Marega. Presidente da República apela ao bom senso e valores dos portugueses

por RTP
Marega foi, no domingo, alvo de insultos racistas durante o jogo entre FC Porto e Vitória de Guimarães Foto: Hugo Delgado - Lusa

Estão a multiplicar-se as reações aos insultos racistas contra Marega no domingo, durante o jogo entre FC Porto e Vitória de Guimarães. O Presidente da República condenou "veementemente" as manifestações de racismo e apelou ao "sentido cívico e bom senso dos portugueses" para que situações destas não se repitam.

“A minha posição é muito clara, é a posição (…) de condenação veemente de todas as manifestações de racismo, xenofobia, de discriminação”, frisou Marcelo Rebelo de Sousa na manhã desta segunda-feira, em declarações à RTP.

“Não apenas porque violam princípios éticos, como o respeito da dignidade das pessoas e dos seus direitos fundamentais, não só porque viola a Constituição, mas sobretudo o povo português sabe por experiência histórica como esse caminho do racismo e da xenofobia, uma vez aberto, conduz a recuos culturais, civilizacionais e a problemas graves de paz social. E todos perdem com isso”, considerou o Presidente.

Marcelo Rebelo de Sousa apelou aos “valores, sentido cívico e bom senso dos portugueses para que evitem escaladas num domínio em que todos perdem, instalando divisões”.

Para o Presidente, Marega demonstrou no domingo uma reação adequada aos insultos de que foi alvo. “A forma de reagir a provocações racistas não é entrar numa escalada de contraprovocações, isso mesmo mostrou ontem aquele que foi diretamente visado pelas manifestações racistas e que, com sentido cívico, soube responder como se deve responder, respeitando os valores que estavam a ser violados, manifestando esse respeito pela Constituição e também mostrando bom senso”, afirmou à RTP.

“É assim que se evita, entre nós, realidades que infelizmente têm acontecido noutras sociedades e que levam a perder todos, todos mas todos os portugueses”, acrescentou. “E nós não queremos ser perdedores neste tipo de questões fundamentais”.

Marcelo Rebelo de Sousa, que esteve de visita à Índia, apenas chegará na noite desta segunda-feira a Portugal, pelo que não esteve com Marega, mas não excluiu a possibilidade de transmitir pessoalmente ao jogador aquilo que pensa em relação ao sucedido no domingo.
António Costa considera Marega “um grande cidadão”
O primeiro-ministro português também expressou “total solidariedade” para com Marega. “Todos e quaisquer atos de racismo são crime e intoleráveis”, escreveu no Twitter.

Nenhum ser humano deve ser sujeito a esta humilhação. Ninguém pode ficar indiferente. Condeno todos e quaisquer atos de racismo, em quaisquer circunstâncias”, frisou António Costa.


“Total solidariedade com Marega, que no campo provou ser não só um grande jogador, mas também um grande cidadão”, acrescentou.

António Costa diz que Marega provou duplamente a sua capacidade, quer como jogador, quer como cidadão, ao dizer que "há limites para tudo e que é inaceitável este tipo de comportamento" nos recintos desportivos.

O chefe do Governo diz esperar que as autoridades "ajam como lhes compete", lembrando que há um quadro legal novo que permite uma punição mais severa em casos como este.

Por outro lado, António Costa defende um trabalho de fundo que promova os valores de defesa da dignidade humana, contra o racismo.
Rio preocupado com "intolerável aumento de violência no desporto"
O presidente do PSD considerou que o que se passou "tem óbvios contornos racistas", mas defendeu que evidencia, acima de tudo, "um intolerável aumento de violência no desporto".

Numa publicação na sua conta da rede social Twitter, Rui Rio refere-se à situação que envolveu o jogador de futebol do FC Porto Marega, que pediu para ser substituído, ao minuto 71 do jogo da 21.ª jornada da I Liga, por ter ouvido cânticos e gritos racistas de adeptos da formação vimaranense, numa altura em que os `dragões` venciam por 2-1, resultado com que terminaria o encontro.


"O que se passou ontem [domingo] no jogo Guimarães-Porto tem óbvios contornos racistas que chocam com os nossos valores; mas evidencia, acima de tudo, comportamentos primários, responsáveis por um intolerável aumento da violência no desporto que uma sociedade civilizada não pode tolerar", apontou.

PCP chama MAI ao Parlamento
O PCP vai tomar a iniciativa de chamar à Comissão de Direitos, Liberdades e Garantias o Ministro da Administração Interna, o Secretário de Estado do Desporto e a Liga de Clubes, sobre as medidas práticas a adoptar face a acontecimentos desta natureza nos recintos desportivos.

Em comunicado, o PCP refere que “mais do que palavras de condenação o que a situação desperta, para lá do horizonte desportivo, são os factores que abrem espaço a manifestações de racismo e xenofobia”.

O partido fala de uma “crescente exacerbação e fomento de conflitos raciais artificialmente inculcados na sociedade portuguesa a partir de diversas formas e agentes”.

BE questiona Governo sobre racismo
Face ao sucedido com Marega, o Bloco de Esquerda decidiu questionar o Governo sobre as “insuficiências na lei sobre violência e racismo no desporto” e exigir que se tomem ações diretamente sobre este caso para que não “caia no esquecimento”.

O partido relata que, na segunda parte do jogo de domingo, foram ouvidos “cânticos racistas dirigidos a Moussa Marega”, pelo que o atleta abandonou a partida. “Das bancadas, foi possível ouvir um conjunto de adeptos a imitar sons de macacos de cada vez que Moussa Marega estava na posse da bola”.

É imprescindível que todas as instâncias com responsabilidades desportivas e políticas condenem os atos e utilizem todos os instrumentos legais de que dispõem para apurar responsabilidades e aplicar as devidas sanções”, escreveu o partido no pedido de esclarecimento ao Governo.

O Bloco aproveitou para prestar “a sua total solidariedade para com Moussa Marega e para com todos que não desistem de fazer da prática desportiva uma casa da igualdade”.

O Partido Socialista veio entretanto condenar as agressões que “atentaram contra a dignidade de um grande desportista”.



“Há muita gente a mentir no futebol”
Do lado do Vitória de Guimarães, a administração do clube emitiu um comunicado no qual censurou “toda e qualquer manifestação de violência, racismo ou intolerância”, defendendo que “daí nada se alcança, senão mais violência, mais racismo e mais intolerância”.

“O Vitória Sport Clube vai averiguar o sucedido no decurso do jogo realizado no Estádio D. Afonso Henriques, agindo com firmeza e consequência, em cooperação plena com as entidades judiciais competentes”, garantiu o clube.

O treinador do clube minhoto, Ivo Vieira, esclareceu que não ouviu os insultos mas que, se tiverem de facto acontecido, se opõe aos mesmos.

“Eu condeno e não concordo com isso, acho que devemos respeitar, porque eu gosto também de ser respeitado”, afirmou Ivo Vieira no final do jogo de domingo, apesar de referir que não iria pronunciar-se de forma extensa sobre um assunto sobre o qual “não tem certezas” nem ouviu.

“Estou a ser muito sincero. E se ouvisse, condenava e falava sobre essas questões sem problemas nenhuns”, disse, acrescentando que “há muita gente a mentir no futebol”.

Também o presidente do Vitória de Guimarães, Miguel Pinto Lisboa, defendeu “a igualdade de raça” e condenou os comportamentos “provocatórios” dos adeptos.

Sérgio Conceição: “Nós somos uma família”
Após a partida, o treinador do FC Porto declarou que “o jogo passa para segundo plano” quando são verificadas atitudes racistas como as que ocorreram no domingo.

“Nós estamos completamente indignados com aquilo que se passou. Eu sei da paixão que existe aqui no Vitória pelo clube, mas penso que a maior parte dos adeptos não se revê na atitude de algumas pessoas que estavam na bancada a insultar desde o aquecimento o Moussa”, declarou Sérgio Conceição.

“Nós somos uma família, independentemente da nacionalidade, independentemente da cor da pele, da altura, da cor do cabelo, nós somos uma família. Nós somos humanos, nós merecemos respeito e, para mim, o que se passou é lamentável”, concluiu o treinador.
Insultos "envergonham o futebol"
A Liga Portugal emitiu, após o jogo, um comunicado no qual condena o “ato lamentável sucedido em Guimarães”.

“A Liga Portugal não pactua, nunca o fará, com atos de racismo, xenofobia, intolerância e qualquer outro que coloquem em causa a dignidade dos futebolistas, agentes ou, apenas, do ser humano”, esclarece a entidade.

A liga de clubes escreve ainda que “os valores do futebol não são compatíveis com o que se passou” na noite de domingo, quando “um atleta não suportou mais os insultos que estava a ser alvo e optou por abandonar o jogo”.

“Estes atos envergonham o Futebol e a dignidade humana”, acrescenta. “A Liga Portugal tudo fará para que este, e todos os episódios de racismo, não fiquem impunes, acreditando que esta é uma luta sem cores e onde todos são decisivos para a irradicação deste flagelo”.
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