Os moradores do prédio Coutinho, em Viana do Castelo, mostraram-se hoje "chocados e indignados" com o valor das indemnizações que o Programa Polis lhes quer atribuir pela demolição daquele polémico edifício de 13 andares.
"Oferecem-nos 1.037 euros por metro quadrado das nossas actuais casas acenando-nos em troca com outras casas, que eles próprios construíram, pelas quais teríamos que pagar 1.110 euros o metro quadrado", criticou Abílio Teixeira, da Comissão de Moradores do prédio Coutinho.
Segundo também disse, os moradores "ainda teriam de pagar para irem viver para um espaço com a mesma área".
Para este membro da Comissão de Moradores, trata-se de uma situação "inadmissível" que "vai dar ainda mais força à batalha judicial que a esmagadora maioria das cerca de 300 pessoas travará em defesa da manutenção dos seus lares".
"Não só nos querem tirar à força das nossas casas, como ainda nos querem obrigar a pagar para isso, pretendendo fazer crer que um metro quadrado num edifício como o nosso, com excelente vista para o rio, valesse menos do que as `gaiolas+ que nos querem impingir,", lamentou.
Abílio Teixeira adiantou que vai ser pedida uma audiência ao governador civil do distrito para o alertar para as "graves consequências sociais e humanas" que poderão advir da teimosia em demolir o edifício.
"Mais de 70 por cento das pessoas que aqui vivem têm mais de 60 anos e algumas delas garantem que não sairão de casa, preferindo morrer no meio dos destroços da demolição", referiu.
Os moradores que não quiserem ser realojados nas novas habitações podem optar por receber as indemnizações fixadas pelo Polis, mas Abílio Teixeira diz que, com o valor proposto, "ninguém consegue comprar uma casa condigna na cidade".
A Agência Lusa não conseguiu contactar os responsáveis do Polis, mas teve acesso à carta enviada aos moradores do "Coutinho" na qual se dá conta que cada uma das novas fracções inclui um lugar de estacionamento "sem que haja lugar a qualquer pagamento adicional".
A diferença do valor a pagar por metro quadrado poderá, assim, ser justificada pela oferta desse lugar de estacionamento, uma "mais valia" de que os moradores não dispõem no actual prédio.
Com perto de 30 anos, o prédio Coutinho está sob a ameaça do camartelo por ser considerado "o maior aborto urbanístico" do Centro Histórico da cidade.
Ao contrário dos anteriores governos do PSD, o actual ministro do Ambiente e antigo responsável nacional do Programa Polis, Nunes Correia, emitiu em Julho a declaração de utilidade pública necessária para o avanço das operações de expropriação e demolição do edifício.
Os moradores não se conformam e vão avançar "de imediato" com uma providência cautelar para suspender a eficácia daquela declaração.
"Mas, afinal, onde está a utilidade pública? Querem demolir um edifício construído legalmente, em excelente estado de conservação e onde moram 300 pessoas para em seu lugar construírem um supermercado de nabos? Isto é utilidade pública?", questionou Alcino Lemos, outro membro da Comissão de Moradores.
Alcino Lemos referia-se à possibilidade de ser construído no mesmo local o novo Mercado Municipal, já que o anterior foi demolido precisamente para dar lugar a um dos edifícios destinados a realojar os moradores do "Coutinho".
O presidente da Câmara de Viana do Castelo, Defensor Moura, já se manifestou convicto de que "dentro de seis meses" o prédio Coutinho estará demolido.