O ministro da Saúde, António Correia de Campos, reconheceu hoje a "dificuldade política" do encerramento de urgências, processo que procurou justificar perante os deputados socialistas e que disse estar a ser cuidado caso a caso.
No seu discurso nas jornadas parlamentares do PS, em Óbidos, sobre a "R eforma da administração do Estado", Correia de Campos assegurou que resistirá às pressões dos profissionais do sector da saúde contra as medidas do Governo, fri sando que este responde perante os portugueses.
"Não ignoro a dificuldade política do processo, a dificuldade de explic ar estes argumentos", afirmou o ministro da Saúde, na sua intervenção de mais de meia hora, dedicada sobretudo a expor os motivos para encerrar urgências e que nunca foi aplaudida pelos deputados socialistas.
"As urgências são um problema político", reforçou, alegando que isso se deve a serem "um valor mítico", entendidas como "uma porta aberta, uma luz aces a", confundidas com um "atendimento permanente", que "não é urgência".
"Se não fizermos esta reforma estamos a condenar conscientemente 400 mi l portugueses a estarem a mais de uma hora da urgência mais próxima" e com as mu danças em curso esse número vai baixar "para menos de 50 mil portugueses", apont ou.
O ministro frisou que há dois relatórios técnicos sobre o assunto e que "o segundo relatório não é a decisão final do Governo", que tomará "decisões na turalmente políticas" e "caso a caso".
"Nada será mudado em sítio algum se não houver melhor solução em cada u m dos casos. A solução tem de ser melhor do que a existente", sublinhou, referin do que a reforma vai "custar mais dinheiro" ao Ministério da Saúde e melhorar a qualidade dos serviços.
"Se os deixarmos como estão, estão condenados à morte lenta. Outros paí ses já fizeram o mesmo. Não é possível ter qualidade com pequena quantidade, sem uma economia de escala. Isto não é uma invenção nacional, é um movimento intern acional, não é uma originalidade lusitana", disse.
Ainda sobre o cuidado com cada caso, Correia de Campos adiantou que est á "paulatinamente a enumerar num papel todas as condições" que quer ver "replica das na lei para cada localidade", sem as quais "não se avança" com o encerrament o de urgências.
"Compromisso escrito, conversa com o presidente da câmara", resumiu. "N ão vou ter unanimidade, não tenho ilusões", prosseguiu, concluindo que a reforma dos serviços de saúde é "uma política verdadeiramente socialista".
No final da sua intervenção, o ministro acentuou que "é perante os port ugueses" que o Governo responde e não perante médicos, enfermeiros ou farmacêuti cos, que "têm o direito de fazer pressões".
"E nós temos o dever de resistir a essas pressões. Temos o dever de os ouvir e entender e também de resistir naturalmente às suas pressões", defendeu.
Em seguida, Correia de Campos comparou a reforma do sector da saúde a " um comboio, uma caravana em marcha, que conta com todos" e convidou "os parlamen tares, actores essenciais do processo político português, a entrarem a bordo".
"Mas atenção, os senhores são representantes dos passageiros, que são o s cidadãos, não são maquinistas nem revisores, quando muito o maquinista serei e u, os revisores serão os médicos", completou, sem suscitar reacções por parte do s deputados do PS.