Metade dos alunos a partir do 2.º ciclo passa quatro horas ou mais em frente a um ecrã

por Lusa
Alunos a partir do 2.º ciclo muito dependente do ecrã António Pedro Santos - Lusa

Mais de metade dos alunos a partir do 2.º ciclo passa, pelo menos, quatro horas em frente a um ecrã nos dias de semana, segundo um estudo divulgado hoje sobre o bem-estar e saúde psicológica das crianças e jovens.

A conclusão é da segunda edição do estudo do Observatório da Saúde Psicológica e do Bem-Estar (OSPBE) que, dois anos depois do primeiro relatório, voltou a olhar para a situação dos alunos portugueses, incluindo no que diz respeito ao estilo de vida.

Um dos aspetos analisados foi o tempo de ecrã e entre os 3.083 alunos do 2.º ciclo ao secundário avaliados, 52,8% passam quatro horas ou mais em frente de um ecrã nos dias de semana.

Reduzindo o tempo de ecrã para uma hora, a percentagem aumenta para 97,3%, sendo que o tempo de ecrã aumenta conforme a idade: os alunos do 12.º ano, passam, em média, quase cinco horas em frente a um ecrã e, no caso dos alunos do 5.º ano, a média não chega a três horas.

O cenário agrava-se ao fim-de-semana, quando 63,3% dos alunos passa, pelo menos, cinco horas diárias em frente a um ecrã. No caso dos mais velhos, esse tempo ultrapassa as seis horas.

A propósito destes números, o ministro da Educação, Ciência e Inovação reafirmou, durante a sessão de apresentação do relatório aos jornalistas, que o Governo vai avaliar, ao longo do ano letivo, o impacto da adesão das escolas à recomendação de proibir o uso de telemóvel nos 1.º e 2.º ciclo, referindo que o Ministério não tem ainda dados sobre o número de escolas que o fez.

Atividade física, fumo e álcool

Em relação ao estilo de vida, o estudo refere também que a esmagadora maioria dos alunos (94,5%) praticou atividade física, pelo menos, uma vez na semana anterior ao inquérito, sendo os alunos do 12.º ano e as raparigas que pratica menos horas semanais de desporto.

Nove em cada 10 alunos disseram não fumar e 76,4% relatam também não beber álcool, um hábito pouco frequente sobretudo entre as raparigas.

Vida socioemocional

O Observatório analisou também as competências socioemocionais dos estudantes, que se destacaram pela boa relação com os colegas, o otimismo e curiosidade.

Por outro lado, registaram-se valores mais baixos em competências que implicam gestão emocional, sobretudo no que diz respeito à ansiedade nos testes, havendo espaço para melhorar também competências como a persistência, criatividade, pertença à escola, relação com os professores e confiança.

Os alunos do 5.º ano apresentam resultados mais elevados em todas as dimensões, mas são os que apresentam níveis mais elevados de "bullying", enquanto os mais velhos, do 12.º ano, apresentam níveis mais baixos de sociabilidade, energia e sentimento de pertença à escola, mas também de "bullying".

Raparigas mais sociáveis que rapazes

Comparando por géneros, as raparigas destacam-se na cooperação com os colegas, melhor relação com os professores e mais ansiedade nos testes, e os rapazes tendem a ser mais otimistas, resilientes, confiantes e sociáveis, e têm maior controlo emocional, energia e sentimento de pertença à escola.

O estudo avaliou também o bem-estar de pais, professores e outros trabalhadores das escolas, mas, segundo a investigadora Margarida Gaspar de Matos, a baixa adesão não permitiu tirar conclusões significativas, tendo participado apenas 380 docentes, 53 psicólogos, 118 assistentes operacionais, administrativos e técnicos, 94 docentes com cargos de direção, gestão ou coordenação e 347 encarregados de educação.

Pandemia ultrapassada com facilidade

A maioria dos alunos a partir do 2.º ciclo já "virou a página" da covid-19 e muitos sentem que a vida pouco mudou depois da pandemia.

Uma das conclusões do relatório agora divulgado é que a generalidade das 6.112 crianças e adolescentes avaliados sente-se melhor: em dois anos, o número de alunos com "situações de alguma vulnerabilidade" passou de um terço para um quarto.

Um dos aspetos em que melhoraram relaciona-se com a pandemia da covid-19 que, apesar de ter marcado a sua infância e adolescência, foi considerada ultrapassada pela maioria.

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