vasco, nós seremos a muralha de aço".

O período em que chefiou o governo ficou conhecido por "gonçalvismo" e ficou marcado principalmente pelo combate aos monopólios e aos latifúndios.

A nacionalização da banca foi um dos emblemas da política dos governos de Vasco Gonçalves, que os seus amigos sempre consideraram um homem generoso.

Natural de Lisboa, o general Vasco dos Santos Gonçalves encontrava-se na reserva desde 15 de Dezembro de 1975.

Nas várias entrevistas e conferências que deu, disse sempre que Portugal seria muito melhor se tivessem prevalecido as ideias socializantes que defendeu e que considerou inseparáveis da democracia.

Oriundo da Arma de Engenharia, a oposição do general Vasco Gonçalves ao salazarismo é referenciada nos anos 50 e nos primórdios do "movimento dos capitães", que haveria de culminar, a 25 de Abril de 1974, no derrube do regime do Estado Novo, tendo sido um dos poucos oficiais superiores a apoiar os mais jovens militares.

Foi mais tarde o oficial de mais elevada patente na Comissão Coordenadora do Programa do Movimento das Forças Armadas (MFA).

Assumindo-se sempre como "um representante do MFA no Governo" enquanto ocupou as cadeiras do poder, Vasco Gonçalves - acusado pelos seus opositores de ser próximo do Partido Comunista Português (PCP) - acabaria por ser afastado sob a acusação genérica de incumprimento do ideário do MFA.

Não se considerou, no entanto, um homem vencido, manifestando sempre a vontade e a determinação de "continuar a lutar".

"Não sendo um homem de partido, Vasco Gonçalves adquiriu muito cedo um conhecimento dos clássicos do marxismo que lhe proporcionou uma compreensão científica da História que, na prática da vida militar, se traduzia numa consciência da necessidade de +formar homens responsáveis+ e num sentimento de solidariedade com o seu povo, vítima com os das colónias de um sistema monstruoso", escreveu o historiador Miguel Urbano Rodrigues.

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